A Polícia Civil recebeu até o momento pelo menos 373 registros de consumidores que acreditam terem sido vítimas de golpe de uma loja online. Entre os investigados no caso está o humorista Dilson Alves da Silva Neto, o Nego Di. Em suas redes sociais, o ex-BBB fez anúncios dos produtos e chegou a afirmar que era proprietário da Tá di Zuera. Atualmente, ele nega ser o dono e diz que foi contratado somente para fazer propaganda.
O caso está sob investigação da 1ª Delegacia de Polícia de Canoas, onde são ouvidos os clientes. Na última segunda-feira (1º) foi realizado mutirão, segundo o delegado Rafael Pereira, para escutar relatos de 52 vítimas. Além dos depoimentos, a apuração está na fase de reunir documentos sobre a suspeita de estelionato. A maior parte das compras foi realizada entre os meses de março e abril e o pagamento dos produtos foi feito por pix ou boleto.
— As vítimas todas têm histórias muito semelhantes — afirma o delegado.
Morador de Cachoeirinha, na Região Metropolitana, Fábio Santos Rosa, 40 anos, foi um dos que procurou a polícia para registrar o caso. Entre março e abril deste ano, utilizou as economias que havia juntado para fazer a festa de aniversário de sete anos da filha para comprar três aparelhos de ar condicionado de 12 mil btus e quatro televisores de 65 polegadas. O valor total desembolsado foi de R$ 11.157,70 em produtos que ele esperava revender.
— Minha filha sempre quis uma festa grande. Só fiz de um ano, que ela não aproveitou muito. Agora, com sete, ia fazer uma festa bem maior. Minha intenção era aumentar o dinheiro. Acabei ficando sem os produtos e sem o dinheiro — lamenta.
O motorista afirma, assim como outros consumidores, que só adquiriu os produtos em razão dos anúncios realizados pelo humorista, que afirmava nas redes sociais ser um dos proprietários.
— Acreditei numa figura pública, que eu jamais pensei que ia dar um golpe. Se ele estivesse fazendo publicidade para alguém, jamais ia comprar. Percebi que era golpe quando ele ficou sumido das redes sociais. Comecei a ficar preocupado, que não iria chegar meus produtos — diz.
De Lajeado, no Vale do Taquari, Jéssica dos Reis Saldanha, 31, ficou sabendo pelas redes sociais do humorista sobre as promoções. Decidiu adquirir um ar-condicionado de 18 mil btus pelo qual pagou R$ 999,90 no fim de março.
— Infelizmente, fomos enganados — lamenta.
Em 21 de julho, Nego Di disse em vídeos publicados nas redes sociais que não recebeu nada com as vendas, mas que, mesmo assim, se mobilizaria para pagar voluntariamente os clientes que foram lesados após comprarem em razão dos anúncios realizados por ele. Afirmou que havia vendido um carro e desde então vem divulgando comprovantes de pagamentos. Katri Juliana Umpierrez Coelho, 47, de Canoas, na Região Metropolitana, está entre os clientes que aguardam receber.
A auxiliar de escritório conta que também acompanhava o trabalho de Nego Di nas redes sociais. Por isso, decidiu comprar dois aparelhos de ar condicionado, um no valor de R$ 799,00 e outro por R$ 999,00 também no fim de março. Ela reclama que as devoluções tem acontecido de forma lenta.
— Até o momento, não fui ressarcida de nada. Com o dinheiro vendido do carro dele, daria para pagar muita gente, mas até agora ele não pagou nem 10% das pessoas, e eu sou uma delas. O medo de todos nós é que o tempo passe e não recebamos mais nada. Eu ainda acredito que ele tomou o golpe, mas o medo de não receber é maior sabe — afirma.
R$ 70 mil pagos aos clientes, diz defesa
Na última terça-feira (2), o humorista fez novas publicações em suas redes sociais com comprovantes de pagamentos realizados para consumidores. Segundo o advogado Hernani Fortini, um dos responsáveis por representar o humorista no caso, foram pagos em indenizações cerca de R$ 70 mil para 50 pessoas. A defesa sustenta que o cliente também foi vítima e que não precisaria fazer os pagamentos, sem antes ser responsabilizado pela Justiça.
— A ação adotada é em razão da confiança pelo uso de sua imagem — diz.
Conforme a defesa, é necessário verificar e validar cada documento, antes de realizar o pagamento, já que haveria pessoas fingindo ter adquirido os produtos para receber algo. O advogado diz que no momento não é possível prever quanto tempo levará o reembolso dos consumidores porque não se sabe até agora o valor total das pessoas lesadas e nem mesmo quanto será possível arrecadar para fazer a devolução.
Os advogados conseguiram na Justiça que o site da loja Tá di Zuera fosse retirado do ar. Quando foi ouvido na polícia, em depoimento que durou cerca de sete horas, o humorista apontou um empresário como o proprietário da loja. A polícia não informou ainda se já ouviu outros investigados do caso.
Advogado de vítimas
O advogado Guilherme Moraes, responsável por representar parcela dos consumidores, afirmou por nota que se reuniu com a defesa do humorista para debater as formas como os ressarcimentos seriam realizados, mas que ainda aguarda a apresentação de uma ordem de pagamentos e de estimava de tempo para as transações. O criminalista reforça, no entanto, que embora exista esse movimento de pagamentos às vítimas, o caso segue sob investigação da polícia.
“Cumpre esclarecer, ainda, que os valores ressarcidos aos ofendidos - mesmo podendo vir a demostrar um comportamento nobre da parte do investigado Dilson e sua defesa - não impede que todos os envolvidos no delito sejam indiciados e, posteriormente, processados criminalmente", afirma na manifestação.
Qual a orientação para pedido de reembolso
A orientação repassada pelo humorista e sua defesa para os compradores segue sendo a de enviar e-mail para estornosnegodi@gmail.com, com dados como nome completo, dados bancários, nota ou comprovante de compra. Se houver processo aberto, a solicitação é para que envie o número e também contato de advogado.
Quem foi vítima
A Polícia Civil orienta os consumidores a registrarem o fato por meio de ocorrência. É possível procurar qualquer delegacia, a Delegacia Online ou buscar diretamente a 1ª Delegacia de Polícia de Canoas.