No quarto júri do caso envolvendo a morte do ex-vice-prefeito e ex-secretário da Saúde de Porto Alegre Eliseu Santos, que acontece nesta terça-feira (22), estão sendo julgados Marcelo Machado Pio e Jonatas Pompeu Gomes. A primeira testemunha a depor na sessão foi a viúva Denise Goulart da Silva.
Denise narrou os últimos momentos da vida de Eliseu. Contou que eles saíam de um culto no bairro Floresta, em Porto Alegre, e se dirigiam ao carro da família quando o marido foi abordado por dois homens, que saíram de um veículo. Perguntada pelos promotores Lúcia Helena Callegari e Eugênio Paes Amorim, recordou que os criminosos chamaram o marido pelo nome antes de atirar contra ele. Eliseu chegou a reagir e também a disparar contra os bandidos, ferindo um deles.
— Ele botou a mão no vidro e caiu. Aí eu saí correndo de dentro do carro. A nossa filha foi atrás. Eu segurei a cabeça dele. Eu comecei a gritar e chamar por socorro — descreveu a viúva.
Defensora de Jonatas, Tatiana Boeira disse que num primeiro depoimento à Polícia Civil, Denise não chegou a dizer que o marido foi chamado pelo nome.
— Lembro que chamaram ele pelo nome — reforçou a viúva.
Pergunta semelhante foi feita pelo advogado de Marcelo, Marcus Vinícius Barrios, com a mesma resposta da viúva. A tese das defesas é de que ninguém teria chamado Eliseu pelo nome.
Denise também disse que o marido estava sendo ameaçado há algum tempo. O político foi morto a tiros em 26 de fevereiro de 2010, diante da mulher e da filha caçula.
Marcelo Machado Pio era um dos sócios da empresa de segurança Reação e é acusado de mandar matar Eliseu. Jonatas Pompeu Gomes, que trabalhou na firma, teria participado do crime. Eliseu teria descoberto um esquema de corrupção dentro da Secretaria Municipal da Saúde, então comandada por ele, que envolveria servidores públicos e pessoas ligadas à Reação, terceirizada para atividade de segurança em postos de saúde.
O Tribunal do Júri é presidido pelo juiz Thomas Vinícius Schons, do 2º Juizado da 1ª Vara do Júri do Foro Central. A previsão é de dois dias de duração o julgamento.
Polícia Civil e Ministério Público divergiram sobre o motivo do crime. A Polícia Civil concluiu o inquérito sustentando que se tratava de latrocínio, roubo com morte, já que teria ocorrido tentativa de roubo do veículo do ex-prefeito. Já a Promotoria levantou outra hipótese: homicídio por vingança, já que Eliseu teria descoberto o esquema de corrupção. Na Justiça, prevaleceu a tese do MP.
O segundo a depor foi Paulo de Mello Aleixo, sogro da filha de Eliseu Santos e amigo dele. O homem relembrou que o político reclamava de ameaças por investigações que fazia dentro da Secretaria Municipal da Saúde, quando era titular da pasta.
— Ele me disse que estavam investigando a empresa Reação, que era uma empresa de segurança na época. Ele tinha um dossiê contra a Reação — contou a testemunha.
O terceiro a depor foi o policial civil Sylvio Edmundo dos Santos Júnior. Ele recordou que participou do início das investigações, nas primeiras horas do crime. Disse que naquela noite Marcelo Pio e Jorge Renato Hordoff de Mello, sócios da Reação, ligaram para ele perguntando se era verdade que Eliseu tinha morrido. E ambos teriam dito onde estavam naquele momento, o que ele achou estranho.
— Os números que me ligaram eram números diferentes, que não estavam na agenda do meu celular — disse o policial.
Sylvio Edmundo lembrou que dias depois do crime foi até a delegacia que investigava o caso e passou essa informação aos colegas, pedindo para depor. Segundo ele, foi dito que não precisaria, que o crime “não tinha nada que ver com a Reação”. Disse que chegou a insistir para fazer uma declaração, o que foi negado pelo colega. Recordou que foi até o gabinete do delegado, pedindo para esclarecer esse fato, o que também teria sido negado. Foi quando decidiu passar essas informações ao Ministério Público. A partir desse momento, segundo ele, passou a ser malvisto na instituição.
— Passei a ser uma voz divergente na Delegacia de Homicídios e persona non grata no Deic. Minha carreira na polícia especializada foi encerrada no caso Eliseu Santos — recordou o policial.
Sobre o crime, Sylvio disse que pela característica do fato, não poderia ser um latrocínio.
— Para mim, é característica de uma execução e nunca de um roubo de veículos — sustentou a testemunha.
Depoimento do governador
Dez testemunhas foram arroladas pelo MP do Rio Grande do Sul e pelas defesas. Dentre elas, está o governador Ranolfo Vieira Júnior. Ele não estará presente no plenário, vai depor de forma virtual. Ranolfo era chefe de Departamento de Investigações Criminais da Polícia Civil na época do crime. A previsão é que o depoimento comece às 15h.
Em 12 de dezembro, está previsto o júri de Cássio Medeiros de Abreu, Marco Antonio Bernardes e José Carlos Brack. Quatro réus já foram condenados em três júris. Não há previsão de julgamento de outros dois.
Pedidos negados
A defesa do réu Marcelo chegou a pedir o adiamento do júri alegando problemas de saúde, o que foi negado pelo juiz. Já a defesa de Jonatas ingressou com habeas corpus preventivo para evitar a prisão em caso de decretação em eventual condenação. O desembargador Sylvio Baptista Neto não conheceu o pedido.
Os réus já condenados
- Eliseu Pompeu Gomes e Fernando Junior Treib Krol (executores) foram sentenciados a 27 anos de prisão em 2016.
- Robinson Teixeira dos Santos foi condenado a 33 anos, cinco meses e 15 dias de prisão em 23 de setembro de 2022. Robinson dirigia o carro que levou os atiradores até o local do crime e esperou para fugirem.
- Jorge Renato Hordoff de Mello foi condenado a 42 anos e dois meses de prisão. Ele é um dos sócios da empresa Reação e apontado como mandante do crime.