No vídeo de um brutal espancamento na zona norte de Porto Alegre, em maio deste ano, uma imagem desperta atenção: quando o grupo de agressores dispersa, um homem busca um facão, retorna e atinge repetidas vezes a vítima, que está caída na calçada. Este investigado, flagrado pela câmera de segurança, está entre os alvos de uma operação da Polícia Civil e segue procurado.
Na terça-feira (25), o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) desencadeou a ofensiva chamada Insanus Agmen. O nome faz alusão ao Trem Louco, a forma como o grupo na mira da operação se intitulava. O bando, segundo apurou a investigação da 5ª Delegacia de Homicídios da Capital, possui vinculação com uma facção criminosa que explora o tráfico na Zona Norte.
Com atuação no Rubem Berta, são investigados por pelo menos dois espancamentos, um deles que resultou na morte de um homem no início de junho. O outro é o que foi gravado por uma câmera de segurança e deixou a vítima em coma, em razão da gravidade das lesões. Além disso, segundo a polícia, teriam sido responsáveis por ameaças e expulsão de moradores de condomínios do mesmo bairro. Algumas famílias tiveram as moradias invadidas e os móveis destruídos, como forma de intimidação.
Durante a ação de terça-feira, a polícia cumpriu 22 mandados, sendo sete de prisão preventiva. Todos tinham sido identificados como suspeitos de envolvimento nas agressões. Dos sete, três foram localizados pelos policiais e presos, além de outros dois que já estavam encarcerados e tiveram novos mandados cumpridos. Mas há ainda dois que seguem procurados pela polícia. Um deles é o homem flagrado usando o facão para golpear o pescoço da vítima agredida. A polícia não divulgou a identidade dos investigados.
— A Polícia Civil, assim como a Brigada Militar, está colocando toda equipe possível para fazer essas capturas. Eles devem ser presos nos próximos dias — diz o delegado Mario Souza, diretor do DHPP.
No caso desse espancamento, o homem passou a ser perseguido pelo grupo, após alguém gritar "pega ladrão". Depois disso, ele foi cercado e passou a ser agredido. Durante as agressões, um dos criminosos ainda aproveitou para roubar a vítima, retirando do pulso dela um item, que aparenta ser um relógio. O homem foi socorrido e encaminhado ao hospital, onde segue internado mais de dois meses após as agressões. Segundo a polícia, não foi confirmado que ele estivesse envolvido em furtos ou roubos na região.
— Essa ação, com apoio da BM, certamente bloqueia e impede o fortalecimento de uma quadrilha de criminosos que faz parte de uma facção maior, por óbvio, mas que estava tendo crescimento muito exponencial, muito rápido, dentro da própria facção. A facção é um grupo consolidado e tem grupos menores, células, como essa, que poderia aumentar sua importância na facção e até mesmo destacar de forma considerável dentro do crime organizado — afirma Souza.
Próximos passos
Além de seguir tentando localizar os dois foragidos, a polícia segue a investigação na tentativa de identificar outros envolvidos nos crimes. O intuito agora é saber quem foram as lideranças que autorizaram as ações do Trem Louco na região. A facção à qual eles estão vinculados está envolvida numa disputa, que tem resultado na maior concentração de homicídios na Zona Norte. Embora Porto Alegre tenha apresentado queda nesse indicador no primeiro semestre, a violência naquela região vem despertando atenção.
— Hoje mesmo a 5ª DHPP começou trabalho específico na análise das apreensões, entre elas, documentos e celulares que vão ser avaliados no intuito de auxiliar o descobrimento de quais são as lideranças ou a liderança envolvida na situação de autorizar ou determinar aqueles atos criminosos — diz o diretor do DHPP.
Além dos sete que tiveram as prisões decretadas, a polícia identificou outros sete adolescentes envolvidos nas agressões. Em razão disso, o inquérito foi remetido à Divisão Especial da Criança e Adolescente (Deca), que dará andamento às investigações.
— Demonstrou ser um grupo muito violento, agressivo, e que causava grande prejuízo para a comunidade. O crime organizado perdeu um braço violento. Estavam com o índice de violência tão elevado, que agiram contra pessoas da comunidade. A desarticulação desse grupo enfraquece a facção, e levará à responsabilização das lideranças — completa o delegado.
Denuncie
Informações envolvendo esse tipo de crime podem ser repassadas ao DHPP 0800-642-0121.