O segundo e último dia do júri de dois dos réus do processo que apura as responsabilidades pela morte do ex-vice-prefeito de Porto Alegre Eliseu Santos começou com a manifestação do Ministério Público (MP) nos debates entre acusação e defesa. No primeiro dia, prestaram depoimento testemunhas e os réus Marcelo Machado Pio e Jonatas Pompeo Gomes.
A primeira a se manifestar foi a promotora Lúcia Helena Callegari. Com diversos papéis numa mesa com anotações, escrevendo num quadro e passando vídeos com partes do processo, ela reforçou o entendimento de que trata-se de um caso de homicídio e não de latrocínio (roubo com morte), como sustentou a Polícia Civil ao final do inquérito. Lúcia diz que os atiradores chamaram Eliseu Santos pelo nome antes de disparar.
— Quem é que chama alguém pelo nome para assaltar? Assaltante não chama ninguém pelo nome. Eles chamaram Eliseu pelo nome para ter certeza de quem era para matá-lo — disse Lúcia.
A promotora relembrou diversas vezes sobre como foi momento dos disparos e que a viúva Denise Goulart e a filha caçula do casal estavam no local e presenciaram a troca de tiros — Eliseu também atirou contra os bandidos, acertando um. Lembrou que Denise contou ter ouvido um dos assassinos chamando Eliseu pelo nome.
— Por que os assaltantes foram baleados? Porque estavam acostumados a fazer roubos, não estavam acostumados a assassinatos — disse a promotora sobre os atiradores que, segundo a acusação, foram contratados pelos sócios da Reação para matar o político.
A promotora citou que pessoas ligadas à empresa de segurança Reação estavam fazendo ameaças contra Eliseu. A Reação era alvo de investigação administrativa por parte do político, que na época era secretário da Saúde de Porto Alegre. Era uma terceirizada que prestava serviços em postos de saúde.
Durante sua fala, Lúcia mostrou aos jurados uma entrevista em vídeo de Eliseu Santos poucos dias antes do crime em que ele falava sobre o assunto.
— Tu tá nos perseguindo e nós vamos te matar — afirmou Eliseu, na entrevista, sobre o que teria ouvido dos investigados.
Lúcia disse que Marcelo Machado Pio era desafeto de Eliseu Santos. A promotora recordou os motivos para que o contrato com a Reação fosse encerrado, citando dívidas com funcionários e impostos. A promotora mostrou vídeos que seriam de um suposto esquema de corrupção envolvendo os sócios da Reação — Marcelo e Jorge Renato Hordoff de Mello, já condenado —, e Marco Antônio de Souza Bernardes, que era assessor jurídico da Secretaria da Saúde de Porto Alegre. Bernardes estaria cobrado propina da empresa.
Sobre o réu Jonatas, Lúcia lembrou que ele foi funcionário da empresa Reação e é irmão de Eliseu Pompeo Gomes, um dos atiradores e já condenado nesse caso. Disse que Jonatas, mesmo preso no regime semiaberto, fez várias ligações para o irmão e para outros envolvidos no crime.
— Ele gerenciou esse fato. Por isso ele foi denunciado — disse a promotora, ao sustentar que mesmo no semiaberto ele participou do crime.
Depois, falou o promotor Eugênio Paes Amorim. Ele também voltou a reforçar o entendimento do Ministério Público sobre o crime de homicídio. Sobre Marcelo, disse que foi o responsável por mandar matar Eliseu:
— Vocês têm de julgar que houve um homicídio, de que ele tinha interesse em matar a vítima, de que ele participou das ameaças em relação à vítima, de que ele participa do mando do homicídio.
Ao final, Amorim pediu a condenação de ambos os réus.
À tarde, os advogados dos réus serão ouvidos. Serão duas horas e meia, divididas entre as defesas dos dois acusados. Depois, ainda haverá tempos para réplica e tréplica.
Um dos réus não compareceu. O juiz Thomas Vinícius Schons, do 2º Juizado da 1ª Vara do Júri do Foro Central, que preside os trabalhos, decidiu seguir com o julgamento, mesmo sem a presença dele.
Em 12 de dezembro, está previsto o júri de Cássio Medeiros de Abreu, Marco Antonio Bernardes e José Carlos Brack. Quatro réus já foram condenados em três júris. Não há previsão de julgamento de outros dois.
Réus já condenados
- Eliseu Pompeu Gomes e Fernando Junior Treib Krol (executores) foram sentenciados a 27 anos de prisão em 2016.
- Robinson Teixeira dos Santos foi condenado a 33 anos, cinco meses e 15 dias de prisão em 23 de setembro de 2022. Robinson dirigia o carro que levou os atiradores até o local do crime e esperou para fugirem.
- Jorge Renato Hordoff de Mello foi condenado a 42 anos e dois meses de prisão. Um dos sócios da empresa Reação, mandante do crime.