A oferta de televisores à venda abaixo do preço de mercado foi o que atraiu a atenção de um morador da Região Metropolitana para a loja virtual Tá Di Zuera. Segundo investigação da Polícia Civil, a loja seria gerenciada pelo humorista e influenciador Dilson Alves da Silva Neto, Nego Di, e por seu sócio, Anderson Boneti.
A vítima, de 46 anos, que prefere não se identificar, comprou uma TV de 65 polegadas por R$ 2,3 mil pelo site após ver a propaganda feita por Nego Di. Depois de efetivar a compra, ela conta que chegou a receber um e-mail de confirmação. Já o produto, jamais foi recebido.
— É revoltante. Porque tu acredita em uma pessoa que tem uma imagem pública, que se diz correta, que está beneficiando outras pessoas, que está vendendo por preço baixo. É decepcionante — lamenta.
A prisão de Nego Di por suspeita de estelionato, foi motivada por uma investigação iniciada em 2022. Ele e o sócio, que segue foragido, são suspeitos de ter vendido produtos de sua loja online, que nunca teriam sido entregues a mais de 300 clientes.
Credibilidade
Em 2022, um empresário de 52 anos, morador da Região Metropolitana, recebeu, pelas redes sociais, o anúncio de um ar-condicionado de 18 mil btus que custava R$ 999. Ele conta que hesitou ao ver o preço baixo, mas decidiu comprar pelo menos uma unidade já que a propaganda era feita por Nego Di, que recentemente havia participado do Big Brother Brasil 21.
— Só comprei pela credibilidade dele. Pensei que ele não iria se queimar assim, estando com visibilidade nacional — pontua.
No entanto, ao perceber que as mercadorias não chegavam, o empresário procurou a Tá Di Zuera e a transportadora responsável pela entrega. Ele conta que ocorreram diversas mudanças nas datas de entregas e que não conseguia localizar o código de rastreamento do produto.
Contudo, no atendimento via WhatsApp, ele recebia áudios com uma voz que seria de Nego Di, afirmando que as mercadorias seriam entregues.
“Alô infernautas. Bateu o pavor, né? Acordou, viu que os guri não estão ali no Instagram. Mas os guri estão sempre se atrapalhando, os guri são polêmico. Mas seguinte, pode ficar tranquilo que o teu ar vai chegar. Até porque eu não tenho onde me esconder. Tô todo dia na Casa Dus Guri, vou na academia, vou no mercado, vou no dominó, vou em todas feição. Pode me achar em qualquer lugar”, dizia um dos áudios recebidos pela vítima.
Ele registrou o caso junto à Polícia Civil em Canoas e recorda que havia diversas outras vítimas do golpe aguardando para fazer o boletim de ocorrência pelo mesmo motivo.
Teve gente que teve prejuízo de R$ 20 mil. Pessoas desesperadas, arrasadas. Não tenho esperança de receber esse dinheiro que perdi, mas denunciei com intuito de ver ele preso, porque ele lesou muitas pessoas
EMPRESÁRIO, 52 ANOS.
Vítima do golpe da empresa Tá Di Zuera.
R$ 30 mil de prejuízo
Em março de 2022, um cliente da Tá Di Zuera – que também se tornou vítima do esquema – deparou-se com o mesmo anúncio de ar-condicionado com preços baixos. Ele conta que precisava de dinheiro para quitar um tratamento médico e viu, na aquisição dos aparelhos, uma oportunidade.
O homem conta que fez um empréstimo bancário de aproximadamente R$ 30 mil para comprar 33 aparelhos, que seriam revendidos. Passados os prazos de entrega, ele entrou em contato com a loja. Segundo ele, quem o atendeu foi um homem chamado Anderson que lhe dava, a cada ocasião, uma nova desculpa.
— Fornecedor atrasado, empresa de transportes quebrou contrato, etc. Porém, o Nego Di voltava à sua rede social e pedia que tivéssemos tranquilidade, que não era golpe, que a loja era dele e que podíamos confiar — lembra a vítima.
