Em um cenário de amplo acesso a tecnologias de informação e comunicação, a ruptura das fronteiras físicas amplia ainda mais o espectro para ação de grupos neonazistas, fascistas, supremacistas, racistas, misóginos, disseminadores de ódio, semelhante a uma pandemia de violência e preconceito contra a diversidade humana.
É justamente isso o que revelam os resultados da Operação Accelerare, coordenada pela Delegacia de Combate à Intolerância da Polícia Civil gaúcha. Nesta terça-feira (14), a apuração de sete meses culminou com a prisão de sete homens apontados como lideranças neonazistas no Brasil. Além de identificar e encaminhar para a responsabilização penal tais agentes, o trabalho das autoridades também revela que as células neonazistas brasileiras se relacionam com grupos da Europa e dos Estados Unidos.
Confira o que se sabe sobre a investigação até o momento e quais os próximos passos:
1) Como funcionam as células extremistas?
As investigações apontam que existem lideranças imbuídas de armazenar, editar e disseminar conteúdo ideológico de caráter nazista, fascista, racista, supremacista, separatista, segregacionista, misógino, xenofóbico e intolerante à diversidade étnica, religiosa, cultural e sexual.
Estas lideranças são responsáveis ou delegam tarefa de recrutamento e doutrinação de jovens para serem soldados extremistas com atuação em círculos de relacionamento e nas redes sociais.
As células podem ser unitárias, formadas por um indivíduo, ou associativas, compostas por dois ou mais agentes. Os indivíduos são estimulados a exaltar a simbologia autoritária de ícones políticos da história contemporânea, como o chanceler nazista Adolf Hitler, o "Führer", e o ditador fascista Benito Mussolini, o "Duce", ambos sob designação de líderes, em seus idiomas pátrios.
Fardas militares, armamentos, literatura doutrinária ideológica, panfletarismo com defesa de teses extremistas e autoritaristas são algumas das formas de identificação, divulgação e solidificação dos grupos.
2) O que as autoridades têm feito?
A chama da intolerância não cessa e, de tempos em tempos, ressurge alimentada por sentimentos de ódio, revanche e desprezo às expressões da diversidade. Com este olhar, as autoridades gaúchas, em especial unidades especializadas da Polícia Civil, atuam no monitoramento de ações e divulgações de grupos e indivíduos.
Mais recentemente, abastecida pelo ciclo de tensão política e social que se impregnou em setores da sociedade brasileira, a intolerância voltou a ser manifestada e presenciada, sobretudo em espaços de debate na internet.
A mesma ferramenta que contribui para a disseminação do ódio, serve para a investigação sobre violações de direitos. Foi pela internet que a polícia observou a movimentação de grupos e deu início às apurações que inspiraram a Operação Accelerare, a qual chegou nesta terça-feira em sua terceira etapa, tendo como resultado a prisão e a identificação de mais de uma dezena de suspeitos.
3) Quais provas foram apreendidas pela polícia?
O material apreendido nas operações e diligências representa importante evidência sobre a metodologia de disseminação ideológica dos grupos neonazistas. São provas materiais da apologia a estatutos e personalidades execrados do convívio social convencional.
Entretanto, as ferramentas digitais de armazenamento e comunicação têm propiciado acesso a evidências ainda mais contundentes, as quais demonstram como ocorrem as conexões e a consolidação de métodos doutrinários nas células neonazistas.
4) Como os envolvidos são responsabilizados após a investigação policial?
A apuração das autoridades já resultou em prisões preventivas, indiciamento e denúncia de investigados e apreensões de materiais que levam a outras unidades da rede criminosa.
Em casos emblemáticos, ocorridos em 2005 em Porto Alegre, o resultado das investigações conduziu ao banco dos réus seis acusados de ataques antissemitas que feriram pessoas na Capital. Em um dos julgamentos, três homens foram condenados a 13 anos e 12 anos de prisão. Em outro caso, um homem foi condenado a 12 anos de prisão e dois outros acabaram absolvidos.
5) Quais os próximos passos das investigações?
As investigações conduzidas pela Delegacia de Combate à Intolerância abrem uma nova etapa assim que concluem a anterior, pois novos elementos são trazidos à luz das apurações sempre que a polícia desencadeia busca e prisão de novos suspeitos.
Conforme a delegada Tatiana Bastos, coordenadora das investigações, materiais recolhidos como indícios de crimes nesta terça-feira serão periciados e submetidos a análises, o que deverá indicar novos caminhos para a desarticulação de outras células neonazistas no Estado.