Em entrevista coletiva, nesta segunda-feira (24), o ministro da Justiça, Flávio Dino afirmou que o ex-policial militar Élcio de Queiroz fechou acordo de delação premiada com a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), na qual forneceu informações detalhadas sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes em 2018, no Rio de Janeiro.
Segundo o ministro, a delação foi homologada pela Justiça e feita há cerca de "15, 20 dias". Com as novas informações, a investigação do atentado teve novos avanços. A PF e o MP-RJ realizaram, nesta segunda-feira (24), a prisão de Maxwell Simões Corrêa, conhecido como Suel, que teria tido participação no crime.
Quem é Élcio de Queiroz?
Ex-sargento da PM, ele foi expulso em 2015 por corrupção e acabou preso pela execução de Marielle, um ano após o crime acontecer.
O envolvimento no assassinato estaria comprovado pelas coordenadas de GPS do seu celular junto ao local do duplo homicídio, entre outras provas (no quarto do ex-PM foram encontradas duas pistolas e munição; no carro dele, oito balas de fuzil).
Após quatro anos preso, Queiroz resolveu fazer uma delação premiada por ter a confiança quebrada pelo amigo Ronnie Lessa. De acordo com o portal g1, Lessa teria dito ao comparsa que não fez pesquisas sobre Marielle. Porém, a polícia encontrou rastros da pesquisa.
O que foi dito na delação?
Conforme relato dado por Queiroz ao Ministério Público e à PF, a execução teria sido tramada pelo ex-PM Ronnie Lessa. O crime teria sido armado ao longo de oito meses, nos quais a vereadora foi seguida e vigiada. O duplo assassinato teria contado ainda com participação de Maxwell Simões Correa, o Suel.
Queiroz disse que dirigiu o carro que perseguiu o veículo onde estavam Marielle e seu motorista. Os tiros foram dados por Ronnie Lessa. Um casal teria recebido as armas da dupla e as descartado. Um irmão de Lessa teria recebido toucas, silenciadores e a submetralhadora), que teriam sido jogados no mar, posteriormente. Um sexto integrante do complô teria descartado o carro usado no crime, um Cobalt, que foi desmanchado. O destino do automóvel teria sido um desmanche no Morro da Pedreira, na Zona Norte da cidade. Duas outras pessoas vazaram informações oficiais da investigação para os criminosos.
Queiroz também afirma que o crime foi encomendado por um ex-colega deles, o sargento reformado da PM Edimilson Oliveira da Silva (o Macalé), assassinado em novembro de 2021. O delator apontou provas de que Macalé fez várias ligações para Suel e Ronnie nos dias que antecederam e se sucederam o duplo homicídio.
Quem é Ronnie Lessa?
Ronnie Lessa é apontado como o executor da vereadora e do motorista Anderson Gomes. Quando foi preso, em 2019, a Divisão de Homicídios (DH) encontrou 117 fuzis incompletos na casa de um dos seus amigos, na Zona Norte do Rio. Lessa foi condenado a 13 anos e seis meses de prisão por comércio ilegal de armas.
Em 2021, Ronnie Lessa foi condenado por destruição de provas relacionadas ao caso Marielle. Os condenados são acusados de sumir com armas utilizadas. Nesse ano, Lessa foi expulso da Polícia Militar do Rio de Janeiro. As informações são do portal g1.
Quem é Maxwell Simões Corrêa, conhecido como Suel?
De acordo com o g1, o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, atuou na “vigilância” e “acompanhamento” da vereadora.
Segundo as investigações, um dia depois das prisões dos ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, denunciados como autores dos crimes, Maxwell teria ajudado a ocultar armas de fogo de uso restrito e acessórios pertencentes a Ronnie.
De acordo com a investigação, Maxwell cedeu o veículo utilizado para guardar o vasto arsenal bélico pertencente a Ronnie para que o armamento fosse, posteriormente, descartado em alto mar.
Em 2020, foi detido sob acusação de tentar obstruir as apurações. No ano seguinte, condenado em razão das mesmas imputações. Ano passado, ele foi expulso do Corpo de Bombeiros.
Quem foi preso até o momento?
Queiroz, juntamente com Ronnie Lessa, foi preso em 2019 em razão de suas ligações com o caso Marielle. Ambos aguardam julgamento pelo Tribunal do Júri, mas a data da sessão ainda não foi agendada.
Maxwell Simões Corrêa, o Suel, foi preso nessa segunda-feira (24), na primeira fase da Operação Élpis, investigação que abrange os homicídios da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Como funciona a delação?
A delação premiada ou colaboração premiada, como é conhecida no meio jurídico, é um acordo que presos podem fazer com investigadores para reduzir a pena em troca de informações sobre crimes. A possível colaboração do investigado deve ser voluntária.
Próximos passos da investigação
Flávio Dino disse nesta segunda-feira que a delação feita por Queiroz "encerra" as investigações sobre os envolvidos diretamente ligados à execução de Marielle Franco e Anderson Gomes, sendo os principais: Élcio Queiroz, Maxwell Corrêa e o ex-PM Ronnie Lessa.
— A partir daí, as instituições envolvidas terão os elementos necessários ao prosseguimento da investigação. Não há, de forma alguma, a afirmação de que a investigação se acha concluída, pelo contrário. O que acontece é uma mudança de patamar da investigação. Há aspectos que ainda estão sob investigação, em segredo de Justiça. O certo é que nas próximas semanas provavelmente haverá novas operações derivadas desse conjunto de provas colhidas no dia de hoje (segunda) — disse o ministro.
Relembre o crime
A vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram assassinados no dia 14 de março de 2018, na Zona Central do Rio de Janeiro. Um Cobalt prata emparelhou com o carro da vereadora, por volta das 21h, e trezes disparos foram efetuados. Marielle foi atingida por quatro tiros na cabeça, Anderson, por três tiros nas costas. Os criminosos fugiram sem levar nenhum pertence.