Foi concluída a investigação policial sobre o ataque a um bar no bairro Campo Novo, na Zona Sul, considerado o maior realizado durante o conflito de facções em Porto Alegre. Cinco pessoas foram indiciadas pelo atentado que ocorreu em 4 de setembro e deixou três pessoas mortas e 27 feridos. Como a polícia já havia indicado, o episódio foi motivado pela disputa entre duas facções na Capital. O crime foi orquestrado por um grupo criminoso que nasceu no Vale do Sinos, considerado hoje o maior do Estado, em retaliação a uma facção rival, que atua na Vila Cruzeiro.
O grupo foi indiciado por três homicídios consumados (com qualificadores de vingança e impossibilidade de defesa das vítimas) e 27 homicídios tentados, além de formação de quadrilha. Segundo a polícia, os indiciados não teriam constituído defesa até o momento.
Foram indiciados Fabiano Barbosa dos Santos e Renato Fão Gambini, que seriam os mandantes do episódio e ordenaram o crime de dentro da cadeia. Atualmente, estão presos na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Eles seriam lideranças da facção do Vale do Sinos. Leonardo De Neque Knorr, Nicolas Becker Hiwatashi e Dyonathan Luís Marques Pérez teriam sido os atiradores que causaram as mortes naquele dia. Knorr e Hiwatashi foram presos preventivamente em uma operação no condomínio Princesa Isabel, no dia 7. Pérez foi capturado pouco depois, no dia 13, no interior do Rio de Janeiro, em uma ação que envolveu trabalho conjunto da polícia Civil gaúcha e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Segundo a polícia, os cinco indiciados não foram chamados a prestar depoimento durante a investigação, porque não teria sido necessário.
O inquérito foi encaminhado à Justiça no dia 14. O Ministério Público afirmou que ainda aguarda documentações de vítimas para se manifestar sobre no processo, fazendo ou não a denúncia dos suspeitos.
Na noite do atentado, ao menos 80 pessoas estariam no bar no momento em que os atiradores passaram a disparar contra a multidão. A polícia afirma que mais de 90% das pessoas ali não tinham nenhum envolvimento com o crime. Entre as vítimas baleadas, estavam mulheres e crianças.
Uma delas, Prisciele Leticia Castilhos Farias, 29 anos, morreu com um disparo na cabeça. A filha dela, de apenas quatro anos, segundo a polícia, também foi baleada, mas sobreviveu. Dabson Jordan Simões de Moura, 23 anos, morreu. Hospitalizada, uma adolescente de 17 anos, identificada como Manoela Yres Campos, perdeu a vida dias depois. Pelo menos outras duas pessoas precisaram permanecer hospitalizadas em razão de ferimentos graves.
De acordo com o delegado Rodrigo Pohlmann Garcia, a polícia ainda aguarda o resultado de perícias em celulares para verificar se mais pessoas estão envolvidas no caso – há ao menos outros dois homens que poderiam ter ligação. Ao menos 10 aparelhos foram apreendidos durante a ação no condomínio Princesa Isabel.
Segundo Pohlmann, o ataque foi mais uma das retaliações promovidas pela facção do Vale do Sinos. O local do atentado foi escolhido porque é dominado pelo grupo da Zona Sul.
— Inicialmente, havia a questão de uma dívida, referente ao tráfico de drogas, que o grupo da Zona Sul não teria pago à facção do Vale do Sinos. Depois tiveram mais alguns fatores, como a perda de um ponto de tráfico perto do postão da Cruzeiro, que era do grupo do Vale do Sinos e foi tomado pelo da Zona Sul, o que também contribuiu para esses ataques.
Segundo a polícia, outra ação que é atribuída a facção do Vale do Sinos é a que deixou um homem decapitado, episódio em que a cabeça da vítima foi deixada na Vila Cruzeiro, em agosto. Há outras ações realizadas pelo grupo da Zona Sul, em retaliação a facção rival.
A guerra entre os grupos iniciou em março, depois que o grupo da Capital teria deixado de pagar uma dívida com o rival. O valor, referente ao tráfico de drogas, é estimado em, ao menos, R$ 800 mil. A sequência de ataques entre os grupos, que se concentrou especialmente em março e abril, deixou mais de 30 mortes.
Após uma série de ações das forças de segurança – como reforço no policiamento nos bairros, prisões, transferência e isolamento de lideranças que ordenavam os ataques de dentro do sistema penitenciário – o conflito arrefeceu em maio.
Em junho, no entanto, o assassinato de uma liderança do grupo da Zona Sul teria reacendido a briga. Pouco depois, em julho, a facção do Vale do Sinos foi expulsa pelo grupo rival do único ponto de tráfico que controlava dentro da Vila Cruzeiro. Assim, a facção da Zona Sul assumiu o comando do Acesso 5 da Cruzeiro. A partir disso, uma série de ataques passou a ser executada pelas fações, demonstrando as retaliações entre os grupos.
Novos ataques são investigados
A polícia investiga novos ataques que ocorreram na cidade no domingo (23). As equipes apuram se eles teriam relação com o conflito entre as facções.
Em um deles, uma mulher morreu e um homem ficou ferido após indivíduos passarem atirando em frente a um bar no bairro Coronel Aparício Borges, na Zona Leste. O crime aconteceu por volta das 2h de domingo. Thaina Luz da Silva, de idade não confirmada, foi atingida por um dos tiros e não resistiu aos ferimentos, morrendo ainda na madrugada. O homem ferido, de 39 anos, não teve a identidade divulgada pela polícia.
Na noite de domingo, um homem foi morto a tiros na Rua Irmã Nely, no bairro Partenon, também na Zona Leste, por volta das 19h. A vítima estava sentada em uma cadeira em frente a um bar quando três criminosos realizaram os disparos. Segundo a polícia, o homem usava uma muleta e não conseguiu fugir. Ele foi identificado como Alexsander Cristiano Cardoso da Silva, 45 anos.
Em outra ocorrência registrada, agentes da força tática da Brigada Militar (BM) abordaram e prenderam três pessoas em flagrante, que estavam com armas e drogas. O caso ocorreu no final da noite de domingo na Zona Sul.
O trio estava em um carro clonado que foi abordado pela equipe. Dentro do veículo, os policiais encontraram as armas, munição e uma pequena quantidade de drogas. As identificações dos presos não foram informadas.
A suspeita da polícia é que o grupo estivesse planejando um ataque na região, o que será investigado.