A partir de uma ocorrência feita por uma servidora pública na delegacia de Juazeiro do Norte, no Ceará, teve início uma investigação por agentes locais sobre o golpe do empréstimo consignado. Eles descobriram que, além da servidora, havia dezenas de outras vítimas lesadas por uma quadrilha do Rio Grande do Sul.
As corporações dos dois Estados passaram então a trabalhar em conjunto. A apuração avançou. Houve a confirmação de que a quadrilha tem base em Canoas, mas há suspeitos também em Porto Alegre e Gravataí. Ao todo, 18 são alvo de uma operação nesta quinta-feira (10). Cerca de 80 policiais cearenses e gaúchos cumprem 18 mandados de prisão e 20 de busca nas três cidades da Região Metropolitana. Até as 8h, nove pessoas haviam sido presas.
São apurados os crimes de estelionato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. De acordo com a polícia, são centenas de pessoas lesadas. São vítimas de todo país, a maioria aposentados, servidores públicos e até mesmo um policial federal de São Paulo.
A ação realizada nesta quinta-feira é uma parceria entre a Delegacia Regional de Juazeiro do Norte e o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) do Rio Grande do Sul. O trabalho recebeu o nome de "Operação Lucas 12", que é um capítulo da Bíblia com vários ensinamentos e advertências contra a hipocrisia, mordomia e uso da riqueza, entre eles: “não há nada escondido que não venha a ser revelado, nem oculto que não venha a se tornar conhecido”.
O golpe do empréstimo consignado ou da portabilidade de dívidas consiste em roubar dinheiro das vítimas por meio de empréstimos falsos. Ele pode ser aplicado por e-mail, pelo telefone, por WhatsApp e até por correspondência. O diretor de Investigações do Deic, delegado Eibert Neto, diz que o grupo gaúcho era tão estruturado que usava até um discador automático e um sistema PABX (centro de distribuição telefônica) virtual para realizar uma nova ligação de forma imediata após encerrar uma anterior.
Os suspeitos obtêm dados das vítimas em potencial — a maioria pessoas endividadas — e, se passando por funcionários de instituições financeiras, oferecem propostas vantajosas de compra de empréstimos consignados por meio de portabilidade. Na verdade, os estelionatários não quitam as dívidas anteriores das vítimas, mas fazem novos financiamentos e transferem o valor para contas bancárias deles mesmos ou de laranjas.
O delegado Giovani Moraes, do Ceará, diz que o crime era praticado de forma eletrônica. Segundo ele, os criminosos usavam empresas de fachada para oferecer às vítimas juros mais baixos em parcelas ou valores de reembolso. Mas na verdade, a chamada portabilidade, ou compra de dívidas, era para fazer novo empréstimo com o nome da pessoa lesada que, ao invés de se livrar de um financiamento, adquiria outro sem saber e o valor todo ficava com os criminosos.
— Tão logo obtinham os valores oriundos da fraude, os supostos agentes financeiros, na verdade, os golpistas, bloqueavam as vítimas, principalmente no WhatsApp, e desapareciam — explica Moraes.
Alerta
- Tenha cuidado com ofertas de crédito vantajosas
- Não faça pagamento antecipado
- Sempre proteja seus dados e não repasse para qualquer pessoa
- Cuidado ao falar sobre empréstimos em redes sociais
- Busque orientação técnica e confiável ao invés de se desesperar com dívidas atrasadas
- Se caiu no golpe, solicite o cancelamento de todas transações realizadas pelos suspeitos
- Faça boletim de ocorrência, procure o Procon e um advogado