A empresa Unick, alvo de operação da Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (17), chegou a movimentar cerca de R$ 9 bilhões, segundo o superintendente regional da PF no Estado, Alexandre Isbarrola. Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, Isbarrola destacou que o grupo — que alega atuar no mercado de moedas virtuais — operava fora do país e agia como uma "organização criminosa muito bem estruturada".
— Essa empresa chegou a ter em torno de um milhão de clientes. Ela operava a nível nacional. Segundo informações que foram apuradas, ela chegou a movimentar em transações algo em torno de R$ 9 bilhões e operava em aproximadamente 14 países.
O superintendente destaca que a Unick operava nos mesmos moldes da Indeal, alvo de Operação Egypto, deflagrada pela PF em maio. No entanto, o grupo alvo dos investigadores nesta quinta-feira era "muito maior", segundo Isbarrola.
O chefe da PF no Estado explica que o grupo atuava sem a autorização de instituições que regulam o mercado financeiro, oferecendo retorno de até 100% sobre o valor investido, em um período de seis meses — índice muito acima do praticado em aplicações e investimentos legais. A Unick estaria atraindo seus clientes com essa promessa e atuando como pirâmide financeira, em que novos investidores financiam aqueles que estão no topo do esquema.
— Isso se estrutura em forma de pirâmide financeira. Há essa captação nos primeiros períodos de operação. Os novos investidores vão pagando os antigos e se consegue dar uma aparência de legalidade e de retorno garantido.
Isbarrola explica que essa estrutura acaba ruindo com a falta de dinheiro para garantir o lucro de todos os integrantes do esquema:
— Como a base de clientes aumenta muito e o ganho prometido é muito acima de mercado, chega uma hora em que essas organizações que se estruturam dessa forma não vão conseguir mais pagar os seus investidores. Isso é fato. É matemática.
O superintendente salienta que a empresa foi notificada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para cessar sua atuação, mas mesmo assim continuou operando irregularmente. Isbarrola disse que os clientes que não conseguiram recuperar o investimento no negócio terão de buscar as "via legais adequadas" para eventual ressarcimento.
A operação desta quinta ganhou o nome de Lamanai. Estão sendo cumpridos 10 mandados de prisão e 65 ordens de busca e apreensão em Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo, Caxias do Sul, Curitiba (PR), Bragança Paulista (SP), Palmas (TO) e Brasília (DF). Todos os mandados de prisão foram cumpridos na manhã desta quinta-feira — os nomes dos alvos não foram divulgados.
Contraponto
O escritório Nelson Wilians e Advogados Associados, que representa a Unick, divulgou nota no final da manhã desta quinta-feira. Leia a íntegra:
"O escritório Nelson Wilians e Advogados Associados, que representa juridicamente a UNICK Academy, vem reafirmar o compromisso da empresa em colaborar com as autoridades competentes, prestando as informações necessárias para apuração de quaisquer eventuais fatos que tenham ocorrido em relação a suas operações. A empresa reafirma seu compromisso com seus clientes e acredita na Justiça e nos esclarecimentos dos fatos".