A Polícia Civil encaminhou na tarde desta segunda-feira (14) ao Judiciário o inquérito sobre os ataques com ácido na zona sul de Porto Alegre ocorridos em junho deste ano. O empresário Wanderlei da Silva Camargo Júnior, 48 anos, preso no dia 4 de outubro em Curitiba, no Paraná, é suspeito de ter sido o autor dos crimes.
Cinco vítimas — quatro mulheres e um adolescente — foram feridas ao serem atingidas por ácido sulfúrico.
Segundo a diretora do Departamento de Polícia Metropolitana, delegada Adriana Regina da Costa, o empresário foi indiciado pelos crimes de lesão corporal grave, pelo furto de uma placa de um veículo e por adulteração de outro carro: o HB20 usado nos ataques.
A investigação chegou ao suspeito após identificar que três veículos alugados por ele em Porto Alegre, entre os dias 15 e 25 de junho, estiveram nos locais dos ataques, em horários compatíveis com os dos crimes.
Camargo Júnior foi preso na sede da empresa de turismo que mantém na capital paranaense. Durante a prisão, policiais apreenderam dois frascos onde havia suspeita de que pudesse ter sido armazenado o ácido. A análise do Instituto-Geral de Perícias (IGP) confirmou que havia ácido sulfúrico nas embalagens.
— A perícia positiva reforça nosso trabalho de investigação. O laudo mostra que os exames realizados apontaram presença de ácido sulfúrico, o mesmo que já havia sido localizado quando foi realizada perícia nas roupas das vítimas — afirma a delegada.
Três das vítimas atingidas tiveram lesões graves. Elas serão submetidas a novos exames daqui a seis meses para saber se continuarão com lesões, o que pode resultar em responsabilização por lesão corporal gravíssima.
O suspeito preferiu permanecer em silêncio e não prestou depoimento. Mas, segundo o delegado Luciano Coelho, da 13ª Delegacia de Polícia, informalmente ele teria admitido que realizou os ataques. Disse que não conhecia as vítimas, mas pretendia, com os delitos, amedrontar a ex-companheira, que mora em Porto Alegre.
— As vítimas não têm nenhuma relação com ele. Mas os locais dos ataques têm relação com a ex-companheira dele. Isso ele verbalizou. A gente vai procurar investigar melhor, claro. Como estava em fase de separação, queria demonstrar para a ex-companheira que os locais habituais (que ela frequentava) não eram seguros. Queria que ela fosse residir com ele no Estado do Paraná — afirmou o delegado em coletiva à imprensa na segunda-feira (7).
Ainda conforme o delegado, o empresário contou ter furtado placas de outro veículo, para adulterar o HB20 usado nos ataques. Ainda contou ter sido o responsável por arremessar uma carta contra uma residência, no bairro Cavalhada, com instruções para que novos ataques fossem cometidos. O suspeito foi conduzido para Porto Alegre e encaminhado ao Presídio Central.
Ex-companheira
Ao programa Fantástico, da TV Globo, a ex-companheira do suspeito, que manteve relacionamento com ele por cinco anos, relatou que o relacionamento do casal foi conturbado e marcado por agressões. Ela rejeita a versão apresentada por Wanderlei como motivo para os ataques.
— O objetivo dele não era eu ir morar em Curitiba. Eu acho que ele estava fazendo vítimas para o dia que resolvesse me queimar com ácido ou sumir com meu corpo ou alguma coisa assim, relacionada a ácido, achassem que eu era só mais uma vítima — disse.
A investigação
Quatro mulheres e um adolescente, de 17 anos, foram feridos nos bairros Nonoai e Hípica, entre os dias 19 e 21 de junho. O criminoso se aproximava das vítimas e arremessava o líquido ácido nelas.
No primeiro caso, na Rua Santa Flora, o autor estava de bicicleta. Nos outros quatro, dois dias depois, usou um HB20 branco, flagrado por câmeras de segurança.
A polícia descobriu que Camargo Júnior, dono de uma empresa de turismo com sede em Curitiba e filial em Porto Alegre, havia alugado três carros na Capital, dois Logan e um HB20 idêntico ao usado nos ataques.
Pelo sinal de GPS dos carros, a polícia traçou as rotas feitas pelo empresário no período em que alugou os carros. O HB20 passou por análise do Instituto-Geral de Perícias (IGP), que confirmou que as placas do veículo possuíam vestígios de manipulação.
Contraponto
O advogado Wellington Alves Ribeiro, responsável pela defesa do empresário, relatou que ainda não teve acesso ao inquérito. Em nota afirmou que " todas as motivações pessoais veiculadas pela imprensa, referente ao presente caso, são meras especulações já que em seu interrogatório Wanderlei permaneceu em silêncio". Disse ainda que "o julgamento precipitado apenas torna o fato que já é bastante triste ainda mais doloroso para todas as partes envolvidas".