Uma das hipóteses apuradas pela Polícia Civil para um assalto durante uma entrega de comida na zona sul de Porto Alegre é a de envolvimento de um falsário. A investigação apura, entre outras possibilidades, se o criminoso usou documentos falsos para se cadastrar no aplicativo em nome de outra pessoa. Cinco pessoas da mesma família foram rendidas por dois assaltantes na noite de sexta-feira (26), em uma casa na Vila Assunção. Os bandidos fugiram levando eletrônicos e outros itens pessoais das vítimas.
Titular da 6ª Delegacia de Polícia, a delegada Áurea Hoeppel está à frente da investigação. Durante o fim de semana, os policiais ouviram a família que foi mantida refém e perícias foram realizadas na residência. Uma das apostas da investigação são impressões digitais localizadas dentro da casa que podem auxiliar na identificação dos assaltantes. Um capacete abandonado por um dos bandidos também foi apreendido.
— Diligências estão sendo realizadas, mas, neste momento, prefiro não detalhar para não atrapalhar o andamento. Tudo depende de uma série de investigações. Ainda estamos tentando identificar e localizar esses indivíduos. Está bem adiantado, é o que posso dizer — afirmou a delegada nesta segunda-feira (1º).
Ainda conforme a policial, a empresa responsável pelo aplicativo UberEats está colaborando com as apurações desde domingo (28), informando, por exemplo, eventuais trajetos realizados pelo autor. A polícia investiga diferentes linhas, mas a principal delas aponta para a possível utilização de documentos falsos em nome de outra pessoa por parte do criminoso no momento de realizar o cadastro na plataforma. Caso isso se confirme, além do roubo, o autor pode responder por falsidade ideológica.
— Uma das linhas de investigação é a possibilidade de ser um falsário. Estamos buscando a identificação dele e do comparsa. Temos visto um crescimento de casos de estelionato e de uso de documentos falsos em diversos crimes — afirma a delegada.
Outro ponto que chamou atenção da polícia é que os criminosos aparentavam não conhecer a cidade. Um deles pediu que a vítima lhe deixasse na Zona Sul, sendo que era onde estava. A polícia acredita que o objetivo do assalto possa ter sido obter itens para serem repassados ao tráfico de drogas — possivelmente como pagamento de alguma dívida. Essa suspeita se baseia no fato de que um dos criminosos foi deixado na Vila Cruzeiro, com os produtos roubados, próximo de um ponto de tráfico conhecido.
GZH esteve na residência alvo de criminosos, mas a família informou que não pretende se manifestar neste momento.
— Ainda não podemos afirmar nada sobre o que aconteceu e não queremos atrapalhar as investigações — disse uma das moradoras.
Após o episódio, a família decidiu fazer uma obra no local para permitir que as entregas sejam feitas por meio de uma abertura no muro e não mais pelo portão. Em áudio gravado por uma das vítimas, e divulgado em redes sociais, uma das moradoras relata que os criminosos permaneceram por horas na residência.
— Foram quatro horas de terror — diz na gravação.
Sobre o medo gerado em moradores da Zona Sul após a divulgação do caso, não existem na área de atuação da 6ª DP episódios semelhantes de assaltos a clientes durante entregas de pedidos. A delegada ressalta que é necessário evitar o pânico, já que muitos profissionais dependem desta atividade e esta foi uma situação atípica até agora.
— É importante acalmar a população, especialmente neste momento em que as pessoas estão em casa e dependem bastante desse tipo de entrega. Muitas ficaram assustadas com esse caso. De maneira geral, recomendo que se tenha cautela ao receber encomendas — diz a delegada Áurea.
O assalto
Segundo o relato da família, na noite de sexta-feira (26) foi feito um pedido de comida por aplicativo para um comércio da Zona Sul. Às 20h37min, dois homens chegaram no portão da moradia, ambos com máscara de proteção contra a covid-19. Um deles estava em uma bicicleta motorizada. Logo após a entrega do pacote, os dois fizeram ameaças à mulher junto ao portão e anunciaram o roubo.
— Fizeram menção de estar com armas. Mas nenhuma das vítimas chegou a ver arma — explica a delegada Áurea.
Dentro da casa, os criminosos renderam mais quatro pessoas: outra mulher, uma jovem, um adolescente e um idoso de 84 anos, todos da mesma família. Os bandidos usaram toalhas e pedaços de tecidos para amarrar as vítimas, que foram trancadas em um dos quartos da moradia.
Na cozinha, os criminosos abriram a geladeira e consumiram alimentos e bebidas. Depois disso, reuniram uma televisão, três notebooks, um celular, joias e dinheiro. Um dos bandidos, que seria o entregador, deixou o local na mesma bicicleta que chegou. Já o outro questionou quem da casa sabia dirigir. Uma das moradoras informou que sabia e, por isso, foi obrigada a leva-lo até a Rua Dona Otília, na Vila Cruzeiro. No local, o assaltante desembarcou com os produtos roubados.
— Não houve violência física, mas psicológica. Eles permaneceram cerca de três horas dentro da casa, com as vítimas amarradas — explica a delegada.
Os dois criminosos, segundo a descrição das vítimas, são jovens, com cerca de 20 anos. As vítimas apontaram que um dos assaltantes era parecido com a foto do perfil do entregador no app.
O que diz a Uber
GZH procurou a empresa, que enviou a seguinte nota:
"Ficamos aliviados em saber que toda a família vítima desse crime está em segurança. A Uber não tolera nenhum comportamento criminoso. Por isso, a conta do entregador parceiro foi desativada da plataforma assim que a denúncia foi feita. A empresa já está em contato com as autoridades e colaborando no curso das investigações, nos termos da lei.
Todos os entregadores parceiros cadastrados na Uber passam por uma checagem de antecedentes criminais realizada por empresa especializada que, a partir dos documentos fornecidos para cadastramento na plataforma, consulta informações de diversos bancos de dados oficiais e públicos de todo o país em busca de apontamentos de crimes que possam ter sido cometidos. A Uber também realiza rechecagens periódicas dos entregadores parceiros já aprovados pelo menos uma vez a cada 12 meses.
Também temos uma ferramenta que faz a verificação de identidade do entregador parceiro em tempo real. De tempos em tempos, o aplicativo pede, aleatoriamente, para que os entregadores parceiros tirem uma selfie, antes de aceitar uma entrega ou de ficar online, para ajudar a garantir que a pessoa que está usando o aplicativo corresponde àquela da conta que temos no cadastro".
Como se proteger
- Fique atento ao perfil que aparece no app de entrega: nome e foto do entregador
- Caso seja chamado pelo interfone, cuidado. Questione para quem é a entrega e de onde ela veio antes de sair para atender
- Evite abrir o portão e ter contato direto com quem está fazendo a entrega. Uma opção é instalar junto ao portão do prédio ou casa um “passador” de encomendas
- Desconfie se houver mais de uma pessoa no momento da entrega. Neste caso, não abra a porta ou portão
- Em condomínios com portaria, opte por receber o produto no acesso do prédio e retirar ali com o porteiro
- Oriente as pessoas da sua família a adotarem as mesmas medidas de segurança