A ação de quadrilhas dedicadas a fraudar empréstimos consignados e ficar com o dinheiro obtido com o nome de aposentados está mais sofisticada.
Reportagem de Giovani Grizotti que foi ao ar na noite deste domingo (9) no programa Fantástico, da Globo, revela que os bandidos não precisam nem mesmo ligar para as vítimas em busca de informações pessoais: agora os criminosos compram dados sigilosos e reproduções de documentos pela internet ou conseguem esse material com auxílio de funcionários do INSS.
Em todo o país, a cada hora são encaminhadas pouco mais de seis denúncias envolvendo irregularidades na contratação dos consignados aos Procons. No Rio Grande do Sul, uma reclamação é feita a cada duas horas, de acordo com os registros feitos no ano passado.
Um novo mercado ilegal está facilitando ainda mais a contratação indevida desse empréstimo, em que as parcelas são debitadas diretamente do benefício mensal em nome de aposentados que não autorizaram a operação. As quadrilhas ficam com o dinheiro, e a vítima, com a dívida. Uma das aposentadas lesada pelo esquema, que prefere não se identificar, conta que só descobriu o golpe quando tentou ela mesma fazer um financiamento de R$ 50 mil para ajudar a construir uma casa.
— Eu e o meu guri, a gente foi ver o empréstimo. Quando chegou lá, mostrou que não tinha margem porque já tinha vários, vários empréstimos — conta uma vítima do Rio Grande do Sul.
Ela descobriu que já haviam sido feitos 29 contratos irregulares em seu nome envolvendo um valor total de R$ 195 mil. A polícia ainda investiga como os bandidos conseguiram os dados pessoais da aposentada, mas a reportagem identificou como o caminho das quadrilhas até as informações sigilosas está mais fácil.
Há grupos que vendem até um chamado "kit fraude" — conjunto de dados e reproduções de documentos que permite fazer o contrato irregular. Um desses golpistas, sem saber que falava com o Fantástico, detalhou a oferta dessas informações.
— Aqui dentro do nosso site, a gente tem vários, tem bilhões de cadastros, entendeu? Então, vamos supor, cliquei nesse aqui, vai me jogar para essa página onde vou encontrar todos os dados do cliente — narrou o criminoso, sem saber que era gravado.
Bandidos estão fazendo isso se aproveitando de péssimos funcionários
CARLOS LUPI
Ministro da Previência
O "kit fraude" conta inclusive com o documento de identidade e uma selfie (foto tirada pela própria pessoa) em que alguém mostra o rosto e o documento ao mesmo tempo — imagem que serve como uma espécie de assinatura eletrônica para fazer contratos de crédito.
— Então aqui a gente tem tudo, ó, RG, carteira trabalhista, carteira de motorista, é comprovante de tudo o que eu te informei (...) A gente encontra o que você deseja — complementa o golpista.
A investigação da Globo chegou a outro indício grave. Mesmo beneficiários do INSS que bloquearam a opção de empréstimo consignado acabam sendo vítimas do golpe. Segundo a polícia, a ação das quadrilhas também vem sendo facilitada pela participação de funcionários do INSS.
Graças a isso, criminosos oferecem pela internet o serviço de desbloqueio para contratação de empréstimos por R$ 80 por vítima, e a possibilidade de resetar a senha do aposentado no aplicativo Meu INSS a um custo de R$ 100 para seis vítimas. A troca da senha facilita o uso indevido da ferramenta.
O ministro da Previdência, Carlos Lupi, informou que já pediu abertura de investigação à Polícia Federal:
— São criminosos, são bandidos que estão fazendo isso, se aproveitando de péssimos funcionários, indecorosos profissionais que são minoria, graças a Deus, mas que se utilizam do acesso à informação do aposentado, do seu cadastro, sua senha, para alimentar uma rede de criminosos.
A recomendação é ficar sempre atento aos extratos bancários e entrar em contato com as autoridades sempre que for percebida alguma movimentação suspeita.