O Rio Grande do Sul teve uma nova redução nos registros de estelionato. Em setembro, foram 6.011 ocorrências feitas junto a polícia, contra os 7.689 no mesmo mês do ano passado, uma queda de 21,8%. São 1.678 registros a menos na comparação entre ambos períodos. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública (SSP) do RS. Mesmo com a redução, a criatividade dos criminosos não para e a população precisa estar atenta para evitar cair em novos golpes.
Para a Polícia Civil, a queda no número de casos é resultado de diferentes fatores, como uma maior conscientização por parte das pessoas e ações de combate realizadas pela instituição. Na comparação de setembro com agosto deste ano, quando houve 7.213 registros, também há uma redução, mas de 16,6%.
— Há toda uma atividade de repressão a esses crimes por parte da polícia. As delegacias estão cheias de inquéritos de estelionato, há bastante trabalho sendo feito. Além disso, a sociedade também está mais alerta, são muitos golpes que se repetem, então as pessoas já os percebem com mais rapidez. Até mesmo os bancos, já há um cuidado ainda maior na abertura de contas e outros procedimentos, por exemplo — avalia o delegado André Anicet, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Durante a pandemia do coronavírus, os casos de golpes aumentaram, especialmente os cometidos pela internet, já que as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa e conectadas. Entre os tipos de golpe que se popularizaram no período, estão o de venda de produtos pelas redes sociais (que é feito em perfis invadidos por criminosos) e o de oferta de emprego, que normalmente chega pelo WhatsApp e mensagens de textos (SMS).
Apesar da diminuição vista nos últimos meses, o número ainda é alto: são quase 250 golpes por dia no Estado. No total, foram registrados 67.842 estelionatos no RS entre janeiro e setembro. Além disso, há ainda a subnotificação, quando as pessoas vítimas de estelionatos não registram ocorrência na polícia.
Nesse sentido, Anicet destaca a importância de comunicar as forças de segurança sempre que se tomar conhecimento de crimes:
— Muita gente acaba só denunciando para o WhatsApp ou o Instagram, e não registra a tentativa ou o golpe na polícia. Só que essa comunicação é importante, especialmente quando vem com detalhes, como o número de telefone que entrou em contato, a conta bancária usada por criminosos. Tudo isso entra na nossa estatística. Além disso, quando se consegue reunir vários golpes aplicados por uma mesma pessoa ou grupo, o inquérito se torna mais robusto. Você consegue mapear os vários casos e isso ajuda na hora de pedir medidas cautelares à Justiça contra aquele criminoso — afirma Anicet.
"Golpe da telha": enganação e furto
Um dos casos registrados entre setembro e outubro no Estado foi o chamado Golpe da Telha. Na ação, registrada no Litoral Norte, um grupo vai até a casa de vítimas e oferece conserto de telhas que estariam quebradas. Ao entrar na residência, os criminosos passam a furtar itens. O alvo são pessoas com mais idade, segundo a polícia.
— Eles se apresentavam com o kit completo: escada, capacete, caixa de ferramentas. Diziam que estavam trabalhando no conserto do telhado de um vizinho e que perceberam que a casa da vítima também tinha telhas quebradas. Aí a pessoa acabava acreditando, porque pareciam estar a trabalho. Ao subir no telhado, eles mesmos quebravam as telhas e pediam R$ 50 para conserto. Mas isso era só o começo, depois eles cometiam os furtos — explica o inspetor de polícia em Balneário Pinhal, Guilherme Colpo.
Após ganhar a confiança das vítimas e começar o suposto conserto, os criminosos as enrolavam, pediam para usar o banheiro, e iam furtando objetos das casas.
Na manhã do dia 10, durante a ação, eles furtaram uma carteira da casa de uma idosa em Balneário Pinhal. O objeto pertencia ao filho dela, que não estava no local naquele momento. Horas depois, o homem recebeu uma notificação do banco no celular, confirmando um pagamento que ele não havia feito.
— Eu estranhei. Apareceu um gasto de R$ 250 reais. Aí descobri que tinham levado a carteira. Minha mãe não acreditou, dizia que eu tinha perdido em algum lugar. Só acreditou quando eu cheguei em casa com o cartão, depois de buscar na delegacia. Como esse grupo aí foi simpático, educado, ela seguiu achando que não tinha a ver com eles. É algo lamentável — diz a vítima, que preferiu não se identificar.
O cartão foi levado naquela manhã, e à tarde os homens foram presos, ao tentarem fazer uma nova vítima, dessa vez em Cidreira. O trio foi flagrado por uma equipe da Brigada Militar na casa de uma mulher e o golpe acabou frustrado. Eles foram presos por furto qualificado e associação criminosa. Dois homens tiveram a prisão em flagrante convertida em preventiva, e um foi liberado pela Justiça por ser réu primário, segundo a polícia. O nome deles não foi divulgado.
Há ao menos três ocorrências contra o grupo registradas em Balneário Pinhal e uma em Cidreira. Segundo a polícia, o trio teria admitido que vinha agindo em diferentes cidades do Litoral Norte no último mês.
— Mas fizeram a mesma coisa em outras cidades também, porque há ocorrências em Viamão e em Porto Alegre. O inquérito segue em andamento e também investigamos se mais pessoas estão ligadas ao trio — explica o delegado de Pinhal, que também atende Cidreira, Rodrigo Nunes.
Dicas para não cair em golpes
- Golpistas, em geral, oferecem vantagens para atrair a vítima e têm pressa para obter lucro. Fique atento;
- Não envie dados pessoais ou cópias de documentos para desconhecidos;
- Se estiver acertando qualquer tipo de aluguel, seja por temporada ou permanente, visite o imóvel antes de fechar o negócio;
- Na hora de comprar algo pela internet, desconfie se o site só aceitar pagamento por boleto ou transferência, se tiver falhas ou erros na página e se o único contato for por WhatsApp;
- Desconfie de publicações na internet que ofereçam serviços e bens por valor abaixo do preço de mercado;
- Não adquira produtos pela internet sem antes se certificar de quem está vendendo. Mesmo que seja um perfil conhecido, só efetue o pagamento após conversar diretamente com a pessoa;
- No momento do pagamento, seja por Pix ou transferência, confira se o nome do destinatário é o mesmo de quem se está adquirindo o produto;
- Não repasse códigos recebidos no celular. Essa é uma das principais estratégias usadas para hackear contas no WhatsApp e no Instagram;
- Certifique-se de que a pessoa com quem você está conversando por WhatsApp, por exemplo, é ela mesma. É possível conferir isso telefonando para o contato;
- Desconfie de ligações de desconhecidos e nunca repasse informações pessoais;
- Durante a venda de algum item, só entregue o produto após o dinheiro entrar na conta ou receber o valor. Não confie em comprovantes de transferência porque eles podem ser falsificados;
- Se tiver um familiar idoso, oriente a pessoa sobre os golpes mais comuns e como se prevenir deles;
- Caso seja vítima, registre a ocorrência. É possível utilizar a Delegacia Online. Reúna todas as informações que podem servir como provas, como dados bancários, conversas por mensagens e fotografias.
Fonte: Polícia Civil do RS