Na manhã desta quinta-feira (10), cerca de 80 agentes das polícias gaúcha e cearense realizaram uma operação contra quadrilha do Rio Grande do Sul que aplicava o golpe do empréstimo consignado em todo o país. Foram cumpridos 18 mandados de prisão e 20 de busca em Canoas, Gravataí e Porto Alegre.
Além do estelionato e organização criminosa, é investigada a lavagem de dinheiro. Com as prisões realizadas e com os depoimentos, um dos objetivos é fazer um levantamento do total de vítimas e de contas bancárias utilizadas. Em apenas uma das contas, de um dos líderes do grupo, detido em Canoas, a polícia localizou cerca de R$ 5 milhões. Além disso, foram criadas empresas de fachada como se fossem financeiras para enganar as pessoas.
O delegado Giovani Moraes, do Ceará, diz que o valor deve ser muito maior, mas só vai ter um dado exato após análise de todas as provas obtidas e com a quebra dos sigilos fiscal e bancário de todos investigados. Segundo ele, a lavagem de capitais ocorria por meio de abertura de empresas fantasmas.
— De início, observou-se que havia diversas empresas com o mesmo nome fantasia, porém, com CNPJ diferentes registradas na Receita Federal, cujas atividades seriam empréstimos financeiros e correspondência bancária. Tudo de fachada e em nome de laranjas, que também são investigados — explica Moraes.
Até as 9h30min, nove suspeitos haviam sido detidos e alguns deles já começaram a ser ouvidos no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). O objetivo é dar sequência o mais rápido possível à apuração em conjunto com a Delegacia Regional de Juazeiro do Norte, no Ceará, onde foi instaurado o inquérito sobre o caso. De acordo com o delegado, os criminosos lucravam de R$ 30 a R$ 60 mi por vítima.
Lavagem de capitais
A outra forma utilizada por criminosos para lavar dinheiro é por meio de contas bancárias, a maioria em nome de terceiros, as chamadas “contas de passagem”, já que o dinheiro era imediatamente transferido ou sacado depois do golpe. A Justiça deferiu o bloqueio de pelo menos 18 contas usadas bancárias usadas pelos suspeitos.
Moraes ressalta que ainda foram adquiridos bens em nomes de terceiros, o que também está sendo contabilizado. Por exemplo, oito veículos previamente identificados, os quais foram alvo de busca e apreensão nesta quinta. Dois deles, um caminhão e um semireboque, adquiridos por um dos integrantes da quadrilha neste ano, foram avaliados em mais de R$ 500 mil.
Já o diretor de Investigações do Deic, delegado Eibert Neto, informa que, dois dos investigados compraram no Estado, no final de 2022, um apartamento no valor de R$ 350 mil e pagaram em dinheiro.
— Foi demonstrada, no curso da investigação, a movimentação de milhões de reais das contas dos investigados, havendo centenas de transferências para os alvos da operação, cujos valores movimentados são incompatíveis com a renda dos investigados, mas tudo está sendo contabilizado, conta por conta, além de todos veículos ou imóveis adquiridos — ressalta Neto.
Ligação com o tráfico
O grupo teria ligação com uma facção criminosa que atua no Rio Grande do Sul e parte do dinheiro obtido com os golpes seria para capitalizar o tráfico de drogas. Esta é mais uma investigação que está sendo realizada pelas polícias gaúcha e cearense.
Além disso, Neto destaca que os criminosos se dividiam em três partes. Segundo o delegado, havia os líderes, que eram responsáveis por abrir as empresas em nome dos laranjas e receber recursos. A segunda parte era o núcleo operacional, responsável por fazer o contato com as vítimas por meio de ligação telefônica, e-mail ou WhatsApp.
Por fim, a última parte era a dos laranjas, que emprestavam seus nomes para abertura de empresas ou para depósito de valores em suas contas bancárias. Para isso, recebiam parte dos lucros obtidos com o golpe.
Golpe do empréstimo
O golpe do empréstimo consignado ou da portabilidade de dívidas consiste em roubar dinheiro das vítimas por meio de empréstimos falsos. Ele pode ser aplicado por e-mail, pelo telefone, por WhatsApp e até por correspondência. O grupo gaúcho era tão estruturado que usava até um discador automático e um sistema PABX (centro de distribuição telefônica) virtual para realizar uma nova ligação de forma imediata após encerrar uma anterior.
Os suspeitos obtêm dados das vítimas em potencial — a maioria pessoas endividadas — e, se passando por funcionários de instituições financeiras, oferecem propostas vantajosas de compra de empréstimos consignados por meio de portabilidade. Na verdade, os estelionatários não quitam as dívidas anteriores das vítimas, mas fazem novos financiamentos e transferem o valor para contas bancárias deles mesmos ou de laranjas.
Alerta
- Tenha cuidado com ofertas de crédito vantajosas
- Não faça pagamento antecipado
- Sempre proteja seus dados e não repasse para qualquer pessoa
- Cuidado ao falar sobre empréstimos em redes sociais
- Busque orientação técnica e confiável ao invés de se desesperar com dívidas atrasadas
- Se caiu no golpe, solicite o cancelamento de todas transações realizadas pelos suspeitos
- Faça boletim de ocorrência, procure o Procon e um advogado