Dorildes Laurindo, 56 anos, que foi baleada pela Brigada Militar por engano no dia 17 de maio, morreu nesta terça-feira (2). A informação foi confirmada pela sua advogada e pelo Hospital Dom João Becker, em Gravataí, onde ela estava internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Segundo a família dela, o sepultamento será no Memorial da Colina, em Cachoeirinha.
A costureira recebeu ao menos três tiros dos policiais militares quando eles abordaram o carro no qual ela estava, conduzido por um motorista de aplicativo que estava foragido por tentativa de feminicídio. Um dos tiros atingiu a medula e perfurou o intestino da mulher, deixando-a paraplégica. Dezesseis dias depois, ela não resistiu aos ferimentos. Com ela, estava um amigo, o angolano Gilberto Casta Almeida, 26 anos, que estava no Estado passando férias. Ele também foi baleado.
— Foi uma brutalidade o que aconteceu com a minha irmã. É inadmissível que pessoas que são treinadas para nos proteger tirem vidas inocentes. O mínimo que esperamos é que os envolvidos sejam severamente punidos – desabafou a irmã da vítima, Marjorie Maria Homes Luciano.
O caso
A perseguição começou em Cachoeirinha, onde o veículo dirigido por Luiz Carlos Pail Junior furou um sinal vermelho. Segundo a ocorrência, como estava foragido da Justiça por tentativa de feminicídio, Luiz Carlos não parou o veículo. Pelo contrário, seguiu em fuga, apesar dos apelos do casal. Somente em Gravataí, já sendo perseguidos por policiais daquela cidade, é que o motorista parou. Ele desceu do carro e correu. Gilberto e Dorildes permaneceram no veículo, mas, antes que pudessem explicar que eram passageiros, foram baleados. Luiz Carlos tentou escapar a pé, mas foi capturado.
Gilberto e Dorildes foram encaminhados ao hospital, enquanto os PMs levaram Luiz Carlos para a Delegacia de Pronto Atendimento de Gravataí, com uma arma apreendida. O foragido não quis falar e o delegado plantonista, com base no relato dos policiais militares, fez auto de prisão em flagrante contra ele e contra o angolano por tentativa de homicídio dos PMs.
Em entrevista a GaúchaZH, Gilberto descreveu que os policiais afirmaram que ele iria "sangrar até morrer".
— Eles atiraram. Quando eu vi que estava ferido, já caído, eu comecei a gritar que era inocente, estrangeiro, que não havia feito nada de errado. E eles diziam: "Tu vai sangrar até morrer. Capeta. Exu do caralho.' — relembrou.
Ele também descreveu o que Dorildes afirmou depois de ser alvejada.
— A Dorildes, depois que levou o tiro, a única coisa que eu lembro é de ela ter dito que haviam matado uma inocente. Ela caiu e não reagiu mais.
CONTRAPONTO
O comandante do 17º Batalhão da Polícia Militar, major Luís Felipe Neves Moreira, afirmou, em entrevista à Rádio Gaúcha, que até a conclusão do inquérito policial militar prefere não se manifestar para ser o "mais correto e mais imparcial possível". "Se houve erro, vai ser apurado. Se não houve, também", afirmou o major. Ainda segundo ele, foram disparados 35 tiros pelos três policiais militares que atuaram na ação.