No dia 10 de dezembro de 2021, chegou ao fim o júri que condenou à prisão os quatro réus do processo sobre a tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria. Apesar da posterior anulação da decisão, os depoimentos dos sobreviventes ao longo dos dias de julgamento se transformaram em registros históricos sobre os acontecimentos daquela fatídica madrugada.
Os depoimentos no júri
Ex-atendente da cozinha da boate, Kátia tinha 29 anos quando ocorreu a tragédia. A ex-funcionária ressaltou que a boate tinha só uma saída, obstaculizada por barras metálicas de contenção. Kátia disse ainda que era comum o uso de artefatos pirotécnicos na boate, presos a espumantes.
Kellen Giovana Leite Ferreira era frequentadora da Boate Kiss. Na madrugada de 27 de janeiro de 2013, ela teve 18% do corpo queimado, e perdeu o perdeu pé direito como consequência do incêndio.
Natural de Porto Alegre, onde cursava Engenharia de Minas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Emanuel estava de férias em Santa Maria quando aconteceu a tragédia, em 27 de janeiro de 2013. Ele e um irmão gêmeo, Guilherme (também universitário), foram à Kiss naquela noite. Quase não conseguiram sair. Ficaram presos em meio à multidão em fuga, logo após os primeiros gritos de "fogo".
Jéssica Montardo Rosado assistiu ao início do fogo e conseguiu sair quase ilesa, só com uma costela fraturada, em queda dentro da casa noturna. Suas maiores sequelas são emocionais: ela chorou sem parar ao lembrar do irmão, o estudante de Educação Física Vinícius Montardo Rosado, que morreu após salvar várias pessoas, intoxicado pela fumaça que engolfava o ambiente.
Delvani Rosso estava com o irmão e amigos na casa noturna na noite do incêndio. Quando viu uma movimentação estranha, em um primeiro momento, disse ter acreditado que havia acontecido uma briga. Só reparou que era algo sério quando todos se voltaram em direção à saída. Ele relatou que iniciou-se um empurra-empurra e perdeu o contato com os amigos — primeiro, caminhavam com os braços entrelaçados para não se afastar. As luzes se apagaram e o desespero tomou conta dos frequentadores, que pouco conseguiam se mexer na multidão, contou no depoimento.