Alvo de protestos na noite de sexta-feira (20), o Carrefour do Passo D’Areia, na zona norte de Porto Alegre, registra marcas de destruição e homenagens a João Alberto Silveira Freitas neste sábado (21), horas após a manifestação que terminou em confronto com a polícia. No início da manhã, cones, pedaços de concreto e vidro ainda estavam espalhados pelo pátio, totens com identificação da instituição têm marcas de incêndio e cartazes foram colocados nas grades com mensagens contra os seguranças que espancaram até a morte o autônomo de 40 anos.
Cercas e portões foram arrancados e havia ainda fumaça as 6h, sinal de um novo foco de fogo na madrugada. O sprinkler, equipamento acionado para apagar as chamas, estava ligado nesta manhã. Próximo das escadas rolantes, vidraças foram quebradas, e lojas de empresas locatárias dos espaços também foram alvo de quem invadiu o mercado.
Funcionários dos estabelecimentos que ficam junto ao mercado chegaram próximo das 7h para avaliar os danos. O empresário Márcio Borges é dono de uma oficina mecânica localizada dentro do estacionamento, área mais depredada.
— Acho que (os manifestantes) não chegaram na minha (loja). Ah, mas lá tem um vidro quebrado — avaliou, enquanto conversava com a reportagem de GZH.
Com nove funcionários, a oficina de Borges não tem previsão de reabertura. Ele afirma não ter sido avisado pela administração sobre planos para retomar as atividades.
Gerente de um posto da região, Raul Dorneles fechou o comércio de combustíveis quase duas horas antes do previsto.
— Eu disse para os guris: "desliga as bombas". Colocamos cadeado e fechamos o posto, tive medo que usassem as mangueiras com gasolina ou algo explodisse — relata.
A calçada da Avenida Plínio Brasil Milano, principal acesso ao hipermercado, também tem marcas do protesto: "racistas", "assassinos" e "justiça por Beto" são frases expostas em cartazes de papelão ou grafitadas no piso e nas paredes do estabelecimento.
Caroline Sustos, 36 anos protestava com um pano, pendurado na grade as 7h15min. No lençol, "nossos mortos ainda sangram, injustamente!".
— É o nosso grito mudo — disse a mulher.
Em contraste com a destruição, um pequeno santuário começa a tomar forma ao lado de uma grade chamuscada. Três arranjos —, um buquê de rosas vermelhas, outro de violetas e flores amarelas —, foram posicionados lado a lado.
Uma placa com a frase em inglês "black lives matter" (vidas negras importam) foi confeccionada. A mensagem ficou conhecida após a morte do afro-americano George Floyd pelas mãos de um policial branco nos Estados Unidos. O caso de Floyd vem sendo comparado com o de João Alberto Silveira Freitas.
O Carrefour informou que a unidade do Passo D'Áreia permanecerá fechada neste sábado.
O caso
João Alberto Silveira Freitas morreu após ter sido espancado na porta do supermercado Carrefour no bairro Passo D'Areia. O fato ocorreu na noite desta quinta-feira (19).
De acordo com informações preliminares, o crime foi precedido por uma discussão dentro do estabelecimento com uma funcionária, um segurança de uma empresa terceirizada e um PM temporário. Os dois homens, identificados como Magno Braz Borges e Giovane Gaspar da Silva, foram detidos e presos em flagrante por homicídio qualificado.