A Secretaria da Segurança Pública do Rio Grande do Sul divulgou na manhã desta terça-feira (5) os indicadores de criminalidade do mês de fevereiro. Os homicídios apresentaram queda tanto no Estado, como na Capital, no comparativo com o mesmo período de 2023. Outro crime que também apresentou redução foram os latrocínios. Pela primeira vez na série histórica, o índice de roubo com morte encerrou o segundo mês do ano sem nenhum registro. Já os feminicídios mantiveram o mesmo número de casos de fevereiro do ano passado.
No Estado, foram registrados 151 assassinatos em fevereiro, enquanto no mesmo período do ano passado tinham sido 163 vítimas — a redução é de 7%. Segundo a SSP, foi realizado trabalho de acompanhamento diário dos indicadores, e reforçadas operações para combater os delitos praticados pelo crime organizado, especialmente as execuções.
— Tivemos uma resposta rápida das forças de segurança para retomar a queda nos crimes contra a vida. As ações da Brigada Militar e da Polícia Civil foram efetivas para a redução dos crimes violentos no Estado — avalia o secretário da Segurança Pública, Sandro Caron.
— Retomamos em fevereiro o viés de baixa dos crimes em relação ao ano anterior. Tivemos um janeiro atípico. Isso que em fevereiro tivemos um dia a mais do que no ano passado, mesmo assim conseguimos ter uma redução muito considerável nos homicídios. Intensificamos os trabalhos de investigação, prendemos quadrilhas, mandantes, executores, houve a transferência de lideranças para isolamento. Além do trabalho conjunto com a Brigada Militar na saturação dos locais conflagrados — complementa o chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré.
Um dos pontos que mais preocupa o Estado no momento em razão do aumento nos homicídios é Caxias do Sul, na Serra. As disputas entre facções criminosas levaram a cidade a ter alta significativa nos homicídios em janeiro, quando foram registrados 15 assassinatos. Já em fevereiro, segundo a SSP, foram 13 casos, ainda um a mais do que no mesmo período do ano passado.
Segundo o secretário da Segurança Pública, Sandro Caron, foram adotadas diversas medidas em Caxias do Sul na tentativa de controlar os assassinatos, como reforço das investigações de homicídios, de capturas de foragidos e de saturação das áreas conflagradas pelo tráfico de drogas. A Brigada Militar segue com a chamada Operação Cerco Fechado, que resultou em 173 presos em flagrante, 39 foragidos do sistema prisional capturados, além de drogas e 40 armas apreendidas. Na semana passada, a Polícia Civil realizou a segunda fase da Operação Matriz, que resultou em mais 17 prisões — no fim de fevereiro já tinham sido capturados 61 foragidos.
— Caxias do Sul segue sendo o foco de maior atenção. Nós temos uma equipe de delegado e agentes do DHPP, da Polícia Civil de Porto Alegre, que foram lá reforçar as ações de combate a homicídios. Temos também uma equipe do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), em especial da Delegacia de Capturas, que foi pra Caxias também e vem dando apoio aos colegas da Polícia Civil de lá. E tem reforços permanentes da Brigada, com equipes do Choque, do BOP e da Patres (Patrulhas Especiais de Segurança) se somando aos profissionais que já atuam em Caxias do Sul. Temos também reforço com aeronaves — resumiu Caron sobre as ações realizadas no município.
— Nas zonas em que temos incidência de homicídios, já verificada pela análise criminal, temos atuado com inteligência junto da Polícia Civil e com complemento de tropas especializadas nas cidades que tem essa anomalia. Caxias do Sul é um grande exemplo disso, onde temos uma operação permanente desde o dia 1º de fevereiro. Essa fórmula se reproduz em Santa Maria e Passo Fundo. E em cidades que até então não tínhamos muita incidência, como Quaraí, e outros municípios da Região Metropolitana, como Canoas e Viamão. É uma constante análise e adoção de recursos extras para que se consiga manter o Estado sempre seguro — afirma o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Cláudio dos Santos Feoli.
Segundo Caron, apesar do número, os homicídios vem caindo desde a segunda metade de fevereiro em Caxias do Sul em razão das ações que estão sendo realizadas pelas equipes de segurança. O objetivo, segundo ele, é "manter essa pressão operacional, com foco no combate ao crime organizado e ao narcotráfico, que é o que ocasiona os homicídios", para conservar a diminuição desses crimes.
— Vamos manter a pressão também em Passo Fundo, Santa Maria, Pelotas, Canoas — frisou.
