Em reta final, o julgamento de mais dois réus acusados pela morte do ex-secretário da Saúde de Porto Alegre Eliseu Santos ocorre na noite desta quarta-feira (23) no Foro Central da cidade. Nesta quarta, ocorre a fase de debates entre acusação e defesa. São julgados Marcelo Machado Pio e Jonatas Pompeu Gomes. Este é o quarto júri do caso, outras quatro pessoas já foram condenadas pelo crime.
O júri começou na terça-feira (22). A previsão é que se encerre na madrugada desta quinta-feira (24).
Na noite de 26 de fevereiro de 2010, Eliseu saia de um culto no bairro Floresta. Ele se dirigia, junto com a mulher e a filha caçula, ao carro da família, quando foi abordado por dois homens, que saíram de um veículo. Segundo a viúva, Denise Goulart da Silva, ela e a filha já estavam no veículo quando o secretário, que ainda embarcava no carro, foi chamado pelo nome pela dupla, que passou a atirar contra Eliseu. O político chegou a reagir, disparando contra os bandidos e ferindo um deles, mas acabou morto.
O réu Marcelo Machado Pio é acusado de ser o mandante da morte. Ele era um dos sócios da Reação, empresa que tinha contratos com a secretaria na época, e fazia segurança em postos de saúde. O outro acusado, Jonatas Pompeu Gomes, trabalhou nessa firma por cerca de um mês, e teria participado do crime.
Conforme o MP, Eliseu teria sido morto por vingança. Ele teria descoberto um esquema de corrupção dentro da secretaria, que envolveria integrantes da pasta e pessoas ligadas à Reação, e encerrado o contrato com a empresa. Em razão de dívidas, a Reação acabou entrando em falência. A ação de Eliseu teria indignado os donos da firma, que teriam ordenado a morte do gestor público, segundo a tese da acusação.
Já a investigação da Polícia Civil concluiu que a morte ocorreu em uma tentativa de roubo de veículo que acabou frustrada. O inquérito foi remetido à Justiça como latrocínio (roubo com morte). Na época, as conclusões divergentes causaram mal-estar entre as instituições.
Em sua fala, o advogado Marcos Vinícius Barrios, que defende Pio, afirmou que o crime foi investigado por pessoas "experientes" dentro da Polícia Civil, e a conclusão foi que a morte ocorreu de forma aleatória, em um assalto. Ele pontua que o réu nada teve a ver com a morte.
— Se critica demais a polícia. Vários policiais experientes, experimentados, com décadas de polícia, viram que as cenas dos fatos dialogavam com latrocínio, e não com homicídio de mando. Eles investigaram Pio e não encontraram nada. Se é assim, não se pode denunciar, prender e pedir condenação.
O advogado também diz não ser razoável a ideia de que Pio contrataria um funcionário (o réu Jonatas) que recém havia entrado na empresa para um homicídio.
— O Ministério Público traz quatro mandantes da morte. Com motivações distintas. É como um consórcio para matar. Será que Pio, que andava no meio de policiais, como diz o próprio MP, precisaria se valer de um vigilante que estava no canteiro de obras para mandar matar Eliseu? Se Pio tinha tanto contato, precisaria buscar junto a um vigilante, um rapaz novo, para buscar executores para o Eliseu Santos? Isso é razoável? Não é possível — defendeu.
Na defesa de Jonatas, a defensora pública Tatiana Boeira sustentou que o réu trabalha há pouco tempo na Reação, que não tem envolvimento com crimes e é trabalhador.
— A defesa provou que o acusado Jonatas não participou da morte do secretário Eliseu, pois não fez contato algum com o seu irmão (Eliseu Pompeu Gomes), o executor, nem com os alegados mandantes do crime. A alegação de que ele devia favores para o ex-patrão (Pio) é irreal, para não dizer surreal, pois Jonatas trabalhou 35 dias em uma das obras que a empresa Reação fazia segurança, e sequer recebeu sua folha rescisória — disse Tatiana.
Eliseu foi executado, diz MP
Nesta manhã, em sua fala, a promotora Lúcia Helena Callegari ressaltou que um dos indícios de que a morte de trata de uma execução é o nome de Eliseu ter sido mencionado durante a ação:
— Quem é que chama alguém pelo nome para assaltar? Assaltante não chama ninguém pelo nome. Eles chamaram Eliseu pelo nome para ter certeza de quem era para matá-lo — disse Lúcia.
Segundo a promotora, o fato de os contratos com a Reação terem sido encerrados e a empresa ter falido teria revoltado os donos da empresa, que decidiram matar Eliseu.
A promotora relembrou diversas vezes sobre como foi momento dos disparos e que a viúva Denise Goulart e a filha caçula do casal estavam no local e presenciaram a troca de tiros – Eliseu também atirou contra os bandidos, acertando um. Lembrou que Denise contou ter ouvido um dos assassinos chamando Eliseu pelo nome.
A promotora citou que pessoas ligadas à empresa de segurança Reação estavam fazendo ameaças contra Eliseu. A Reação era alvo de investigação administrativa por parte do político, que na época era secretário da Saúde de Porto Alegre.
Durante sua fala, Lúcia mostrou aos jurados uma entrevista em vídeo de Eliseu Santos poucos dias antes do crime em que ele falava sobre o assunto.
— Tu tá nos perseguindo e nós vamos te matar — afirmou Eliseu, na entrevista, sobre o que teria ouvido dos investigados.
Nesta noite de quarta-feira, ainda ocorrerá a tréplica. Depois, os jurados se reúnem para decidir o destino dos réus, o que pode acontecer na madrugada desta quinta-feira (24).
Os réus já condenados
- Eliseu Pompeu Gomes e Fernando Junior Treib Krol (executores) foram sentenciados a 27 anos de prisão em 2016.
- Robinson Teixeira dos Santos foi condenado a 33 anos, cinco meses e 15 dias de prisão em 23 de setembro de 2022. Robinson dirigia o carro que levou os atiradores até o local do crime e esperou para fugirem.
- Jorge Renato Hordoff de Mello foi condenado a 42 anos e dois meses de prisão. Ele é um dos sócios da empresa Reação e apontado como mandante do crime.
No total, 13 pessoas foram denunciadas – uma já faleceu. O próximo júri está marcado para 12 de dezembro, com os réus Cássio Medeiros de Abreu, Marco Antonio Bernardes e José Carlos Brack. Ainda não há previsão de julgamento de outros dois acusados.