Ao contrário da maioria dos crimes, os estelionatos vêm crescendo durante o período do distanciamento social no Rio Grande do Sul. Somente no primeiro semestre deste ano, foram 22.183 casos de golpes comunicados à polícia, maior número para o período desde 2002, quando os dados começaram a ser divulgados pela Secretaria da Segurança Pública do Estado. O aumento, em relação ao mesmo período do ano passado, é de 74%. Com menos pessoas nas ruas, a Polícia Civil alerta especialmente para as trapaças cometidas pela internet e por telefone. A prevenção ainda é considerada a principal estratégia de combate a esse crime.
Como forma de tentar reduzir o número de vítimas ludibriadas por estelionatários, a Polícia Civil lançou em junho uma cartilha onde alerta para os golpes mais comuns e as formas de se precaver deles. A principal dica é suspeitar de abordagens de desconhecidos, por telefone, redes sociais, aplicativos de mensagens e pessoalmente. Mas os criminosos têm usado outra artimanha para tentar convencer vítimas: fingem ser alguém conhecido delas. É a forma de tentar obter vantagem, por exemplo, com a clonagem e cópia do WhatsApp, golpe que tem sido bastante comum.
— Eles investigam a vida das pessoas, os contatos, dados, utilizam quebra de banco de dados, para obter alguma vantagem — explica o delegado André Anicet, da Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos.
Por trás dos estelionatos, estão diferentes tipos de perfis de criminosos, desde pessoas que estão dentro de prisões, e utilizam contatos do lado de fora para recolher os valores, até hackers, especializados em obter dados pela internet. Algumas características comuns daqueles que fazem o contato com as vítimas (por ligação ou pessoalmente) é o alto poder de persuasão e capacidade de criar enredos. No contexto atual, a pandemia do coronavírus também acaba sendo usada pelos golpistas, como no caso do auxílio emergencial, que também foi usado nas trapaças.
Confira os golpes mais comuns
Auxílio emergencial
Desde que a medida foi anunciada pelo governo federal, passaram a circular pela internet mensagens falsas que buscavam captar dados das vítimas. Com a liberação dos recursos do benefício, o golpe evoluiu para outra modalidade. Beneficiários tiveram as contas invadidas e o dinheiro desviado. Com isso, ao ir a uma agência na data agendada para o saque, as pessoas cadastradas legalmente acabam percebendo que não têm mais o valor depositado porque o dinheiro já foi retirado.
Existem duas modalidades possíveis: a clonagem e a cópia com um novo número. Na clonagem, o golpista telefona para a vítima com alguma desculpa para saber o número de um código que será enviado para o celular dela por SMS. Para isso, usa diferentes enredos. Ao mesmo tempo, o criminoso tenta logar o WhatsApp da vítima, o que faz com que o aplicativo envie mensagem com código de verificação. Quando ela passa o número para o golpista, ele obtém acesso.
Outro golpe, semelhante, envolve a criação de um perfil falso, onde o estelionatário afirma que mudou de número e passa a pedir dinheiro para contatos da vítima ou negocia compras com outras pessoas.
Nudes
Com perfis falsos criados em sites de relacionamentos, como o Facebook, o criminoso se passa por mulheres jovens e bonitas, mirando, principalmente, homens de meia idade, cujas redes sociais sejam abertas. A jovem troca fotos íntimas com o alvo. Na sequência, outra pessoa entra em cena, afirmando que o homem estava conversando com uma menor de 18 anos e exigindo dinheiro para não comunicar o caso à polícia ou não divulgar as fotos da vítima. Esse golpista pode se identificar como pai, policial ou mesmo advogado.
Soldado americano
Costuma ser aplicado em pessoas idosas, usuárias de redes sociais e sites de relacionamento. O estelionatário entra em contato com a vítima por um perfil falso, onde afirma ser soldado norte-americano (há variações com outras nacionalidades) em uma missão no Exterior. Durante a conversa, conquista a confiança das vítimas e arranja desculpa para que elas lhe enviem valores.
