Com estilo jovial, tatuagens pelo corpo, simpatia e boa conversa, uma mulher de 42 anos se apresenta como compradora de mão cheia. Ao primeiro contato, convence comerciantes de que é consumidora com bom gosto. Conhece grifes e tendências. Assim, seduz vendedores para distrai-los.
É dessa maneira que atua a suspeita procurada pela equipe da 3ª Delegacia de Polícia (DP) de Porto Alegre após vídeos flagrarem furtos em lojas do bairro Moinhos de Vento. Faz isso há, pelo menos, 18 anos.
O primeiro procedimento contra a mulher, identificada a partir das imagens captadas pelas vítimas, foi instaurado em 2006, na Capital. Depois dele, foram 23 ocorrências registradas por furtos, que geraram 15 inquéritos, todos remetidos às autoridades judiciárias.
Os registros foram feitos na Capital e em municípios como Canoas, Lajeado, Nova Prata, Veranópolis e Farroupilha. A polícia apura a possibilidade de serem mais cidades.
Perfil profissional
Para a delegada Rosane de Oliveira, titular da 3ª DP, trata-se de uma "criminosa contumaz, que faz dos furtos um meio de vida".
— Ela é fria, oportunista. Permanece interagindo naturalmente com suas vítimas até acontecer um descuido. Leva objetos dos quais reconhece o valor e tem para quem vendê-los. É uma profissional do crime. Enquanto tanta gente sai de casa diariamente para trabalhar, ela sai para furtar o que dos outros — descreve.
A delegada diz que irá manter os quatro recentes casos que chegaram ao conhecimento de sua equipe de investigadores em quatro diferentes inquéritos. Tomará depoimentos, anexará autos de reconhecimento fotográfico e imagens que mostram a ação nos comércios atacados.
— O furto é um crime praticado sem emprego de violência ou grave ameaça e nem sempre resulta em prisão. Mas estamos falando de uma conduta longeva e reiterada. De uma pessoa que prejudica outras como meio de vida. Uma pessoa que não respeita regras e não pode compartilhar do convívio em sociedade. Por isso, vamos robustecer as provas para remeter inquéritos consistentes ao Judiciário — define Rosane.
A policial destaca que podem surgir novas denúncias e orienta que contatos podem ser realizados com a equipe de investigação, com garantia de preservação do anonimato, pelo telefone 51 98464-3032.
Tatuagens diversas
Os investigadores chegaram à identificação da suspeita, cujo nome é mantido em sigilo por pedido das autoridades, partindo de uma triagem pelo perfil.
Buscaram mulheres com antecedentes de furtos, com idade em torno dos 40 anos, comparação de imagens atuais e registros passados.
Contudo, elemento definitivo para a apuração foi o conjunto de tatuagens, de diversos estilos e desenhadas em diferentes espaços da pele.
— Tem uma imagem feminina, tipo boneca, em um dos braços, inscrições em outro, um grande dragão nas costas. Essas características compõem o visual e ajudaram minha equipe a determinar a identidade da suspeita — explica a delegada.