Homicídios caíram pela metade na Capital
A Capital teve queda mais expressiva nos homicídios, com redução de 50%, de 24 para 12 assassinatos. Em janeiro, os assassinatos tinham apresentado aumento de 32% em Porto Alegre — de 22 para 29 casos. Mas em fevereiro os números voltaram a cair.
— Em janeiro, alguns conflitos do crime organizado e algumas situações de aumento de homicídios em outros contextos, que chamamos de passionais, levaram ao aumento. Tomamos as mesmas medidas que vêm sendo adotadas desde fevereiro de 2023. Envolve saturação das áreas de conflito, revistas em presídios, transferências estaduais de lideranças, responsabilização de líderes, operações especiais e de lavagem de dinheiro. O mês de fevereiro tem um resultado muito importante, histórico. É uma queda muito brusca — afirma o diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, delegado Mario Souza.
Neste momento, a Polícia Civil faz uma análise dos homicídios ocorridos em fevereiro, para identificar quais casos estão relacionados ao crime organizado, por disputas e desavenças envolvendo o tráfico de drogas, e quais apresentaram outras motivações. Entre o fim de fevereiro e o começo deste mês, dois foragidos, apontados como lideranças do crime organizado, envolvidos em conflitos que geraram homicídios, foram presos pelo DHPP.
Em 22 de fevereiro, foi detido em Santa Catarina Maicon Donizete Pires dos Santos, o Red Nose. Ele é suspeito de estar envolvido num conflito que gerou uma série de homicídios na Capital e na Região Metropolitana. Neste caso, segundo a polícia, o criminoso teria dado um "golpe de Estado" na facção da qual fazia parte.
Foi preso no fim de semana Luís Guilherme Dias da Silva, o LG, em Torres, no Litoral Norte. Ele também é apontado como uma das lideranças do crime organizado, e era procurado pela polícia havia cerca de um ano. Os dois tinham atuação, segundo a polícia, na zona norte da Capital.
— Acreditamos que essas prisões no fim de fevereiro e agora no início de março, dessas lideranças do crime organizado, que são apontadas como as mais envolvidas em homicídios e conflitos do crime organizado, vão continuar influenciando para um cenário de manutenção de queda na Capital — afirma Souza.
Roubos com morte
Um indicador que apresentou redução bastante significativa é o de latrocínio. Pela primeira vez na série histórica, desde 2010, o RS encerrou o mês de fevereiro sem nenhum registro deste crime. Enquanto no mesmo período de 2023 tinham sido sete casos de assaltos com morte no Estado. Um dos fatores apontados como essenciais para a redução dos latrocínios é o combate aos assaltos em suas diferentes modalidades.
— O latrocínio teve uma diminuição altíssima porque prendemos várias quadrilhas envolvidas nos roubos de veículos e roubos a pedestres. O latrocínio é um crime que surge muitas vezes como resultado desses roubos, que não dão certo e terminam com a morte da vítima. Como estamos cada vez mais diminuindo esses roubos, chegamos a esse número nos latrocínios — avalia o delegado Sodré.
Pelo sexto mês consecutivo os roubos a pedestres registraram o menor total da série histórica, em comparação a qualquer outro mês já registrado, com 1.236 casos em fevereiro. A queda ocorre desde setembro de 2023. Em relação a fevereiro de 2023, quando foram registrados mais de 2 mil casos, a redução é de 43%.
Os roubos de veículos também tiveram o menor número de casos da série histórica para fevereiro. Foram 271 roubos desse tipo no Estado em fevereiro, uma queda de 16% no comparativo com o mesmo período do ano passado.
— Essa redução de roubos está ligada às abordagens de rua. São as abordagens que o policial militar faz no cotidiano que apreendem as armas que matam. Os homicídios reduzem através disso e os latrocínios consequentemente. Sempre atuamos dentro da análise criminal nos locais de maior incidência, e agregando aí os dados de inteligência, o policial militar tem condições de verificar os indivíduos que têm já atitude suspeita, ou que são suspeitos, diante desse contexto todo, o que enseja as abordagens e retirada de armas das ruas — afirma o comandante-geral da BM.
Em fevereiro deste ano, a Brigada Militar apreendeu no Estado 443 armas de fogo — sendo dessas cinco fuzis e três submetralhadoras.
Feminicídios repetem número
Já os assassinatos de mulheres em contexto de gênero repetiram o mesmo número de casos de fevereiro do ano passado, segundo a SSP. Foram seis. Em janeiro, os feminicídios tinham apresentado alta no Estado.
