
O turista angolano Gilberto Casta Almeida, 26 anos, prestou depoimento por mais de duas horas à Corregedoria-Geral da Brigada Militar (BM), em Porto Alegre, na tarde desta terça-feira (9). Acompanhado da advogada, ele detalhou os fatos ocorridos em 17 de maio, quando foi baleado e preso por uma guarnição da corporação em Gravataí, na Região Metropolitana.
No dia do ocorrido, Gilberto estava com a costureira Dorildes Laurindo, 56, em um carro do aplicativo BlablaCar, quando o motorista fugiu da polícia. O condutor, Luiz Carlos Pail Junior, era foragido. Após o carro ser alcançado, os policiais atiraram 35 vezes. Os disparos resultaram na morte da costureira e em ferimentos em Gilberto, que ainda foi preso e passou 12 dias no sistema prisional gaúcho até que a Polícia Civil reconhecesse que ele não havia atirado contra a viatura - como afirmavam os policiais.
De acordo com a advogada Ana Konrath, o depoimento foi gravado em vídeo pela corporação e irá ajudar a esclarecer os fatos ocorridos naquele dia. O turista alega ter sido ofendido, ameaçado e chutado no chão mesmo após ser baleado.
— O Gilberto detalhou o comportamento violento dos policias contra ele. E, principalmente, que nunca visualizou arma próximo dele, como alegaram os agentes que participaram da ocorrência — disse Ana.
Em entrevista a GaúchaZH, Gilberto disse que um dos policiais afirmou que ele iria "sangrar até morrer" e que foi chamado de "exu do caralho".
Segundo a BM, Gilberto é a primeira pessoa a ser ouvida no âmbito do Inquérito Policial Militar (IPM) aberto para apurar a conduta dos três policiais que participaram da ocorrência. O motorista do carro, que fugiu da guarnição, será ouvido posteriormente. Além disso, a Corregedoria diz que pretende chamar a depor "todas as pessoas possíveis para esclarecer os fatos".

Inquérito na Corregedoria
O Comando-Geral da BM determinou, na sexta (5), que a investigação sobre a abordagem que resultou na morte da costureira e em ferimentos no turista angolano não seja mais feita pelo batalhão de Gravataí. Com isso, o caso foi para a Corregedoria-Geral, em Porto Alegre.
Na prática, a medida afasta a apuração dos investigados. No Batalhão de Gravataí (17º BPM), quem investigava era um oficial que trabalha no mesmo local que os três policiais investigados. Já na Corregedoria, está à frente um major com maior distanciamento dos fatos.
Em nota enviada à imprensa, o comando da corporação disse que o objetivo é "garantir a maior isenção possível na apuração". Também informou que "após a conclusão do IPM, a Brigada Militar irá comunicar as circunstâncias da ação policial e quais os seus desdobramentos".
O movimento do Comando-Geral foi adotado um dia depois de GaúchaZH revelar que um dos três agentes envolvidos na abordagem já havia sido condenado por agressões e respondia a outros dois processos na Justiça Militar. O soldado Regis Souza de Moura, 35, recorre em liberdade à pena de sete meses de prisão. As ocorrências passadas do PM jamais haviam sido informadas pela corporação, mesmo com os questionamentos da imprensa.
Em nota, a BlaBlaCar disse que "lamenta profundamente o ocorrido e reforça o compromisso com a criação de um ambiente de viagem seguro e confiável para os mais de 5 milhões de usuários da plataforma no país".