O Ministério Público (MP) informou nesta quarta-feira (3) que, até o momento, não há provas materiais de que policiais militares foram recebidos a tiros na ocorrência que resultou na morte da costureira Dorildes Laurindo, 56 anos, e nos ferimentos a balas no angolano Gilberto Casta Almeida, 26. A ação policial ocorreu em 17 de maio, em Gravataí, na Região Metropolitana.
A versão de que tiros foram disparados contra a guarnição da Brigada Militar (BM) foi apresentada para justificar os 35 disparos dos PMs contra o carro em que as duas vítimas estavam, de carona, após o motorista fugir - quem dirigia era Luiz Carlos Pail Junior, um foragido por feminicídio que não teria respeitado a ordem da abordagem dos policiais.
De acordo com o promotor Fernando Bittencourt, da promotoria de Gravataí, as perícias serão fundamentais para esclarecer o ocorrido naquela noite:
— No inquérito que analisei, até agora, no sentido de que houve disparos contra os policiais militares, só há a palavra desses policias militares — comentou o promotor
A promotoria tem dificuldade, ainda, em esclarecer o relato dos agentes. O MP afirma que os policiais - o sargento Marcelo Moreira Machado e os soldados Régis Souza de Moura e Sandro Laureano Fernandes - teriam mudado a versão do caso.
— Inicialmente, no auto de prisão em flagrante, eles teriam referido que viram o motorista angolano Gilberto e o Luiz Carlos atirando contra a guarnição, e, em revide, eles efetuaram disparos — afirmou o promotor.
Depois, o relato foi alterado:
— Ouvidos novamente, eles disseram que quando chegaram ao local os três ocupantes estavam fora do veículo e visualizaram que foram desferidos tiros de onde estavam contra a guarnição, só que não especificaram quem. Só disseram que viram tiros.
Uma arma foi apreendida no local e apresentada pelos agentes: um revólver calibre 38 com três munições deflagradas.
Mesmo com a morte de Dorildes, confirmada na terça-feira (2), a promotoria decidiu esperar o término da investigação interna da BM para decidir sobre novas diligências. O promotor lembrou que os prazos do Judiciário estão suspensos em função da pandemia de coronavírus. A Polícia Civil finalizou a investigação entendendo que houve indício de excesso por parte dos três policiais.
Comandante diz que PMs são experientes
O comandante do 17º Batalhão de Polícia Militar, major Luiz Felipe Neves, lembrou que a corporação já está investigando o fato em um Inquérito Policial Militar (IPM). A apuração interna deve durar até a metade de julho.
O oficial prefere não comentar a conduta dos policiais, apesar de declarar que há "um indicativo de uma situação".
— Os indicativos são fortes. Ou seja: 35 disparos de arma de fogo por parte da Brigada Militar, duas pessoas feridas, sendo que uma dessas depois morreu. Então, de outra parte, outra arma apreendida, com três disparos de arma de fogo — detalhou Neves.
O comandante ainda informou que um capitão de conduta considerada isenta na corporação foi escolhido para coordenar a apuração. Depois, o resultado da investigação será passado para ele, que irá bater o martelo se necessita de mais provas e se há crime cometido pelos agentes.
Em função da ocorrência, os policiais foram afastados. Neves disse que o trio é experiente:
— Todos os três estão com comportamento excepcional ou ótimo. São muito bons policiais. Têm várias prisões. É uma guarnição que não é recruta, que tem um know how. Por isso tudo, o zelo e a cautela. Entendo o sofrimento das vítimas, mas não posso pré-julgar ninguém.
Procurado para comentar o caso, o comandante-geral da BM, coronel Rodrigo Mohr Piccon, informou, por meio da assessoria, que não vai se manifestar sobre o caso.