Foi preso pela Polícia Civil neste fim de semana um foragido, investigado por envolvimento num conflito que gerou uma série de assassinatos em Porto Alegre. Luís Guilherme Dias da Silva, o LG, foi localizado pela equipe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) em Torres, no Litoral Norte. Ele é apontado como uma das lideranças do crime organizado, e era procurado pela polícia havia cerca de um ano.
A prisão de LG aconteceu no último sábado (2). Ele foi localizado durante as investigações da 5ª Delegacia de Homicídios. LG é apontado pelas investigações como um dos principais líderes do tráfico de drogas na Vila Timbaúva, e em outros pontos do bairro Rubem Berta, na zona norte de Porto Alegre.
Segundo a polícia, LG estaria no epicentro de um conflito na zona norte de Porto Alegre, que resultou em cerca de 50 homicídios entre os anos de 2022 e 2023. As mortes ocorreram durante as disputas pelo tráfico de drogas.
Essa desavença entre lideranças do tráfico teria iniciado bem antes. No ano de 2017, LG, segundo a polícia, era uma das lideranças da facção criminosa na qual atua, mas era subordinado a outros dois criminosos – um deles seria o chefe principal da organização. Os dois, no entanto, foram transferidos para penitenciárias federais, deixando LG responsável pelo gerenciamento da facção.
Quatro anos depois, em 2021, quando um dos líderes retornou do sistema federal, LG teria se negado a devolver a liderança, segundo a polícia. Depois disso, teria se tornado responsável por dominar aquela região, desencadeando um conflito que resultou em série de homicídios. Em julho de 2022, um dos antigos chefes de LG no crime, visando reaver o que tinha, teria determinado a morte do irmão dele, em Santa Catarina. Esse crime intensificou ainda mais a onda de assassinatos na Capital.
Após perder o irmão, segundo a investigação da Polícia Civil, LG teria revidado orquestrando ataques em diversos pontos vinculados a facção do rival.
Um dos crimes pelo quais LG é apontado pela polícia como mandante resultou no assassinato de quatro pessoas, entre elas uma mulher grávida. Essa chacina levou a polícia a desencadear a Operação Vendetta no ano passado. A ofensiva resultou na prisão de 12 suspeitos de serem executores da facção. Também foi determinada durante esta operação a prisão preventiva de LG, apontado como responsável por ordenar os crimes.
Como ficou foragido
Em 2022, segundo a polícia, o líder teria progredido para o regime semiaberto durante o cumprimento de pena. Em dezembro daquele ano foi agendado para que ele fizesse a instalação de tornozeleira eletrônica. No entanto, LG não teria comparecido. Em razão disso, permaneceu foragido até este sábado, quando foi preso.
Outro preso
Esta é a segunda prisão de liderança ligada a homicídios em Porto Alegre nas últimas semanas. Em 22 de fevereiro, foi preso pelo DHPP em Santa Catarina Maicon Donizete Pires dos Santos, o Red Nose. Ele é suspeito de estar envolvido num conflito que gerou uma série de homicídios na Capital e na Região Metropolitana. Neste caso, segundo a polícia, o criminoso teria dado um golpe de Estado na facção da qual fazia parte.
Desarticulando o crime organizado
O Secretário de Segurança do Estado, Sandro Caron, afirmou que os conflitos desencadeados por esses dois presos geraram 112 dos 253 homicídios ocorridos em Porto Alegre no ano passado.
— Essa liderança vinha causando aumento de homicídio na zona norte de Porto Alegre desde dezembro de 2022. Com essas duas prisões esperamos reduzir ainda mais os homicídios na Capital.
Segundo o diretor do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Mario Souza, a Zona Norte era a área na qual os homicídios seguiam ocorrendo de forma mais intensa na Capital. Em razão disso, foram aplicadas uma série de medidas, que incluíam a captura das lideranças.
— Hoje temos no Estado as principais lideranças que praticamente coordenavam os ataques com mortes violentas presas. Esses dois criminosos foram os principais gatilhos para que isso acontecesse. O ciclo do Red acabou há uma semana e o do LG acaba hoje. Hoje termina esse ciclo de violência, de conflitos, na Zona Norte — enfatiza.
Ainda segundo o delegado, o próximo passo é a investigação de lavagem de dinheiro para descapitalizar essas organizações.
Segundo o delegado Daniel Queiroz, da 5ª Delegacia de Homicídios, a polícia começou a rastrear de forma mais exata o paradeiro de LG na semana passada. Na última quinta-feira, um homem que atuava como segurança dele foi preso em Gravataí, com armas. No sábado pela manhã, os policiais localizaram a residência em que ele estava hospedado em Torres.
— Foi complicado. Tinha várias rotas de fuga. Uma residência bem grande, bem ampla. Os agentes tiveram que fazer uma ação bem pontual — afirmou.
Contraponto
O advogado Jean Severo, que representa Luis Guilherme, nega que o cliente tenha posição de liderança no tráfico de drogas e tenha sido responsável por ordenar os homicídios.
— Luís Guilherme não possui liderança alguma e é completamente inocente das acusações que lhe são imputadas. Inclusive, ano passado foi absolvido pelo Tribunal do Júri em Porto Alegre. Com muita tranquilidade, vamos demonstrar que o acusado é mais uma vítima de perseguição por partes dos órgãos de persecução penal — disse o advogado.