Ele lembra que passou a participar de grupos em aplicativos de mensagens com outras pessoas que sofreram o golpe. Contudo, a pressão pela dívida contraída passou a afetar a sua saúde.
— Eu já estava em um nível de depressão grande, com a dívida do empréstimo já vencida e sem saber o que fazer. Desempregado e com a família dependendo de mim. No entanto, fui amparado — lembra.
Segundo a vítima, Nego Di soube de sua história e o contatou, prometendo resolver a situação. Contudo, os produtos nunca foram recebidos, tampouco o valor quitado via pix. Ele afirma que ficava revoltado ao ver o influenciador compartilhando viagens e ostentando uma vida de luxo nas redes sociais, enquanto havia diversas pessoas esperando por ressarcimento.
— O tempo passou, me recuperei física, mental e psicologicamente, mas o buraco financeiro ainda não foi superado. Fiquei muito grato pela prisão do Nego Di e tenho a esperança de que ele ficará preso e pagará pelos seus atos. E espero reaver meu dinheiro com os bens apreendidos e contas bloqueadas.
O que diz a defesa de Nego Di
Os advogados Ronaldo Eckhardt, Hernani Fortini, Jefferson Billo da Silva, Flora Volcato, Clementina Ana Dalapicula e Sofhia Rech Couto, que representam Nego Di, se manifestaram a respeito do habeas corpus por meio de nota. Sobre qual seria a participação do humorista no golpe, a defesa diz que vai "se manifestar em breve". Veja a nota na íntegra abaixo:
"Gostaríamos de informar que, até o momento, apenas a liminar do habeas corpus foi indeferida. Todavia, a defesa de Dilson Alves da Silva Neto (NegoDi) mantém a confiança de que o Poder Judiciário verificará a desnecessidade da prisão preventiva neste momento, considerando os fatos e as circunstâncias do caso.
Acreditamos na justiça e estamos certos de que a análise aprofundada do processo demonstrará que a manutenção da prisão preventiva não se justifica."
Entenda o caso
- A investigação aberta em 2022 aponta o humorista como suspeito de ter vendido produtos de sua loja online, a Tá di Zuera, que não teriam sido entregues aos clientes.
- À época, o humorista prestou depoimento à polícia e alegou ter sido vítima de estelionato praticado pelo então sócio, Anderson Boneti, que, segundo a versão dele, seria o verdadeiro proprietário da loja. O ex-BBB alegou ter sido contratado para fazer propaganda para a loja.
- No entanto, no entendimento da Polícia Civil, o humorista tinha conhecimento dos casos de estelionato.
- A investigação durou cerca de um ano e analisou o conteúdo de 73 vídeos e 370 ocorrências policiais por suspeita de estelionato.
- Em agosto de 2023, Nego Di foi indiciado junto com Boneti. Ao encaminhar o inquérito à Justiça, a polícia também pediu as prisões de ambos.
- A decisão da juíza Patrícia Pereira Tonet, da 2ª Vara Criminal de Canoas, pela prisão do humorista por estelionato foi tomada na última sexta-feira (12), mesmo dia no qual Nego Di e sua companheira foram alvos de outra operação, esta do Ministério Público, em Santa Catarina, que apura lavagem de dinheiro.
- Na decisão, a juíza apontou que a prisão foi definida pois, segundo o Ministério Público, Nego Di e o sócio teriam seguido “na prática criminosa” e demonstravam ter recursos que possibilitariam uma fuga.
- Nego Di foi preso no domingo (14) em Santa Catarina e segue detido na Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan). Anderson Boneti é considerado foragido pela polícia, e segue procurado.
- A defesa do influenciador entrou com pedido liminar de liberdade por meio de habeas corpus, que foi negado pela Justiça. A solicitação ainda será analisada pelo colegiado.