O governador do Estado, Ranolfo Vieira Júnior, prestou depoimento no júri do caso de assassinato do ex-secretário da Saúde de Porto Alegre Eliseu Santos, que ocorre nesta terça-feira (22), no Foro Central, na Capital. Na época da morte, em 2010, Ranolfo era chefe de Departamento de Investigações Criminais da Polícia Civil. Ele depôs como testemunha de defesa dos dois réus que são julgados nesta terça, Marcelo Machado Pio e Jonatas Pompeu Gomes. Este é o quarto júri do caso, outras quatro pessoas já foram condenadas pelo crime.
O governador, assim como outras pessoas que têm ligação com a Polícia Civil, foi chamado para falar sobre a divergência na investigação da instituiçao e do Ministério Público. Para a autoridade policial, o crime se trata de latrocínio (roubo com morte), e os criminosos tinham o objetivo de roubar o veículo do ex-prefeito. Essa foi a conclusão do inquérito remetido à Justiça pelos policiais civis.
Já o MP levantou outra hipótese: homicídio por vingança, tese que prevaleceu na Justiça. Para a promotoria, Eliseu teria descoberto um esquema de pagamento de propina por parte da Reação (empresa de segurança da qual o réu Pio era sócio, e Jonatas, funcionário) para integrantes da secretaria de Saúde, com o objetivo de garantir os contratos de vigilância. Eliseu denunciou o caso e encerrou os contratos da secretaria com a Reação, o que teria revoltado os donos da empresa.
Em razão de dívidas, a Reação acabou entrando em falência. Para o MP, Pio ordenou a morte de Eliseu por vingança. O sócio dele, o empresário Jorge Renato Hordoff de Mello, que seria o outro mandante, foi julgado no mês passado e condenado a 42 anos e dois meses de prisão em regime fechado.
Na noite de 26 de fevereiro de 2010, Eliseu saia de um culto no bairro Floresta. Ele se dirigia, junto com a mulher e a filha caçula, ao carro da família, quando foi abordado por dois homens, que saíram de um veículo. Segundo a viúva, Denise Goulart da Silva, o secretário foi chamado pelo nome pela dupla, que passou a atirar contra Eliseu. O político chegou a reagir, disparando contra os bandidos e ferindo um deles, mas acabou morto.
Por videoconferência, o governador lembrou que foi ao local do crime logo após a morte, ao tomar conhecimento de que o secretário da cidade havia morrido. Ele afirmou que o local estava isolado quando chegou e que conversou com policiais e testemunhas no lugar, mas destacou que não foi o responsável pela investigação:
— Em nenhum momento, presidi a investigação, não há nenhum ato meu como autoridade policial na apuração, porque era um diretor administrativo do departamento. Me recordo da evolução da investigação, de prova farta do ponto de vista criminalístico. Ao final, a polícia chegou à conclusão de que se tratava de um crime contra o patrimônio, uma tentativa de roubo de veículo. Pelo que me recordo dos fatos, até a conclusão da investigação, absolutamente nada apontava em um sentido contrário.
Ranolfo afirmou ainda que esteve com promotores na época, e que integrantes das duas instituições trocaram informações sobre o caso durante a investigação, com o objetivo de elucidar a morte. Em relação à divergência entre polícia e MP, afirmou que é comum haver conclusões diferentes:
— Não vai ser a primeira nem a última vez que a polícia vai chegar a uma conclusão e o MP a outra. Isso é do nosso sistema legal, processual.
O governador afirmou ainda que o carro usado pela vítima, um Corola, se enquadra no tipo de veículo que era visado por criminosos na época. E negou as acusações feitas por uma das testemunhas de acusação, o policial civil Sylvio Edmundo dos Santos Júnior, que participou do início das investigações nas primeiras horas do crime — ele afirmou ter alertado demais policiais sobre o possível envolvimento da Reação no caso e ouvido que o crime não tinha relação com a empresa. Sylvio Edmundo dos Santos Júnior relatou que chegou a insistir com os colegas para fazer uma declaração no caso, o que foi negado mais de uma vez. Foi quando decidiu levar as informações ao Ministério Público. A partir disso, diz que passou a ser malvisto na instituição e "persona non grata no Deic", e que sua "carreira na polícia especializada foi encerrada" nessa época.
— Eu não faria qualquer movimentação de servidor em razão de qualquer posicionamento de natureza pessoal. Não é do meu perfil. Não sei quando esse policial foi removido do Deic, se foi ainda durante a minha gestão — declarou Ranolfo.
Dia de júri
Após o depoimento de Ranolfo, a segunda testemunha de defesa a ser ouvida é o delegado Bolivar Llantada dos Reis, um dos que investigou o caso. O policial também sustenta que o secretário foi morto durante um assalto, praticado por uma quadrilha de ladrões de carro. Durante a manhã, foram ouvidas as testemunhas de acusação, como a viúva de Eliseu.
A previsão é de dois dias de duração o julgamento. Na quarta-feira (23), ocorrem os debates entre acusação e defesa. Depois, os jurados se reúnem para decidir sobre os réus.
O Tribunal do Júri é presidido pelo juiz Thomas Vinícius Schons, do 2º Juizado da 1ª Vara do Júri do Foro Central.
O próximo júri está marcado para 12 de dezembro, com os réus Cássio Medeiros de Abreu, Marco Antonio Bernardes e José Carlos Brack. Quatro réus já foram condenados em três júris. Não há previsão de julgamento de outros dois. No total, 13 pessoas foram denunciadas — uma já faleceu.