Na última semana o país se chocou com um vídeo que mostra um policial militar jogando um homem do alto de uma ponte da cidade de São Paulo. A vítima de 25 anos sobreviveu à queda. Parecido com o caso paulista, em maio deste ano Vladimir Abreu de Oliveira, 41 anos, foi jogado por policiais militares na água de cima de uma ponte — a do vão móvel do Guaíba, na BR-290. Neste caso, a vítima não sobreviveu.
Segundo o Ministério Público do Rio Grande do Sul, Vladimir foi torturado e morto por quatro brigadianos: o 2º sargento Felipe Adolpho Luiz e os soldados Lucas da Silva Peixoto, Maicon Brollo Schlumpf e Dayane da Silva Souza. Destes, apenas os dois primeiros permanecem presos.
O crime
Na madrugada de 18 de maio, Vladimir foi abordado por policiais do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM) quando chegava em casa, no condomínio Princesa Isabel, na área central de Porto Alegre. Segundo a investigação feita pela própria Brigada Militar, os policiais teriam torturado Vladimir até a morte. O relatório do inquérito policial militar (IPM) aponta que o objetivo seria que ele falasse “acerca da localização de armas e drogas localizadas no Condomínio Princesa Isabel”.
O corpo de Vladimir foi encontrado dois dias depois, na beira do Guaíba, no bairro Ponta Grossa, extremo sul da Capital, cerca de 10 quilômetros de onde teria ocorrido a abordagem. A viatura utilizada pelos PMs teria ficado parada 42 minutos na ponte, no ponto onde o corpo de Vladimir teria sido arremessado na água. O fato motivou um protesto que acabou com dois ônibus queimados na Capital.
Investigação
Segundo o inquérito da Brigada Militar, o 2º sargento Felipe Adolpho Luiz e o soldado Lucas da Silva Peixoto, teriam torturado Vladimir até a morte. Outros dois soldados, Maicon Brollo Schlumpf e Bruno Pinto Gomes foram indiciados por terem deixado de intervir nas agressões e a soldado Dayane da Silva Souza por não ter acionado socorro.
A Justiça Militar entende que “não há indícios ou elementos de prova que indiquem que os investigados tenham agido com o dolo (intenção) de matar”. A conclusão é de que se trata de um caso de tortura com morte, o que daria seguimento ao fato na esfera militar.
Entretanto, o Ministério Púbico, com base nos inquéritos das polícias civil e militar, denunciou Felipe Adolpho Luiz, Lucas da Silva Peixoto, Maicon Brollo Schlumpf e Dayane da Silva Souza pelo homicídio qualificado, “mediante socos, chutes e golpes de instrumento contundente, causando-lhe sofrimento físico e mental”, e pela ocultação de cadáver de Vladimir. As qualificadoras foram: motivo torpe com emprego de meio cruel tortura e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima.
Conforme a denúncia, o motivo torpe pelo qual os quatro denunciados cometeram o delito foi “em razão de a vítima não lhes ter informado locais em que criminosos guardavam armas e drogas, informação que supunham ser do conhecimento do ofendido.” O MP não considerou que Vladimir fosse um dos criminosos e nem deu certeza se ele teria conhecimento da informação pela qual foi torturado para revelar. Além disso, a denúncia afirma que “impuseram à vítima intenso sofrimento físico diante da desmedida reiteração de golpes e, em seguida, deixaram o ofendido gravemente ferido ao relento sobre a Ponte Móvel do Guaíba, em noite fria e chuvosa, revelando brutalidade fora do comum”.
A audiência de instrução do caso está marcada para fevereiro de 2025, quando serão ouvidas as testemunhas do Ministério Público e da defesa, e os réus serão interrogados. Atualmente apenas o sargento Felipe e o soldado Lucas permanecem presos.
* Produção: Camila Mendes