De um sítio em Morungava, na zona rural de Gravataí, na Região Metropolitana, policiais desenterraram um arsenal em maio deste ano. Entre os armamentos apreendidos, estavam fuzis e pistolas, que seriam usados em ações criminosas. Ao longo dos últimos meses, o Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) buscou detalhar quem era o grupo por trás desse esquema, que envolve o tráfico de drogas e o comércio ilegal de armas de fogo. Esta apuração resultou na Operação Galápagos, desencadeada na manhã desta quinta-feira (7).
Durante a ação, são cumpridos 22 mandados de prisão – 14 preventivas e oito temporárias – e 19 mandados de busca e apreensão, sequestros de veículos e um de imóvel de alto padrão. A ofensiva ocorre em 12 municípios, sendo parte das ordens cumpridas em Santa Catarina. Até as 10h, pelo menos 20 pessoas foram presas e 20 armas, além de centenas de munições foram apreendidas. Entre os presos, está um homem apontado como atual liderança do grupo. Ele foi detido em Criciúma, Santa Catarina. Também foram apreendidos veículos de alto valor. Um deles avaliado em R$ 240 mil. Também foi indisponibilizado um imóvel avaliado em R$ 1 milhão em Bombinhas, no litoral catarinense.
— A operação envolve não só as prisões dos líderes, dos soldados do crime, como principalmente a descapitalização dessa associação criminosa armada, voltada para a prática de tráfico de drogas — afirma o delegado Rafael Liedtke, da 2° Delegacia de Repressão ao Narcotráfico do Denarc.
Os mandados de prisão são cumpridos em Porto Alegre, Canoas, Cachoeirinha, Charqueadas, Sapucaia do Sul, Sentinela do Sul, Novo Hamburgo, e nas cidades catarinenses Criciúma, Balneário Camboriú, Bombinhas, Palhoça e São José. Cerca de 150 policiais civis do RS participam da ação, com apoio de agentes de Santa Catarina.
Vida de alto padrão
O sítio alvo das ações da Brigada Militar e Polícia Civil em maio era usado como um depósito de armamento, que estava em funcionamento pelo menos desde o início do ano. O grupo alvo da ofensiva se chamava de Tropa do Pinguim – motivo que inspirou o nome da operação. A quadrilha agia tanto em Gravataí, como na Vila São Borja, na zona norte de Porto Alegre, mas tinha também ramificações no Estado vizinho.
Um dos locais onde a polícia está cumprindo mandado é uma loja de móveis em Canoas. A suspeita é de que um dos investigados estivesse usando dinheiro sujo para investir neste local. Em Santa Catarina, a polícia faz busca num imóvel de alto padrão em Bombinhas.
— Essa integração da Polícia Civil gaúcha com a do Estado de Santa Catarina, em mais um trabalho conjunto, possibilita a elucidação, identificação e localização de investigados integrantes de facções que atuam na comercialização e na distribuição de drogas e de armas de fogo — diz o delegado Carlos Wendt.
Durante as apreensões de maio, os policiais encontraram também celulares, que auxiliaram nos desdobramentos das investigações. A partir da descoberta deste sítio, a polícia conseguiu identificar a associação criminosa armada estruturada, especializada no tráfico de drogas e comércio ilegal de armas, entre outros delitos, que mantinha o local. O grupo é investigado por tráfico de drogas, associação para o tráfico, associação criminosa armada, porte e posse ilegal de arma de fogo e munições, comércio ilegal de arma de fogo, entre outros crimes.
Ainda segundo o delegado, a polícia identificou outros crimes cometidos pelo grupo, como forma de obter lucros para o grupo, como roubos de veículos e golpes praticados de dentro da cadeia.
— Com os lucros obtidos com o tráfico de entorpecentes, as lideranças da associação criminosa giravam grandes quantidade de dinheiro, ostentavam, adquirindo veículos de alto valor, residindo em apartamentos situados em bairros nobres, alguns em cidades litorâneas, inclusive financiando a abertura de comércio com capital proveniente dos crimes praticados pelo grupo criminoso, além de realizarem gastos com viagens e compras de terrenos e imóveis — explica Liedtke.
