Não foi por falta de aviso. Na manhã desta quinta-feira (17), a Polícia Federal (PF) deflagrou uma operação em unidades da Unick. Foram mobilizados cerca de 200 agentes para cumprir 10 mandados de prisão e 65 ordens de busca e apreensão. Mas os alertas sobre a empresa não são de hoje e ainda assim, ela seguia captando clientes e bilhões de reais.
Para se ter uma ideia, ainda em março de 2018, a Comissão de Valores Mobiliários emitiu um alerta ao mercado sobre atuação irregular da Unick, que facilmente é consultado pela internet. Segundo o documento, chamado de "ato declaratório", a empresa não tinha autorização da autarquia para captar clientes no Brasil pelo site unick.forex, que segue no ar. No aviso, a CVM inclusive citou o nome de pessoas e razões sociais de empresas que estariam realizando as operações irregulares no mercado. E as pessoas continuavam investindo.
Depois, em maio de 2019, a Justiça do Rio Grande do Sul negou pedido de representantes da Unick Forex para devolução de bens apreendidos e autorização para a empresa divulgar os serviços. Relator no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, desembargador Rogério Leal disse que as informações e documentos mostram que a Unick Forex está ligada a um esquema de pirâmide financeira, cometendo crime contra a economia popular.
"A forma de operação da empresa se tornou conhecida popularmente como sendo 'aplicação de dinheiro em criptomoedas', algo que sequer possui regulamentação na legislação brasileira, prometendo lucros exorbitantes (em torno de 15% ao mês), além de um lucro extra de 5% a cada nova pessoa trazida para a 'pirâmide'." - diz o magistrado na decisão. E as pessoas continuavam investindo. Até que a falta de pagamento se alastrou e quem colocou dinheiro no esquema começou a ficar realmente preocupado. Inclusive, com pessoas acampando na frente da sede da Unick, no Rio Grande do Sul.
O inquérito da Polícia Federal, que levou à operação desta quinta, foi aberto em janeiro de 2019. Os clientes da empresa recebiam a promessa de retorno de 100% sobre o valor investido no prazo de seis meses. Apesar de ser um percentual, que, por si só, deveria gerar desconfiança por parte dos investidores, a Unick chegou a captar R$ 40 milhões por dia. Movimentou R$ 9 bilhões em 14 países. E o "desconfiômetro" do bom investidor, cadê?
Os valores dos clientes seriam aplicados no mercado de Foreign Exchange (Forex), compra e venda de moedas, o que só pode ser feito por instituições financeiras e pessoas autorizadas pela CVM. E, pelos relatos que a coluna Acerto de Contas recebe, há nesse grupo pessoas que não compram nem ações na bolsa de valores porque acham que é arriscado. Tem gente que pegou dinheiro da poupança ou do FGTS e até vendeu imóvel para aplicar no esquema.
"Um cliente tirou R$ 300 mil daqui e mandou para eles.", contou hoje uma fonte do mercado financeiro. Só para pegarmos um exemplo.
E ainda há pessoas que acham que as investigações e as notícias é que "estragam" o negócio. A queixa tem lógica, já que pirâmides precisam que cada vez mais pessoas entrem no esquema para quem está no topo ganhar o dinheiro. O mecanismo funciona assim. Só que a maioria sabe que desmorona um dia e age de má-fé. São pessoas que atraem outras para o esquema, apostando que a quebra ocorrerá após terem embolsado o seu próprio ganho.
Agora, as pirâmides financeiras envolvem criptomoedas, como são chamadas as moedas virtuais. Ou seja, há ainda mais risco envolvido, por serem algo que ainda engatinha na regulamentação. Só que o esquema existe há décadas e volta e meia reaparece, assim como o golpe do bilhete premiado.
Antes de investir, investigue
Independente do tamanho do retorno prometido, a orientação é investigar as empresas antes de fazer os investimentos. Uma das fontes é o próprio site da Comissão de Valores Mobiliários, além do Banco Central e da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA). Se não estiver entre as empresas listadas na CVM, desconfie. Além disso, o órgão tem um canal no site pelo qual a pessoa pode questionar sobre as empresas.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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