A viúva de Eliseu Santos, secretário de Saúde de Porto Alegre assassinado em 2010, foi a segunda pessoa a prestar depoimento no júri do terceiro réu acusado pelo crime, que ocorre nesta quinta-feira (22) no Foro Central, em Porto Alegre. Denise Goulart Silva falou na condição de informante, e não de testemunha de acusação.
A mulher relatou que ela, o marido e a filha, então com sete anos, estavam em um culto na noite do crime, em 26 de fevereiro de 2010. Na ocasião, eles acompanhavam o batizado da irmã dela. Quando saíram do local, na Rua Hoffmann, no bairro Floresta, Eliseu abriu a porta do carro para a filha e para a esposa entrarem e, depois, fez a volta para entrar no veículo.
— Vi que estava vindo um carro prata, e vi dois homens jovens descendo. Eu estava dizendo para minha filha colocar o cinto, virada para ela. Quando ele foi abrir a porta, chamaram ele: "Eliseu". E ele já sacou a pistola. Eu vi tudo, parecia em câmera lenta — relembrou a esposa.
Denise contou que a filha ouviu os disparos, mas que ela começou a gritar e não escutou os tiros. Ela relatou que Eliseu foi atingido e uma marca de sangue ficou no vidro do veículo.
— Já saí correndo, ele já estava caído no chão. Segurei a cabeça dele, nossa filha saiu e assistiu tudo. Ele fez assim (suspiro) e aí eu vi que… Comecei a gritar por socorro, a chamar pessoas. Nossa filha tinha sete anos e se desesperou. Em seguida vieram pessoas da igreja. Eu dizia: “Me ajuda, por favor, é o Eliseu” — contou Denise.
Os promotores mencionaram uma entrevista em que Eliseu relatou ter sido ameaçado. Denise disse que chegou a questionar ele sobre isso, afirmou que o marido não falou sobre o assunto e que dizia estar resolvendo. Ela contou ter ficado sabendo, depois do crime, que Eliseu descobriu um esquema de corrupção na Secretaria da Saúde.
A viúva ainda falou sobre as dificuldades enfrentadas pela filha após o crime. Ela conta que a jovem, hoje com 19 anos, ainda tem dificuldade de falar sobre o pai e sobre o crime.
— É difícil até hoje porque ela não consegue falar o nome pai. Ela fala muito pouco, fez terapia, mas não consegue falar. Ela só fala “ele”, “quando aconteceu aquilo". Ela não consegue falar.
Denise ainda contou que a criança passou a fazer desenhos sem cor e sem a presença do pai logo após o crime:
— Ela era apegada mais a ele do que a mim. Tudo era o pai dela.
Questionada sobre o que mudou após o crime, Denise disse que tudo mudou:
— Em especial, a gente não teve mais a alegria que a gente tinha.
Réu seria o motorista do grupo
Robinson Teixeira dos Santos, 35 anos, é o terceiro réu a ser julgado pela execução do médico e político, após o Ministério Público (MP) apontar que Eliseu foi morto por encomenda. A motivação, segundo a acusação, seria uma denúncia contra suposto esquema de corrupção, envolvendo a empresa Reação, responsável pela vigilância em postos de saúde da Capital. No total, 12 pessoas foram acusadas de envolvimento no homicídio do secretário.
Robinson é apontado pelo MP como o responsável por dirigir o veículo onde estavam os executores de Eliseu. Para a promotora de Justiça Lúcia Helena de Lima Callegari, o réu, que está preso por envolvimento em outro crime, teve participação decisiva para que o crime fosse concretizado.
Além desse júri, há outros três previstos para serem realizados até dezembro deste ano, nos quais serão julgados mais seis réus. Ainda há dois acusados com processo em andamento, sem previsão de irem a júri, e um terceiro, que morreu no início deste ano.