Entenda a reportagem em cinco pontos
- A Unick Forex, do Vale do Sinos, foi alvo de operação em outubro. Na ação, 10 pessoas envolvidas com a empresa foram presas, sendo que quatro seguem detidas.
- São réus por organização criminosa 15 pessoas. Treze respondem ainda por outros crimes.
- O inquérito da Polícia Federal, ao qual GaúchaZH teve acesso, lista os bens apreendidos e bloqueados, que vão desde veículos, apartamentos e dinheiro em espécie.
- O inquérito e a denúncia do Ministério Público Federal descrevem qual seria o papel de cada envolvido na suposta organização criminosa.
- Leidimar Bernardo Lopes é apontado como o chefe do grupo. Ele apresentaria-se aos clientes como o fundador da empresa e seu CEO.
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A empresa Unick Forex, do Vale do Sinos, foi alvo da Operação Lamanai da Polícia Federal, deflagrada em 17 de outubro, e seus sócios e principais diretores foram presos e respondem à ação penal por organização criminosa. GaúchaZH teve acesso às 262 páginas do inquérito da Polícia Federal (PF), e à denúncia do Ministério Público Federal (MPF), com 20 páginas, além dos anexos. Os números demonstram movimentações de R$ 28 bilhões e as dívidas com os clientes chegariam a R$ 12 bi para as contas que estão ativas.
Ambas as peças são parciais, já que tanto a PF como o MPF precisam de mais tempo para aprofundar as investigações devido ao vasto material apreendido e da complexidade do caso. Foram entregues, inicialmente, à Justiça Federal em razão dos prazos legais e por haver réus presos. Dos 10 presos na oportunidade, seis foram soltos. Os nomes de quem segue confinado não são informados.
R$ 28 bilhões movimentados
Em agosto de 2019, a Unick tinha em torno de 1,5 milhão de contas ativas que receberam R$ 28 bilhões, segundo relatório da PF. O valor registrado daria, por exemplo, para quitar quase um ano de salário do funcionalismo público do Estado. A folha mensal do Executivo, que vem sendo paga com mais de um mês de atraso, é de cerca de R$ 1,5 bilhão.
Para essas contas ativas em agosto de 2019, segundo as investigações, a Unick estaria devendo R$ 12 bilhões. Ainda não se sabe o número de clientes que não puderam sacar os seus investimentos e, consequentemente, são credores da empresa. É que todos os valores e bens da Unick e de seus sócios foram bloqueados pala Justiça Federal.
— A abrangência era muito grande. Sem falar que estava tomando proporção de se expandir para outros países. Nos chamou a atenção o volume de pessoas atingidas e os valores — analisa o delegado Aldronei Rodrigues, que conduz as investigações na PF. Segundo ele, o esquema tentaria "ocultar o rastro do dinheiro".
Os motivos
A PF indiciou 13 pessoas pelos seguintes crimes: contra o sistema financeiro e evasão de divisas, contra a economia popular, organização criminosa e crimes tributários. O MPF denunciou 15, mas por organização criminosa. Em 21 de novembro, a juíza substituta da 7ª Vara Federal de Porto Alegre Karine da Silva Cordeiro aceitou a denúncia.
Os 15 réus têm 10 dias a partir da intimação para responder à acusação. No entendimento do MPF, as provas obtidas pela PF já eram suficientes para denunciar duas pessoas a mais do que o relatório policial. A PF pretendia aguardar a próxima fase das investigações para fazer o eventual indiciamento desses agora réus.
Bens apreendidos
O relatório da PF traz uma tabela de todos os bens apreendidos e bloqueados, que vão desde veículos de luxo, passando por apartamentos, dinheiro em espécie e terrenos dos réus. São 29 imóveis avaliados em R$ 28,4 milhões. Outros cinco não têm avaliação, todos adquiridos no prazo de um ano. Os investigados foram monitorados por meio de campanas e interceptações telefônicas e telemáticas autorizadas pela Justiça Federal. A PF também se valeu do compartilhamento de dados da Receita Federal.
Conforme a PF, a Unick, por meio de seus sócios, diretores e operadores, teria cometido delitos que "vão desde o ingresso dissimulado de valores, com a utilização randômica de empresas diversas para receber os depósitos dos investidores nos vários 'planos' ofertados, com estrutura piramidal inarredável, e a lavagem e ocultação de valores, mediante a aquisição de imóveis, participação/sociedade em empresas, aquisição de empresas que seguem em nome de terceiros, e a aquisição de bens de luxo (carros, etc.), aquisição de criptoativos e criação de empresas de fachada".
