Golpes, fraudes, extorsões e até sequestro de dados estão entre os principais crimes virtuais. GZH consultou três especialistas na área que reuniram dicas sobre como é possível se precaver desses delitos. São, em sua maioria, orientações simples, que podem evitar prejuízos e transtornos.
— Não se dá a chave para o bandido — compara o especialista em tecnologia Ronaldo Prass.
Além deles, GZH ouviu o advogado especialista em crimes virtuais e fundador do Instituto de Defesa do Cidadão na Internet (IDCI), em São Paulo, José Milagre, e o delegado André Anicet, da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
— É preciso desconfiar sempre — alerta o policial.
Saiba como agir:
Compras online
Na hora de comprar algo pela internet, desconfie se o site só aceitar pagamento por boleto ou transferência, se tiver falhas ou erros na página e se o único contato for por WhatsApp. Alguns sites falsos se passam por empresas verdadeiras. Também pesquise sobre a reputação do site na internet. Sites falsos de leilão têm sido usados pelos golpistas. Nesse caso, tentar fazer visitação do bem, para saber se existe.
Outra dica para compras online é não usar o cartão de crédito físico e sim o cartão virtual, se esse dispositivo for fornecido pelo seu banco. A diferença é que o cartão online tem a numeração alterada com frequência para maior segurança contra fraudes. Se estiver vendendo algo, só envie a mercadoria após receber o pagamento. Desconfie se receber boleto de contas (internet, telefone) anunciando, por exemplo, desconto para pagamento antecipado. Com boletos, sempre verifique a origem e quem é o favorecido.
Teletrabalho
Durante o distanciamento, as empresas tiveram que migrar rapidamente e muitos colaboradores não têm noção dos riscos. Mas os criminosos estão atentos. Por meio de links atrativos, instalam programas maliciosos nos dispositivos, infectam os equipamentos e exigem resgate para devolver os dados.
— Isso cresceu absurdamente. É muito importante que as empresas capacitem os colaboradores, para que entendam os riscos e saibam se proteger. Se o cidadão em casa não souber controlar sua curiosidade e usar medidas de segurança, a empresa toda pode vir a ser comprometida — alerta o advogado José Milagre.
Um dos riscos é o fato de que muitos equipamentos podem estar defasados. O trabalho da pessoa fica em risco, assim como a empresa, caso seja feito acesso remoto à rede. É importante ter o sistema operacional atualizado, antivírus e muita atenção com os downloads. É indicado fazer backup dos arquivos importantes na nuvem, em serviços gratuitos e não utilize programas piratas.
No WhatsApp
A captura da conta de WhatsApp acontece quando o criminoso habilita a conta em seu celular e a da pessoa é desconectada. Depois, ele passa a pedir dinheiro para os contatos salvos no app. Nesse caso, a principal recomendação é nunca informar códigos de verificação recebidos por SMS. Outro ponto importante é habilitar a configuração da conta em duas etapas, com cadastro de uma segunda senha, o PIN. Isso impedirá que o golpista tenha acesso a sua conta. O mesmo conceito se aplica a conta de Instagram e Facebook. Ativar a verificação em duas etapas, permite ter uma camada adicional de segurança.
Imagens íntimas
A dica principal é não compartilhar esse tipo de imagem pela internet. Se fizer isso, evite se identificar na foto (embora não haja segurança de que não poderá ser usada da mesma forma). Também há casos da chamada pornografia de vingança, quando as imagens de nudez são expostas por alguém após romper relacionamento. Outro risco de armazenar esse conteúdo no celular são os furtos, roubos e até um eventual problema técnico. Ao levar o aparelho para a assistência, as imagens podem ficar vulneráveis.
— Não se deve armazenar em celular nada que possa ser usado para constrangimento. Se vai levar um aparelho para a assistência, formate para apagar os arquivos. Mas o ideal é não manter isso na memória do celular. É muito fácil extrair do aparelho. Importante também não deixar salvas as senhas das redes sociais. É porta de entrada para pessoas mal intencionadas — explica o especialista Ronaldo Prass.
Dados pessoais
Informações pessoais como RG, CPF, data de nascimento e nome da mãe podem ser usadas por golpistas para abrir conta em banco digital ou habilitar chip de celular. Criminosos usam falsos anúncios de vagas de emprego na internet, onde é preciso preencher um cadastro, como forma de captar esses dados. Evite divulgar esse tipo de informação. Em currículos, limite-se a informar nome, contatos e experiência profissional.
Se for vítima
Procure ajuda e registre o caso na polícia – é possível usar a Delegacia Online. Preserve as evidências do crime, como mensagens, dados de contas bancárias e depósitos.
Glossário
- Crime virtual - existem diferentes tipos de delitos cometidos na internet. Entre eles, golpes e extorsões, nos quais os criminosos se utilizam do mundo virtual para ter acesso à vítima ou capturar informações, com as quais poderão obter vantagem. Também se encaixam crimes como exposição de imagens íntimas, invasão de computadores e ofensas (calúnia, injúria e difamação, por exemplo).
- Vírus - é um tipo de programa malicioso, que possui funções ocultas, como o roubo de dados. Assim como o vírus biológico, ele infecta o sistema do dispositivo (computador, celular). Mas nem todo programa malicioso é um vírus. Existem outras categorias, como os espiões e sequestradores de informações, entre outros.
- Hacker - Embora esse termo tenha se difundido como definição de quem está por trás dos crimes na internet, não é totalmente correto. Existem hackers, especialistas na área, que atuam de forma ética, inclusive para melhorar a segurança dos usuários. Por outro lado, há aqueles que usam o conhecimento para invadir sistemas de forma criminosa, também chamados de crackers (existem divergências na denominação). Mas nem todo golpista que comete crime pela internet é especialista na área. Muitos se valem da lábia e inocência das vítimas.
Como criar uma boa senha
Usar senhas fortes nas suas redes sociais, e-mail e também na rede de wi-fi é uma forma de dificultar a porta de entrada dos criminosos. Saiba como:
- Use no mínimo oito caracteres
- Alterne letras maiúsculas e minúsculas, e números, por exemplo
- Não use sequências (como palavras inteiras ou números em ordem)
- Evite datas importantes (data de nascimento dos filhos, por exemplo)
- Não use a mesma senha para tudo. Crie uma fórmula, como mudar um trecho da senha para cada aplicativo, rede social, e-mail
Alguns crimes*
Estelionato
- O que é - Golpes na internet, como clonagem de WhatsApp, falso soldado, falso leilão ou boleto falso.
- Pena - Reclusão, de um a cinco anos.
Extorsão
- O que é - Casos no qual o golpista tenta obter dinheiro da vítima com ameaças, como golpe dos nudes.
- Pena - Reclusão, de quatro a 10 anos.
Vazamento de imagens
- O que é - Expor imagens (de sexo, nudez ou pornografia) sem o consentimento da vítima.
- Pena - Reclusão, de um a cinco anos.
Invadir dispositivo informático
- O que é - Usar meios como sites, programas, links e aplicativos falsos para invadir computador ou celular de alguém.
- Pena - Detenção, de três meses a um ano.
*Também está prevista multa para esses crimes.