Um dos três policiais militares investigados pela perseguição que resultou na morte da costureira Dorildes Laurindo, 56, e nos ferimentos ao angolano Gilberto Casta Almeida, 26, já possui três processos em aberto na Justiça Militar em razão da sua atuação na Brigada Militar. Em um deles, em março de 2020, o soldado Regis Souza de Moura foi condenado a sete meses de prisão por invasão de domicílio e agressão contra um adolescente em uma abordagem ocorrida em 2016, também em Gravataí.
Além desse processo, em que responde em liberdade, já que recorreu, o mesmo soldado - que tem 35 anos de idade e onze de atuação na corporação - também responde a outros dois, já com denúncia do Ministério Público, por lesão corporal contra pessoas em abordagens na cidade. Nos três casos, os relatos são semelhantes, com socos, chutes e ofensas em ocorrências.
A existência de processos contra o soldado foi confirmada a GaúchaZH pela Justiça Militar do Estado. Até o momento, mesmo questionados, o comando regional da Brigada Militar e do 17º Batalhão de Polícia Militar não haviam informado sobre o passado do policial - que hoje está afastado em função da investigação sobre o fato envolvendo o caso da costureira e do angolano.
Designado como porta-voz do Comando-Geral, o comandante regional, tenente-coronel Alexandre da Rosa, havia negado a existência de processos ou outros casos na conduta dos policiais:
— Os três são ótimos. Uma ficha boa. Não têm nada, nenhum histórico que desabone a conduta deles.
Procurado novamente e questionado após GaúchaZH obter as informações sobre os processos, o comandante disse que o soldado "tem um histórico de muitas ocorrências" e que serão resolvidas na Justiça Militar. Da Rosa ainda comentou que o "processo no qual o soldado foi condenado está em grau de recurso" e por isso não houve punição internamente.
Autora das três denúncias contra o policial, a promotora de justiça militar Isabel Guarise Barrios entende que o agente está se "destacando pela violência" no batalhão de Gravataí. Ela adiantou que vai levar em consideração o passado do agente em sua eventual denúncia sobre o fato envolvendo a costureira e o angolano.
— Nós temos tentado fazer uma triagem por cidades e é corriqueiro que um determinado policial se destaque. Nesse caso, me parece que esse policial esta se destacando nessa cidade como um policial violento — disse.
As denúncias conta o soldado
O caso que gerou a recente condenação contra o policial Regis Souza de Moura ocorreu em 2016. Segundo narra a denúncia, junto com outros dois colegas, ele invadiu a residência de um adolescente tratado como suspeito e o agrediu. A mãe e o irmão do menino também dizem ter sido atacados no que relataram ter sido uma "sessão de tortura física e psicológica"
— Eles abordaram um rapaz na frente da casa, sob aquela alegação de ser suspeito, ele entrou para na casa e eles foram atrás. O que aconteceu? Invasão de domicílio e, na sequência, procurando coisas dentro da casa, eles batem no rapaz. A mãe vai intervir e batem nela, também — detalhou a promotora.
Uma das vítimas contou que os agentes ainda prometeram o matar:
"Que após esses fatos os policiais saíram da residência e o policial autor das agressões disse que ainda poderiam voltar ao local sem farda, para terminar o serviço."
A denúncia que resultou na condenação ainda diz que não houve oportunidade sequer de as vítimas se manifestarem:
"Que os policiais nada falavam, tampouco deixava o depoente falar alguma coisa, simplesmente um policial, que não sabe identificar, começou lhe agredir com socos na região do rosto. Neste momento sua mãe, tentou intervir no acontecido, mas foi agredida com um soco no rosto e um empurrão pelo mesmo policial que agrediu o declarante".
A segunda denúncia contra o soldado é de 10 de março de 2020. O Ministério Público Militar também o acusou de agredir, junto com outros dois colegas, um carroceiro que passou duas vezes em uma barreira, em 2018, também em Gravataí.
"Antes mesmo de revistarem seu veículo, ele foi agredido pelo denunciado Sd. Moura com um soco no abdômen, que fez com que caísse ao solo, e, na sequência, este mesmo denunciado desferiu-lhe diversos chutes, e lhe arrastou pelo chão, puxando-o por uma das pernas", narra a denúncia.
A terceira denuncia da promotoria militar contra o agente aconteceu em agosto de 2018. Junto com outros dois agentes, o soldado De Moura teria agredido um homem suspeito de furto de gado, com socos e chutes, além de golpes de uma tábua de carne.
Outros policiais
Os outros dois policiais que atuavam com De Moura na ocorrência envolvendo a turista e o angolano são o sargento Marcelo Moreira Machado e o soldado Sandro Laureano Fernandes.
Com quase 30 anos de atuação e às vésperas de se aposentar, o 3º sargento Machado possui um procedimento aberto contra ele. A promotoria militar pediu mais investigações em um Inquérito Policial Militar no qual não houve indiciamento contra o sargento Machado por uma ocorrência em que a guarnição do Comando Rodoviário da Brigada Militar, onde atuava, baleou um suspeito que fugiu de uma barreira.
O soldado Laureano não possui procedimento em aberto na Justiça Militar. Ele ingressou na BM em 2012.
Contraponto
Procurado por GaúchaZH, o advogado do soldado Régis no processo, Fabio Cesar Rodrigues Silveira, disse que não iria se manifestar.
A reportagem ainda tenta contato com os advogados dos outros dois policiais envolvidos no caso envolvendo os turistas.
Questionado sobre as afirmações da promotora, o coronel Da Rosa disse que não "fazia sentido" comentar.