A investigação apurou também como se dava a compra de armas por parte do grupo criminoso. Entre os alvos da operação estão dois suspeitos de usar o registro como Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), para adquirir armas para a facção. Na casa de um deles, em Canoas, foram apreendidas 16 armas de fogo, incluindo uma submetralhadora e um fuzil, além de um veículo avaliado em R$ 240 mil.
Para o delegado Alencar Carraro, diretor de investigações do Denarc, o combate às facções criminosas e a retirada de grande quantidade de armas de fogo é considerado extremamente importante, visando a redução do poderio das facções criminosas.
— Estas ações impactam diretamente na redução de crimes violentos, graves — afirma.
Família do crime
Segundo os policiais, quando ingressaram no sítio em Morungava houve um tiroteio. Na ação, foi morto Adalberto Arruda Hoff, 43 anos, o Beto Fanho, apontado como líder da facção e responsável por guarnecer o armamento na propriedade rural. A arma encontrada com ele era um fuzil de calibre 556, de uso restrito das Forças Armadas e forças de segurança. O homem, que usava tornozeleira eletrônica, tinha antecedentes por homicídio, roubo a banco e tráfico drogas, entre outros crimes.
— Ele é um indivíduo que veio do roubo a bancos, que acabou migrando para o tráfico de drogas. Ele tinha um perfil bem violento, tanto que, quando os policiais ingressaram no seu sítio ele tentou reagir. Estava portando um fuzil, uma arma de uso restrito. E os policiais tiveram que atirar para poupar suas vidas. É um perfil de alta periculosidade, que estava escondendo dezenas de armas de fogo que eram repassadas para que criminosos executassem práticas de crimes graves, violentos — explica o diretor do Denarc, delegado Carlos Wendt.
Entre os alvos desta quinta-feira, estão familiares do líder da organização. Uma enteada, um sobrinho e o genro do homem apontado como líder tiveram prisão decretada. Todos os três foram presos na ação deflagrada hoje. O primeiro foi preso em Criciúma, os outros dois na zona norte da Capital.
— Eles teriam passado a liderar não só o tráfico de drogas, como principalmente a realização da contabilização financeira com a venda de drogas na Vila São Borja — afirma o delegado.
Conforme a investigação, a chamada Tropa de Pinguim vinha se envolvendo em disputa pelo controle dos pontos de tráfico. Em novembro do ano passado, Beto Fanho sofreu um atentado em Sentinela do Sul, na região da Costa Doce. Homens armados, inclusive com fuzil, chegaram na residência atirando, mas o líder da quadrilha conseguiu fugir a pé por um matagal.
Depois disso, ele teria escapado para o sítio em Gravataí, armado com um fuzil de calibre .556 e acompanhado de um segurança. Foi neste mesmo local que ele acabou entrando em confronto com os policiais.
— Como consequência desse trabalho, conseguimos apurar vários elementos de provas, que possibilitaram a representação por medidas cautelares cumpridas no dia de hoje. Durante as diligências, foram apreendidas dezenas de armas de fogo, em ações conjuntas com a Brigada Militar — afirma Wendt.
As apreensões no sítio
Na primeira ofensiva, Beto Fanho estava usando tornozeleira eletrônica. Na ação naquele dia, foram apreendidas seis armas, além de carregadores, munição, granadas e drogas.
A Brigada Militar retornou ao local no dia seguinte, cerca de 15 horas depois da primeira investida, e prendeu quatro pessoas após nova troca de tiros. Desta vez, sem feridos. Os policiais encontraram 16 armas enterradas na propriedade rural, além de munição, drogas e material para fabricar explosivos. Dois presos estavam nesta residência e outros dois em um sítio vizinho, que também pertenceria à mesma facção. Havia 4,5 quilos de pasta-base de cocaína e um quilo de crack enterrados no local.
Numa terceira investida no local, foram encontrados enterrados um fuzil calibre 556 e três pistolas, uma 9 milímetros, uma calibre 22 e uma 40. Também foram apreendidos carregadores e munição de pistolas e fuzil. Em paralelo também foram realizadas buscas na zona norte de Porto Alegre, onde também foram encontrados armamentos.
Colabore
Quem quiser auxiliar o Denarc com informações sobre o tráfico de drogas pode entrar em contato com o Disque-Denúncia pelo telefone 0800-0518-518. É possível fazer isso de forma anônima.