Depois de apreender, em junho deste ano na cidade de Pelotas, zona sul do Estado, equipamentos usados por integrante de grupo neonazista, a Polícia Civil está buscando mais provas sobre ameaças de morte que ele fez. De acordo com inquérito instaurado pela Delegacia de Combate à Intolerância, o investigado usou um perfil fake para atacar um professor e a filha de um deputado estadual.
O computador do suspeito foi encaminhado nesta semana para o Instituto-Geral de Perícias (IGP), e o celular está sendo analisado pela Divisão de Inteligência da própria polícia. A delegada Tatiana Bastos, responsável pela apuração, diz que este trabalho foi realizado com apoio da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para desarticular uma organização criminosa formada para recrutar nas redes sociais novos adeptos ao nazismo.
O objetivo da delegada, com a análise dos equipamentos, é encontrar imagens, mensagens e até mesmo acessos ao perfil fake usado para as ameaças, como também contatos de outros integrantes do grupo que atua no Estado. Segundo ela, como o investigado responde ao inquérito em liberdade, não há prazo para a conclusão do trabalho.
— Mas acreditamos que não irá demorar muito e o inquérito vai ser concluído assim que tivermos os resultados das análises no celular e computador. Para se ter uma ideia, até mesmo o e-mail dele é uma saudação nazista — diz Tatiana.
Os materiais foram apreendidos dia 15 de junho após a polícia obter autorização judicial para cumprir buscas na residência do suspeito. Conforme a delegada, o investigado tem 34 anos, passa o dia em casa no computador e se apresenta como músico amador. A ação ocorreu porque ele, que não teve o nome divulgado, teria feito ameaças de morte ao professor Renato Levin-Borges por ele denunciar que uma banda norueguesa, que teve show cancelado em Porto Alegre, tinha vínculo com adeptos ao nazismo.
Os ataques ocorreram no mês de março deste ano. O mesmo homem, segundo a apuração, fez ameaças de morte à filha do deputado estadual Leonel Radde (PT), que também denuncia ações neonazistas. Radde, à época do anúncio do show, gravou nas suas redes sociais um vídeo afirmando que a banda é “abertamente neonazista”.
Logo após este fato, a filha do parlamentar, que tem 21 anos, recebeu a seguinte mensagem em seu celular: "Depois que ele encontrar a filinha dele estuprada jogada numa vala, será tarde demais. O recado tá dado" foi o conteúdo da ameaça. Todos estes casos estão dentro de uma apuração que gerou a “Operação Accelerare”, desencadeada desde o mês passado no Estado.
Operação Accelerare
Três jovens da Região Metropolitana de Porto Alegre e do Vale do Sinos foram presos e indiciados pela Polícia Civil por apologia ao Nazismo e porte ilegal de arma de fogo. Eles fazem parte do mesmo grupo que o suspeito de Pelotas também é apontado por integrar. O objetivo deles é usar as redes sociais para recrutar adeptos.
Um dos três indiciados é de Porto Alegre, outro de Canoas e o terceiro de Novo Hamburgo. Eles tiveram computadores, livros, símbolos nazistas e fascistas, armas e munição apreendidos em suas casas. A delegada Tatiana investigou os criminosos durante seis meses e comprovou o ódio a negros, homossexuais, judeus e imigrantes.
Um deles ainda criava games com mensagens subliminares sobre ações neonazistas e ataques a escolas. Em 2019, o mesmo jovem, que tem atualmente 23 anos, foi preso por planejar ações contra um estabelecimento de ensino na Região Metropolitana.