Uma semana depois da morte do empresário Nelson Joel de Oliveira Ferreira, 61 anos, e do seu filho, Anderson Guedes Ferreira, 36, em Triunfo, na Região Carbonífera, algumas indefinições travam a conclusão do inquérito da Polícia Civil. Os dois foram mortos a tiros dentro da empresa de Nelson Joel.
Segundo o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ), o suspeito do ataque foi identificado como Ivandir Siqueira de Oliveira, 39 anos. Ele trabalhava como cozinheiro na empresa, que presta serviços de transportes há pelo menos 12 anos em Triunfo e municípios da região. Oliveira se apresentou à polícia após ficar foragido por dois dias e está preso preventivamente na Penitenciária Estadual de Sapucaia do Sul.
A tendência é de que o homem seja indiciado por homicídio duplamente qualificado. Contudo, o inquérito, que possui prazo de 10 dias, podendo ser prorrogado por mais 15 dias, não tem data para ser concluído.
Um dos motivos para isso é a falta de conhecimento do número de disparos efetuados contra cada vítima. Para obter essa informação, a delegada Sandra Guaglianoni aguarda a conclusão do laudo de necropsia feito pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP). Segundo o órgão, esses documentos costumam levar em média 30 dias para ficarem prontos.
Segundo a polícia, ao que tudo indica, o crime foi motivado por uma discussão que teve início devido a ordenha de uma vaca. Segundo a delegada, o suspeito e sua esposa moravam em um terreno, localizado junto à empresa, onde eram encarregados de cuidar de alguns animais.
Segundo relatou em seu depoimento, a esposa de Oliveira foi entregar uma garrafa de leite a pedido da mulher de Nelson Joel, que havia sido retirado pelo cozinheiro de uma vaca que pertencia à família do empresário.
Ao tomar conhecimento, Nelson Joel demonstrou insatisfação, alegando que o animal estava muito magro e não apresentava condições de ser ordenhado. Ainda segundo a esposa de Oliveira, o homem teria agido de forma ríspida em frente aos demais funcionários.
A mulher afirmou que voltou para casa e contou sobre o ocorrido para o marido, que decidiu conversar com o patrão. Conforme análises de câmeras de segurança da empresa e de relatos de testemunhas, o filho de Nelson Joel acaba interferindo na conversa, momento em que a discussão se torna mais acalorada.
O cozinheiro vai até o carro para pegar a arma, que, segundo ele afirmou em depoimento à polícia, pertencia ao próprio chefe.
— Ele explicou que o homem teria dado essa arma para ele guardar — relata a delegada.
A versão foi confirmada por Oliveira. No entanto, nem ele nem os demais funcionários que presenciaram a cena souberam explicar qual teria sido a ameaça que provocou a ação. Até o momento, seis testemunhas já foram ouvidas. Os agentes ainda avaliam a necessidade de realizar novas oitivas, como a da viúva de Nelson Joel.
— Ainda estamos analisando isso. Os depoimentos acabam indicando a necessidade de ouvir novas pessoas em busca de outros elementos — afirma a delegada.
Outro fator que ainda não foi descoberto é o paradeiro da arma. Durante seu relato, o suspeito afirmou que o objeto foi perdido durante a fuga. Desde então, os policiais seguem fazendo buscas no local indicado por ele. Se for encontrada, a arma irá passar por uma análise da perícia, para que se confirme se o artefato é o mesmo que foi utilizado no crime e se pertencia a Nelson Joel, conforme afirmado pelo suspeito.
Amizade antiga
A relação entre Nelson Joel e Oliveira era antiga. Os dois teriam se tornado amigos enquanto ambos estavam presos. O empresário cumpriu pena por um homicídio, cometido em 1995. Já o funcionário cumpria pena de 22 anos e quatro meses de prisão em regime semiaberto por estupro de vulnerável, lesão e ameaça, conforme informado pelo Tribunal de Justiça.
Ivandir era monitorado por tornozeleira eletrônica, que teria sido arrancada após enquanto fugia. Segundo relatos de pessoas próximas, não há indícios de desentendimentos prévios entre os dois antes do fato.
Contraponto
A reportagem entrou em contato com a Defensoria Pública do Rio Grande do Sul, responsável pela defesa Ivandir Siqueira de Oliveira. Por meio de nota, o órgão confirmou que já vinha atuando na defesa do suspeito em outros processos.
Ainda conforme a nota, “diante da nova ocorrência, visando garantir a ampla defesa e o contraditório, a instituição seguirá atuando na defesa do suspeito e irá se manifestar somente nos autos do processo.”
Buscou-se também o contato com familiares das duas vítimas e de membros da empresa. Nenhuma das duas partes quis se pronunciar.