Vinte dias após a chacina que matou cinco pessoas, a Escola Pró-Infância Aquarela, em Saudades, no oeste catarinense, reabriu na segunda-feira (24) as portas para atender 40 crianças em dois turnos. O número de alunos, por enquanto, é metade do total de matriculados mas superior à quantidade esperada para o recomeço após o trauma que parou a cidade de 9 mil habitantes. O educandário atende a faixa etária dos seis meses aos dois anos.
A rotina da instituição será a mesma mas o cenário de convivência de crianças e professores é outro. As cores de todas as paredes mudaram, as salas foram revitalizadas e receberam nova decoração. A sala em que o crime aconteceu foi demolida e transformada em uma área de lazer, com grama sintética e brinquedos. Para reforçar a segurança, há guarda, portão eletrônico e câmeras de videomonitoramento. Tudo isso deve atrair os pais das demais 40 crianças a voltarem a confiar na escola, acredita a secretária de Educação do município, Gisela Ivani Hermann:
— No começo tínhamos medo de não vir mais ninguém para a escola, de não voltarem a ter confiança no trabalho. Mas com um apoiando o outro foi possível. O clima de retorno estava muito bom. Alguns professores mais emotivos, mas todos estavam satisfeitos com a volta. Para as crianças, foi mais um dia comum como outro qualquer. Não vi nenhuma chorando.
A ideia era criar um novo ambiente que não lembrasse exatamente o cenário da escola invadida por um jovem de 18 anos na manhã de 4 maio. Nas paredes se optou por não colocar fotos das cinco vítimas. As profissionais de educação seguem com acompanhamento com psicólogos da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) e com atividades extraclasse de formação continuada. Um dos focos dessa nova fase, segundo Gisela, será a valorização dos professores da rede municipal:
— Só queremos retornar com normalidade e nos sentir mais seguros. Esquecer do que aconteceu a gente não vai, mas queremos evitar de relembrar a toda hora. A vida segue e vamos continuar atendendo bem nosso alunos.
Um deu força para o outro, tinham algumas funcionárias que diziam que nunca mais entrariam na escola e hoje estão lá. E foi em função disso, da amizade, do poder de ajudar o outro.
GISELA IVANI HERMANN
No próximo sábado (29), a escola estará aberta entre 14h e 16h para receber a visita da comunidade que quiser conferir o resultado da reforma. A Polícia Militar de Chapecó faz ronda duas vezes por semana nas escolas de Saudades e tem feito palestras dentro do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) na pré-escola e nos primeiros anos do Ensino Fundamental.
A revitalização da Escola Aquarela em 20 dias envolveu trabalho voluntário, doação de materiais e ajuda de entidades da cidade. O foco era manter a estrutura mas transformar o ambiente. A escola seguirá atendendo das 6h50min até 12h10min e das 12h50min às 18h10min.
— Foi um trabalho unido mesmo. O povo de Saudades arregaçou as mangas. Um deu força para o outro, tinham algumas funcionárias que diziam que nunca mais entrariam na escola e hoje estão lá. E foi em função disso, da amizade, do poder de ajudar o outro — afirma Gisela.
No mesmo dia do retorno às aulas na Aquarela, Fabiano Kipper Mai virou réu por cinco homicídios triplamente qualificados e 14 tentativas de homicídio. A denúncia do Ministério Público de Santa Catariana foi aceita pelo juiz da Vara Única de Pinhalzinho, Caio Lemgruber Taborda. A defesa tem prazo de 10 dias para apresentar argumentos e apontar testemunhas. O criminoso está preso em uma cela isolada no Presídio Regional de Chapecó e teve o segundo pedido exame de sanidade mental negado pela Justiça. O advogado de Fabiano, Demetryus Eugenio Grapiglia diz que pretende recorrer da decisão.