Quarto réu a ir a julgamento no Caso Eliseu Santos, o empresário Jorge Renato Hordoff de Mello presta depoimento na noite desta quarta-feira (19). Ele nega envolvimento no caso. Mello é acusado de ser um dos mandantes do assassinato de Eliseu Santos, secretário da Saúde de Porto Alegre, morto a tiros em 2010 quando saía de um culto religioso. O quarto júri deste caso ocorre desde a manhã no Foro Central, em Porto Alegre.
Mello era um dos donos da empresa Reação, que prestava serviço de segurança em postos de saúde da Capital. Segundo o Ministério Público, Eliseu teria descoberto um esquema de pagamento de propina por parte da Reação para integrantes da secretaria de Saúde, com o objetivo de garantir os contratos de vigilância. Eliseu denunciou o caso e encerrou os contratos da secretaria com a Reação, o que teria revoltado os donos da empresa. Em razão de dívidas, a Reação acabou entrando em falência. Para o MP, Mello então teria ordenado a morte do secretário.
O empresário responde pelos crimes de homicídio qualificado, adulteração de sinal identificador de veículo automotor e corrupção ativa.
No depoimento, Mello afirmou que não tem ligação com o assassinato e que não conheceu Eliseu pessoalmente. Na Reação, disse ainda que lidava com a parte operacional da empresa e que teria apenas uma participação de 15% no negócio. Ele admitiu que a empresa pagava propina para a secretaria.
— Eu jamais faria alguma coisa para alguém que depois a primeira pessoa em evidência seria eu. Seria a pessoa mais burra do mundo ao fazer isso — disse.
Ao falar com a reportagem, Mello disse que a alegação do Ministério Público se assemelha à "ficção científica":
— O secretário não me pagava nada e não me devia nada. Eu nunca o vi, só pela televisão. Se o Ministério Público criou um crime de ficção científica, eles que provem.
Mello responde às perguntas dos promotores do MP. Pelas 21h30min, a sessão entrou em intervalo para a janta. Depois, a acusação deveria retomar os questionamentos.
Na sequência, Mello deve responder a questões de seu advogado de defesa, Cassyus de Camargo Pontes.
Após o depoimento do réu, começa a fase de debates entre acusação e defesa. Por fim, os jurados se reúnem e decidem se o réu é ou não culpado pelos crimes.
A previsão é que o júri avance durante a madrugada de quinta-feira (20). O juiz do caso é Thomas Vinícius Schons, da 1ª Vara do Júri de Porto Alegre.
Testemunhas
O júri de Mello começou por volta das 10h no Foro Central. Foram ouvidas cinco testemunhas de acusação e cinco de defesa.
Entre as de acusação, estão a viúva de Eliseu, Denise Goulart Silva, que descreveu o assassinato e confirmou que a vítima foi chamada pelo nome, por um dos assassinos.
Outra testemunha de acusação, o comunicador Leudo Costa (ex-advogado de Mello), se negou a prestar depoimento e alegou que está sendo ameaçado de morte. Disse que teve a casa dele arrombada por ladrões e que sofreu uma perseguição por veículos há cerca de 15 dias. Para ele, foram tentativas de intimidação por ser testemunha no caso. Apesar de não depor, Costa afirmou que mantém o que disse em depoimentos anteriores, em que confirmou que Mello tinha desavenças contratuais com Eliseu.
Uma das curiosidades do júri é que policiais civis que participaram da investigação ficaram de lados opostos no caso. Na acusação, foi ouvido como testemunha o agente Sylvio Edmundo dos Santos Júnior (hoje comissário). Ele trabalhava na Delegacia de Homicídios na época do assassinato e em seu depoimento disse ter se convencido de que Eliseu morreu numa emboscada.
Já outros dois policiais, os delegados Bolivar Llantada dos Reis e Heliomar Athaydes Franco, que também atuaram no caso, foram testemunhas de defesa do réu Mello. Eles dizem que o secretário foi morto durante um assalto, praticado por uma quadrilha de ladrões de carro.
— O que aconteceu, que está muito bem esclarecido, foi um roubo de automóvel com resultado morte. Não foi um homicídio. Todo o modus operandi indica isso, a abordagem, a forma como fugiram, a confissão de um deles. Eles escolheram a vítima de forma aleatória. Não consigo ver, sinceramente, a extensão desse delito (para além de um latrocínio, como sustenta o MP) — disse o delegado Franco.
Para o MP, no entanto, os criminosos foram contratados pelos donos da Reação para assassinar Eliseu.
Ao todo, foram acusadas 13 pessoas pelo crime. Mello foi o quarto réu a ir a júri. Outros três foram condenados. O mais recente julgamento foi o que sentenciou Robinson Teixeira dos Santos a mais de 33 anos de prisão por homicídio qualificado e fraude processual. Eliseu Pompeo Gomes e Fernando Junior Treib Krol receberam sentença, em maio de 2016, de 27 anos e 10 meses de prisão em regime fechado.
Para 2022, estão previstos mais dois júris do caso. Em 23 de novembro, devem ser julgados Marcelo Machado Pio (o outro sócio da empresa Reação) e Jonatas Pompeu Gomes. Em 12 de dezembro, está previsto o júri de Cássio Medeiros de Abreu, Marco Antonio Bernardes e José Carlos Brack. Todos negam envolvimento no crime.