Em 12 de agosto de 2018, Francine Rocha Ribeiro passou o Dia dos Pais com a família, em Vera Cruz, no Vale do Rio Pardo. Almoçou com o pai e lhe entregou um último presente. Depois, despediu-se e retornou à casa da mãe, no bairro Bom Jesus, para trocar de roupa. Dali, seguiu até o Lago Dourado, ponto turístico de Santa Cruz do Sul, a cerca de três quilômetros, onde pretendia se exercitar. Às 14h55min, a jovem entrou no parque, alongou-se para a caminhada e tirou fotos sentada na pista. Depois disso, nunca mais foi vista com vida pela família.
O desaparecimento de Francine, que terminou com seu corpo encontrado na manhã seguinte em uma área de mato nos arredores do lago, a cerca de 400 metros da pista, terá desfecho nas próximas semanas. Jair Menezes Rosa, 62 anos, apontado como autor do crime, será julgado no dia 18 de novembro no Fórum de Santa Cruz do Sul. O Tribunal do Júri, composto por sete jurados, decidirá se o réu, que está preso há quatro anos, é ou não culpado pelo crime que estarreceu a região.
Além do homicídio qualificado, o preso responde pelo estupro da jovem e também por furto, já que alguns pertences dela desapareceram. A defesa do réu nega a autoria e diz que pretende provar isso em plenário. Já o Ministério Público sustenta a acusação de que foi ele quem atacou, violentou e matou Francine naquela tarde. Na época, o suspeito, que residia nas proximidades do parque onde aconteceu crime, foi preso 11 dias após a jovem desaparecer.
O júri, previsto para começar às 9h30min, deve se encerrar no mesmo dia. A estimativa do Judiciário é que a sentença seja proferida pela juíza Márcia Inês Doebber Wrasse por volta das 21h. Ao longo da sessão, serão ouvidas três testemunhas. Um dos depoimentos aguardados é o de Franciele Rocha Ribeiro, 28 anos, irmã gêmea de Francine.
Além dela, também falarão pela acusação a delegada Lisandra de Castro de Carvalho, que na época era titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Santa Cruz do Sul, e o delegado regional Luciano Menezes, que também foi um dos responsáveis por conduzir as investigações. Pelo Ministério Público, atuará o promotor Flávio Eduardo de Lima Passos. Também estará em plenário, como assistente da acusação, o advogado Roberto Alves de Oliveira.
A defesa não indicou nenhuma testemunha para ser ouvida. Por fim, será interrogado o réu, que segue preso de forma preventiva desde a época do assassinato. Responsável pela defesa dele, o advogado Mateus Porto afirma que o cliente deverá apresentar sua versão aos jurados já que ele nega que cometeu o crime.
Investigação
O caso, que começou como um desaparecimento até o corpo da jovem ser encontrado, levou a polícia a investigar diferentes hipóteses. Uma das suspeitas era de que o assassino fosse alguém que conhecia a localidade, em razão do difícil acesso. A polícia conseguiu identificar dois caçadores que relataram ter visto um homem numa trilha próxima do caminho para o lago. O mesmo trajeto levava ao ponto onde o corpo de Francine foi encontrado pelos familiares. Os caçadores afirmaram que o homem parecia estar fugindo quando foi visto e que vestia roupas camufladas.
Quando passaram a investigar as pessoas que costumavam frequentar aquela região, os policiais chegaram ao nome de Jair pela primeira vez. Morador do bairro Várzea, nas proximidades do acesso ao parque, ele teria saído de casa naquela tarde, após uma discussão familiar, vestindo roupas semelhantes às descritas pelos caçadores. O suspeito foi identificado pelas testemunhas como o mesmo avistado no matagal. No entanto, quando foi ouvido, negou o crime e disse que não esteve no local.
Foi uma perícia técnica que permitiu concluir, segundo a polícia, que era mesmo ele o autor do crime e pedir a prisão. Quando Francine foi encontrada morta, a perícia coletou material genético no corpo e nas roupas dela. A intenção era fazer o confronto com o DNA de algum eventual suspeito, e assim foi feito quando Jair foi apontado como possível autor do assassinato. O exame indicou que o material era compatível com o do preso. Para a polícia, o resultado trouxe a certeza de que o autor havia sido identificado.
A investigação concluiu que Francine foi atacada, violentada, e depois assassinada para que não reconhecesse o autor. A necropsia apontou que a jovem foi assassinada por asfixia mecânica e espancamento — ela sofreu hemorragia interna no abdômen. Alguns objetos levados da vítima, como o celular, um par de óculos escuros e um casaco não foram localizados, o que levou a polícia a também indiciar o suspeito por furto.
Mais tarde, o suspeito foi denunciado pelo Ministério Público pelos mesmos crimes, e a denúncia foi aceita, fazendo com que ele se tornasse réu. Após a sentença da Justiça que determinou que Jair fosse levado a júri, ainda houve recursos na tentativa de reverter a decisão. Em razão dessas etapas, o julgamento será realizado somente quatro anos depois. Procurado por GZH, o MP informou que como o processo está sob sigilo, por determinação legal, só se manifestará sobre o caso durante o julgamento, em plenário.
Para acompanhar
O acesso do público ao julgamento será efetuado de forma limitada, por isso, quem tiver interesse em acompanhar a sessão deve fazer solicitação ao Judiciário. O pedido deve ser encaminhado para o e-mail do gabinete da 1ª Vara Criminal de Santa Cruz do Sul (frsantcruzjz1vcri@tjrs.jus.br) a partir desta terça-feira (1º).
Contraponto
Segundo o advogado Mateus Porto, Jair nega ter sido o autor do assassinato da jovem e a defesa buscará comprovar isso durante o julgamento.
— Ele se declara inocente. Durante o júri do próximo dia 18 vindouro serão externados os argumentos técnicos nesse sentido — afirma o responsável pela defesa do réu.