O Fantástico deste domingo (31) exibiu imagens do quarto de Rafael Mateus Winques, além de trazer depoimentos de Jaqueline Souza Nesnerovicz – mãe do melhor amigo do menino. Aos 11 anos, Rafael foi morto pela própria mãe, Alexandra Dougokenski, 32. O crime aconteceu no município de Planalto, norte do Estado. O corpo do garoto foi encontrado na última segunda-feira (25).
A mulher, que está presa de forma temporária, alega que a morte do filho aconteceu de forma acidental, por ingestão de medicamento. Ela mesma comunicou falsamente ao Conselho Tutelar e à Polícia Civil o desaparecimento do garoto no dia 15 de maio, o que gerou comoção e mobilização para buscas na comunidade. Em entrevista à reportagem, Jaqueline observou:
— Alexandra em momento algum derrubou uma lágrima.
A promotora de Justiça Michele Taís Dumke Kufner corroborou:
— Chamava atenção, inclusive, o controle emocional que ela mantinha naquela situação.
A polícia desconfiou do comportamento da mãe. Depois de algumas contradições, Alexandra confessou o assassinato do filho. Disse que ele estava agitado e que por isso deu dois comprimidos de um remédio para controlar a ansiedade. O medicamento, segundo ela, teria causado a morte de Rafael.
– Olha, ela confessou para nós, a princípio, que havia ministrado medicação em excesso e depois de verificar que a criança não tinha mais sinais vitais, ela teria preparado aquela amarração para carregar o corpo até o local que ela deixou – disse à reportagem o delegado de Planalto, Ercílio Carletti, que conduz a investigação.
Rafael morava com a mãe e o irmão mais velho, de 17 anos. Segundo as investigações, após tirar a vida do próprio filho, Alexandra arrastou o corpo a uma casa vizinha, que está alugada, mas os moradores estão viajando.
— Ela vai no quarto, o menino com a boca roxa, gelado, sem batimentos. Acredito que pelo medo, decide ocultar o cadáver. Para tirar o corpo do menino do quarto, ela precisou usar cordas, e machucou um pouco do pescoço — explica Jean Severo, advogado de defesa de Alexandra, que garante não ter havido esganadura.
No entanto, o delegado Ercílio observa que, preliminarmente, a perícia aponta um estrangulamento, morte por asfixia, e não por excesso de medicação.
— Não seriam necessariamente dois comprimidos, em que pese o fato de se considerar ser uma criança, de não ser um adulto. A princípio, teria de ser uma quantidade de comprimidos muito maior para que você tivesse uma morte mais rápida, que não desse sequer tempo de tentar algum tipo de socorro — informou à reportagem o presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais, Marcos Almeida Camargo.
Até agora, a polícia tomou o depoimento de 30 pessoas, incluindo a avó materna de Rafael, Isaíldes Batista. Alexandra disse que pegou os comprimidos na casa da mãe.
— Se ela deu, não sei. Acho que seria verdade, o remédio teria partido daqui, sim, que eu comprava para esse meu filho, que às vezes ele não dormia — relata Isaíldes.
Dúvidas
Alexandra tem um namorado. Ele afirmou que na noite do crime estava trabalhando, e os investigadores confirmaram a versão.
Para a promotora Michele, é possível que Alexandra tenha recebido auxílio de alguém, até por causa do tamanho da criança:
— Ele tinha por volta de 1m55cm e pesava por volta de 40 quilos. E a mãe não é muito maior, deve ter por volta de 1m60cm, e não é uma mulher que tenha uma força que seja diferente das outras.
A versão dos três advogados que compõem a defesa é de que ela medicou o filho com diazepam, e que ele estaria com dificuldades para dormir, mas passou mal e morreu. Depois, desesperada, transportou o corpo para uma caixa na casa ao lado. A Polícia Civil não está convencida da versão da defesa. Para os investigadores, houve a intenção e eles suspeitam da participação de outras pessoas.
— A defesa está com uma linha de homicídio culposo, mas a Polícia Civil, pelo que já tem nos autos, entende que o crime foi doloso (com intenção) — disse Joerberth Nunes, diretor do Departamento de Polícia do Interior, a GaúchaZH.
Motivação
O resultado das perícias no corpo de Rafael e nos objetos da casa podem ajudar a elucidar o crime. Ainda não está esclarecido os motivos para a atitude de Alexandra.
— Ninguém chegou e disse: "Ó, eu percebi que tinha alguma coisa, percebi briga". Nada. Aparentemente tudo normal, uma mãe cuidadosa — indica Denise Vojniek, conselheira tutelar de Planalto.
Jaqueline lamenta:
— Mãe protege, mãe cuida, mãe zela, dá a vida pelo filho. Mãe não tira a vida. Mãe não faz o que ela fez.
Conforme a promotora Michele, o irmão precisa ser ouvido, pois estava na casa no dia em que os fatos aconteceram.
— Ele poderá ser uma peça de ligação de pontos que estão sendo levantados na investigação — avalia.
Michele ressaltou à reportagem que Alexandra poderia responder por homicídio doloso qualificado e ocultação de cadáver. A pena do homicídio doloso varia de 12 a 30 anos.
Amor pela mãe
Na reportagem do Fantástico, no quarto de Rafael, é mostrada uma tarefa da escola em que ele precisava completar uma frase: "Minha mãe é...". O menino escreveu: "Maravilhosa!". Ladejane Ravagio, professora do Instituto Estadual Padre Vitório, onde Rafael estudava, relatou à reportagem que o garoto enxergava a mãe com "muito orgulho", como a pessoa que ele "mais confiava e amava no mundo".
Jaqueline conta que via Rafael em sua casa todos os dias. Tanto que seu filho ainda segue abalado. Emocionada, ela desabafou:
— Me dá dor no coração, porque ela pode ficar 20, 30 anos, não sei quantos anos presa, mas o Rafael não vai voltar mais.