Motoboy
O criminoso liga para a vítima afirmando ser da administradora de cartão de crédito. Ele diz que uma compra de valor alto foi realizada em nome da pessoa e pergunta se pode autorizar a compensação, e a vítima, assustada, pede para cancelar. O golpista solicita os dados do cartão e pede o código de segurança no verso do cartão. Solicita que a pessoa quebre o cartão e envie a parte quebrada que tem o chip. O estelionatário diz que a empresa enviará um motoboy até a casa para buscar o cartão. A vítima entrega o cartão e o criminoso usa o cartão para fazer compras pela internet.
Falso depósito
Quem vende objetos pela internet pode acabar sendo alvo dos golpistas. A principal estratégia é forjar a transferência de valor e tentar convencer a vítima a entregar a mercadoria antes que perceba a falcatrua. Tanto pode ser usado o envelope vazio — onde o estelionatário faz o depósito, mas sem dinheiro dentro — quanto pode ser enviado um falso comprovante de transferência. A pessoa acredita que o dinheiro vai entrar depois. Nem confere porque recebeu o comprovante. Quando se dá conta, já perdeu mercadoria, sem ter recebido valor. Da mesma forma, quem compra pela internet precisa verificar o histórico do vendedor e se certificar de que está adquirindo o produtor de alguém confiável.
Como se prevenir
- Não acredite em desconhecidos que lhe abordam na rua ou por telefone. Não acesse links na internet dos quais não tenha segurança. Desconfie
- Golpistas, em geral, oferecem alguma vantagem para atrair a vítima e têm pressa para obter a vantagem. Fique atento a isso
- Converse com familiares, amigos ou mesmo gerente de banco se tiver desconfiança. Estelionatários tentam criar meios de impedir que a vítima busque orientação, como mantê-la ao telefone, para que não seja alertada
- Não faça depósitos bancários e nem recargas de celulares para quem não conhece
- No caso dos leilões, verifique se os leiloeiros estão cadastrados junto ao Judiciário. As contas para depósito em leilões oficiais não são de pessoa física ou jurídica e, sim, judiciais
- No WhatsApp, habilite a verificação em duas etapas e não forneça esse tipo de código por telefone. Mas, caso já tenha sido vítima, tente rapidamente deletar o aplicativo, baixar e registrar novamente. Caso isso não funcione, se o PIN for solicitado, insira o número errado até que o app seja bloqueado temporariamente. Avise seus contatos, por meio das redes sociais ou pessoalmente, sobre o risco de alguém pedir dinheiro em seu nome. Comunique a clonagem por e-mail ao WhatsApp (support@whatsapp.com) para que a conta seja bloqueada
- Caso seja contatado por alguém próximo, dizendo que mudou de WhatsApp, ligue para o número que já tinha da pessoa e confirme isso
- Em aluguéis de imóveis, desconfie de preços abaixo do mercado, se o dono exigir adiantamento e tiver pressa para que o depósito seja feito ou mesmo se o proprietário não aceitar atender a ligações ou se recusar a receber visita do locatário, para conferir a casa
- Se receber contato por telefonema ou mensagem de familiar pedindo ajuda, certifique-se de que é real. Converse com outros parentes antes de fazer qualquer depósito
- Se estiver vendendo algo, não entregue o bem antes de ter certeza de que recebeu o valor do pagamento. Depósitos só são confirmados pelo banco após a conferência do envelope. Então, aguarde para enviar a mercadoria
- Se tiver um familiar ou conhecido idoso, oriente a pessoa sobre os golpes mais comuns e como se prevenir deles
- Se for vítima, chame a Brigada Militar ou vá até a Polícia Civil. Tente repassar aos policiais o máximo de informações sobre os golpistas
- Se você sabe quem está praticando golpes, denuncie pelo 197, pelo WhatsApp da Polícia Civil (51)b98444-0606 ou procure a Delegacia de Polícia mais próxima
Fonte: Polícia Civil-RS