A Polícia Civil apura se a chacina na noite de domingo (14) na Vila São Borja, no bairro Sarandi, na zona norte de Porto Alegre, tem relação com a tentativa de ocupar o ponto de tráfico e consumo de drogas que seria comandado por um suspeito que foi morto na semana passada em Gravataí, na Região Metropolitana. Conforme a investigação, a facção apontada como responsável pelo ataque na Capital se aproveitou do fato de os rivais estarem fragilizados para aumentar sua influência no local.
Segundo a polícia, a região do bairro Sarandi onde cinco pessoas foram mortas e quatro ficaram feridas teria como líder Adalberto Arruda Hoff, o Beto Fanho, 43 anos. Ele foi morto na última semana em confronto com a polícia. Ele se escondia em um sítio em Morungava, em Gravataí, após ter escapado de várias emboscadas desde o ano passado.
Beto Fanho, conforme a investigação, tinha mais de 20 antecedentes criminais — sete por homicídios —, mais de 50 anos de condenação e usava tornozeleira eletrônica.
Durante três dias de buscas na propriedade rural onde Beto Fanho se escondia, foram encontradas mais de 20 armas — a maioria delas estava enterrada —, munição, carregadores, granadas, material para fabricar explosivos, além de drogas. Cinco suspeitos foram presos.
Em razão desta apreensão e de outras realizadas nos últimos meses, quando centenas de quilos de entorpecentes do grupo de Beto Fanho foram encontrados em operações policiais, o diretor do Departamento de Homicídios, delegado Mario Souza, diz que é grande a possibilidade de que uma facção rival esteja se aproveitando da fragilidade do grupo para tentar ocupar a área.
— Foi uma ação de um grupo criminoso contra outro e, por meio deste ataque, que está fora da curva de ações apuradas, os suspeitos receberam ordem para realizar a chacina com o objetivo de que a facção deles tenha sua influência aumentada na região, que é um conhecido e já disputado ponto de tráfico e consumo na zona norte da Capital — ressalta Souza.
O local sobre o qual o diretor se refere, a Vila São Borja, seria dominado pelo grupo de Beto Fanho. Em 2020, por exemplo, ele foi investigado por dar ordens para executar três pessoas que integravam facção rival. O ataque se iniciou em um condomínio da região e terminou na entrada da emergência do hospital Cristo Redentor, na zona norte da Capital.
O diretor do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc), delegado Carlos Wendt, diz que a ação realizada pelos agentes comandados por ele e por policiais militares no sítio em Gravataí foi considerada bem-sucedida. As apreensões, além da morte do homem apontado como líder do grupo, levam rivais a buscarem ocupar os locais dominados pela facção enfraquecida.
— Mesmo que queiram ocupar as áreas dominadas por Beto Fanho, o Denarc está atento e dá um recado: se insistirem em querer dominar este local por meio da força, impondo violência para a população de bem, serão alvo de mais ações contundentes das forças de segurança — diz Wendt.
Vítimas
Como a Vila São Borja também é um ponto de consumo de entorpecentes, o delegado Mario Souza diz que algumas das vítimas atingidas seriam usuárias de drogas. Ele revela que todas já foram identificados, mas de forma preliminar. Os nomes só serão confirmados após a necropsia realizada pelo Departamento Médico Legal (DML).
Três dos feridos estão em um hospital de Porto Alegre. Segundo boletim médico, no início da tarde desta segunda-feira o quadro de saúde deles é estável.
O delegado diz que o objetivo agora é identificar os autores da chacina, que seriam de quatro a oito homens. Souza afirma que eles usaram pistolas nove milímetros, espingarda calibre 12 e até fuzil calibre 556 e chegaram em dois carros no local.
Segundo a polícia, os suspeitos falaram por dois minutos com algumas das vítimas e atiraram depois, ficando no local no máximo por cinco minutos. O número de disparos ainda não foi confirmado oficialmente, mas seriam pelo menos 20.