O papel de cada um dos 15 réus no esquema, segundo a PF e o MPF:
Leidimar Bernardo Lopes
Exerceria o comando da suposta organização criminosa, apresentaria-se aos clientes como o fundador da empresa e seu CEO. Os demais denunciados referiam-se a ele como "comandante", "presidente" ou "chefe", dada a sua posição de ascendência sobre eles.
Danter Navar da Silva
Seria o diretor de marketing da Unick Forex e estaria ligado diretamente a Leidimar Lopes. Faria a divulgação, por meio de vídeos corporativos e também por meio de palestras e produtos da empresa. Atuaria no planejamento e gerenciamento dos negócios da Unick.
Fernando Baum Salomon
Advogado, inicialmente atuaria juntamente a Caren Greff de Oliveira para a suposta organização criminosa a partir do seu escritório de advocacia. Teria cedido contas pessoais e de seu escritório de advocacia Fernando Salomon e Advogados Associados para a organização criminosa manter valores que teria captado dos clientes, e reportaria movimentações nessas contas a Leidimar Lopes. Teria efetuado movimentações de conta bancária do seu escritório de advocacia para empresas que teriam sido indicadas por Leidimar para fins de pagamentos a clientes da Unick Forex.
Caren Cristiani Greff Martins
Advogada, teria atuado, em parte do período dos fatos, juntamente a Fernando Salomon, no mesmo escritório de advocacia, para as atividades da Unick Forex, e, em outra parte, a partir do seu próprio escritório de advocacia. Trabalharia como "prestadora de serviços advocatícios à empresa".
Fernando Marques Lusvarghi
O advogado seria diretor jurídico da Unick Forex. Participaria da administração e gerência da empresa, atuando no planejamento de atividades. A partir da sua empresa SA Capital, prestaria garantia supostamente fictícia aos investidores. Receberia valores captados de clientes, controlaria e efetuaria pagamentos dos investimentos a clientes.
Paulo Sérgio Kroeff
Estearia ligado a Leidimar Lopes, Fernando Salomon e Caren Greff. Seria o responsável pela aquisição e direção de empresas para Leidimar nas atividades que seriam desenvolvidas pela Unick Forex.
Israel Nogueira e Sousa
Seria diretor de comunicação e tecnologia da Unick Forex. Atuaria no desenvolvimento de sistemas para a operacionalização das atividades da empesa. Auxiliaria na abertura de empresa para a suposta organização criminosa em Los Angeles (EUA) e de contas bancárias para suposto recebimento de recursos dos investimentos.
Sebastião Lucas da Silva Gil
Integraria a equipe diretiva da Unick Forex. Movimentaria em sua conta bancária valores da Unick Forex e efetuaria contatos com clientes acerca de seus investimentos na empresa. Atuaria na criação de banco digital (OURBANK) para a suposta organização criminosa.
Euler da Silva Machado
Efetuaria pagamentos a pessoas, segundo a investigação, a mando de Leidimar Lopes. Controlaria pagamentos a clientes da Unick Forex.
Ronaldo Luis Sembranelli
Atuou, conforme a investigação, como "laranja" de Leidimar para a aquisição de ações de um banco com recursos que viriam das atividades da Unick.
Marcos da Silva Kronhardt
Atuaria como trader (profissional responsável por negociar ativos financeiros) e operador da Unick Forex no mercado Forex. O réu agiria como "prestador de serviços" por meio da sua empresa MSK Soluções Financeiras.
Fabiano Alves da Silva
Seria diretor administrativo da Unick Forex, e teria ligação direta com Leidimar Lopes. Seria responsável pela equipe de desenvolvimento, criação e projetos do suporte da empresa. Acompanharia a gestão e teria realizado, em conjunto a Leidimar, negócios da empresa.
Ana Carolina de Oliveira Lopes
Filha de Leidimar Lopes teria exercido, com o pai, a administração da Unick Forex. Controlaria contas bancárias do grupo, cederia sua conta para supostos recebimentos de valores de investimentos, elaboraria, entre outros, contratos de traders para a Unick.
Itamar Bernardo Lopes
Movimentaria em contas bancárias próprias e de sua empresa valores que seriam captados pela suposta organização criminosa.
Ricardo Ramos Rodrigues
Contador, atuaria na suposta organização criminosa confeccionando documentos fiscais e contábeis do grupo.
Contraponto
O que dizem os réus:
O Nelson Wilians e Advogados Associados, que defende Leidimar, Danter, Israel, Fabiano, Ronaldo, Marcos, Sebastião, Ana Carolina e Itamar, informa que os seus clientes acreditam na Justiça brasileira. A defesa diz ainda que está tomando todas as medidas e interpondo os recursos cabíveis para revogar a desnecessária prisão preventiva. A reportagem ainda tenta contatar a defesa dos demais réus.