Os casos registrados em fevereiro aconteceram principalmente no Interior. As cidades que registraram feminicídios foram Portão, Xangri-lá, Bagé, Viamão, Soledade e Roque Gonzales.
Ainda em fevereiro, outros casos de violência contra uma mulher e uma bebê foram registrados no Estado, mas não são contabilizados como de femincídio. Em Gravataí, na Região Metropolitana, ocorreu a morte de uma mulher pelo namorado, mas o caso é investigado pela Delegacia de Homicídios. Em Porto Alegre, uma bebê de um ano também morreu após ser vítima de estupro e o padrasto foi preso. O homem foi indiciado por homicídio qualificado e estupro de vulnerável.
— O feminicídio é um crime que preocupa sempre. O que buscamos é incentivar e conscientizar cada vez mais as mulheres para que denunciem, procurem as autoridades. A maioria das vítimas ainda morre sem ter medida protetiva ou sem ter sequer registrado alguma ocorrência anterior — avalia o chefe da Polícia Civil.
O Mapa dos Feminicídios de 2023, produzido pela Divisão de Proteção e Atendimento à Mulher (Dipam) da Polícia Civil, mostrou que das 87 vítimas desse crime em 2023 no Estado, 57,5% não tinham registrado ocorrência policial contra o autor do crime anteriormente. Do total de mulheres, 82% não tinha medida protetiva vigente na data do crime — a mais comum é a medida judicial que determina que o agressor se mantenha afastado da mulher.
Prevenção ao feminicídio
- Se estiver sofrendo violência psicológica, moral ou mesmo física, busque ajuda imediatamente. Não espere a violência evoluir. Converse com familiares, procure unidades de saúde, centros de referência da mulher ou a polícia. É possível acessar a Delegacia Online da Mulher
- Caso saiba que alguma mulher está sofrendo violência doméstica, avise a polícia. No caso da lesão corporal, independe da vontade da vítima registrar contra o agressor, dado a gravidade desse tipo de crime
- Se estiver em risco, procure um local seguro. Em Porto Alegre, por exemplo, há três casas aptas a receberem mulheres vítimas de violência doméstica
- Siga todas as orientações repassadas pela polícia ou pelo órgão onde buscar ajuda (Ministério Público, Defensoria Pública, Judiciário)
- No caso da lesão corporal, o exame pericial para comprovar as agressões é essencial para dar seguimento ao processo criminal contra o agressor. Procure realizar o procedimento o mais rápido possível
- Caso passe por atendimento em alguma unidade de saúde, é possível solicitar um atestado médico que descreva as lesões provocadas
- Reúna todas as provas que tiver contra o agressor, como prints de conversas no telefone. No caso das mensagens, é importante que apareça a data do recebimento
- Se tiver medida protetiva, mantenha consigo os contatos principais para pedir ajuda. A Brigada Militar mantém em pelo menos 114 municípios unidades da Patrulha Maria da Penha que fiscalizam o cumprimento da medida
- Se tiver medida protetiva e o agressor descumprir, comunique a polícia. É possível acionar a Brigada Militar, pelo 190, ou mesmo registrar o descumprimento por meio da Delegacia Online. Descumprimento de medida pode levar o agressor à prisão
Fonte: Polícia Civil e Poder Judiciário do RS
Onde pedir ajuda
Brigada Militar
- Telefone — 190
- Horário — 24 horas
- Serviço — atende emergências envolvendo violência doméstica em todos os municípios. Para as vítimas que já possuem medida protetiva, há a Patrulha Maria da Penha da BM, que fiscaliza o cumprimento. Patrulheiros fazem visitas periódicas à mulher e mantêm contato por telefone
Polícia Civil
- Endereço — Delegacia da Mulher de Porto Alegre (Rua Professor Freitas e Castro, junto ao Palácio da Polícia), bairro Azenha. As ocorrências também podem ser registradas em outras delegacias. Há 23 DPs especializadas no Estado
- Telefone — (51) 3288-2173 ou 3288-2327 ou 3288-2172 ou 197 (emergências)
- Horário — 24 horas
- Serviço — registra ocorrências envolvendo violência contra mulheres, investiga os casos, pode solicitar a prisão do agressor, solicita medida protetiva para a vítima e encaminha para a rede de atendimento (abrigamentos, centros de referência, perícias, Defensoria Pública, entre outros serviços)