Na noite desta sexta-feira (15), cerca de 20 pessoas se reuniram em frente a um bar no bairro Sarandi, em Porto Alegre, para protestar contra o humorista e ex-BBB Dilson Alves da Silva Neto, o Nego Di, que seria sócio do local. O motivo das reclamações foi para cobrar o artista pelo não recebimento dos produtos comprados na loja virtual Tá Di Zuera, da qual os manifestantes acreditam que ele seria um dos proprietários.
No local, os consumidores ficaram por cerca de uma hora, gritando palavras como "canalha" e "golpista", enquanto pediam o dinheiro de volta. A Brigada Militar chegou a ser acionada, mas como a manifestação foi pacífica, não houve confronto e ninguém foi preso. Uma das participantes do protesto era a estudante Victoria Meneses, que comprou para a sua mãe, Sheila Meneses, uma televisão smart de 70 polegadas pelo valor de R$ 2.490, em abril, mas até agora não recebeu o produto.
Ela garante que decidiu comprar o aparelho junto à loja da qual Nego Di se dizia proprietário por acreditar que ele, por ser uma pessoa pública, não iria aplicar um golpe em seus seguidores.
— Na minha cabeça, ele não iria enganar as pessoas, por ser alguém que também é possível encontrar na rua, no mercado. E ele dizia que queria proporcionar para as pessoas humildes e pobres, como ele era, coisas boas — explicou Victoria.
Porém, ela enfatiza que se deu conta que não receberia os produtos quando descobriu, no site Reclame Aqui, dezenas de denúncias contra a loja virtual (hoje, já são mais de 250) e, em seguida, grupos de WhatsApp nos quais diversas pessoas que se diziam lesadas pelo humorista. No total, os espaços virtuais do aplicativo de mensagens, somados, contam com mais de 500 pessoas, que afirmam que a Tá Di Zuera deixou de responder as mensagens e passou a bloquear os contatos dos clientes.
Nos grupos, é possível encontrar pessoas de diversos Estados. Em um dos relatos no aplicativo de mensagens, um homem da cidade de Pelotas chegou a dizer que pensava em se suicidar, por ter tido um prejuízo de R$ 26 mil, quantia que conseguiu por meio de um empréstimo, para comprar 35 aparelhos de ar-condicionado pela loja virtual.
Para as vítimas do suposto golpe, um vídeo em que o influenciador digital é filmado dirigindo uma BMW conversível, publicado no mês passado, no qual os seus amigos ao fundo ficam zombando dos compradores dos eletrodomésticos foi "a gota d'água".
— Bobinhos do guri. Ninguém mandou comprar televisão, ninguém mandou comprar ar-condicionado. Bateu, os guris não querem nem saber. Olha o ar chegando — dizia um amigo de Nego Di, que registrava a cena, aos risos.
— Tá chegando, devagarinho, mas tá — completou o humorista, que estava sendo gravado.
Em vídeos nas redes sociais, Nego Di chegou a afirmar, mais de uma vez, que a Tá Di Zuera era dele e que não se tratava de golpe. Os denunciantes salvaram as publicações do humorista e usaram para rebater os depoimentos. Após as acusações, ele foi às redes sociais mostrar que o CNPJ da empresa não estava em seu nome, mas, sim, no de Anderson Boneti, e afirmando que também havia sido vítima.
O delegado da 1º DP de Canoas, Rafael Pereira, aponta que a delegacia está com inquérito instaurado para investigar possível crime de estelionato e não sabe precisar quantas denúncias já foram feitas, mas destaca que há vítimas da loja do país inteiro.
— A Polícia Civil apura um estelionato. Para mim, ser o Nego Di ou ser uma pessoa que mora na esquina é a mesma coisa, vamos agir da mesma forma. Se ficar configurado o dolo, por parte dele ou de quem quer que seja, vai ser feito o indiciamento — afirma o delegado.
Segundo Pereira, neste primeiro momento, a Polícia Civil está priorizando ouvir as vítimas, seguindo o rito que faz o inquérito funcionar. O delegado aponta que o humorista deve ser ouvido na semana que vem.
O que diz Nego Di
A reportagem entrou em contato com a produtora que representa o comediante, que afirma não ter "nenhum vínculo com a loja em questão". O responsável pela empresa, que não quis se identificar, esclareceu que a situação das denúncias está sendo averiguada, "uma vez que o Dilson era mera publicidade da loja e não recebeu nenhuma quantia pelas vendas".
Além disso, o representante da produtora apontou que o "sócio-proprietário — único sócio da empresa — se utilizou da imagem do Dilson, prejudicando centenas de pessoas e provavelmente se beneficiando indevidamente".
O responsável pela produtora ainda disse que a assessoria jurídica do humorista "está em contato com a autoridade policial, buscando agilizar a investigação para que o mais breve possível sejam retidos esses valores para ressarcir todos os envolvidos". O representante ainda disse que, no momento, Nego Di não irá dar entrevistas "até saber a real situação do processo, investigação e afins. E, quando for o momento, será por meio da assessoria jurídica dele. Mas haverá esse momento".
O escritório Fortini & Volcato Advogados, que representa Nego Di, emitiu a seguinte nota:
"Dilson Alves da Silva Neto, conhecido profissionalmente pelo nome artístico Nego Di, foi contratado para realização de publicidade da loja virtual chamada Tá di Zuera. Ocorre que existem atrasos nas entregas da loja e falta de retorno adequado aos consumidores. Diante disto, passou a receber ataques nas redes como se proprietário fosse ou tivesse a administração e gerenciamento da referida loja.
Diante destes fatos, sua assessoria jurídica está averiguando a situação, já estando em contato com a autoridade policial para ter acesso ao inquérito, bem como para colaborar com a investigação e acelerar a elucidação dos fatos.
Por fim, estamos à disposição para quaisquer esclarecimentos aos consumidores."