A ex-companheira do homem apontado como autor de ataques com ácido a cinco pessoas em ruas da zona sul de Porto Alegre, em junho, afirmou ao Fantástico que o relacionamento do casal foi conturbado e marcado por agressões. Wanderlei da Silva Camargo Júnior, 48 anos, foi preso no dia 4 — conforme a Polícia Civil, o empresário cometeu os crimes para assustar a mulher, moradora da Capital, e fazer com que ela decidisse residir com ele no Paraná.
— Muito ciúme, muita cobrança. Ele colocava escutas na minha casa, colocava câmeras escondidas, um programa espião no meu aparelho celular que até hoje eu não consegui tirar — contou ao programa, que foi ao ar na noite deste domingo (13).
Wanderlei é sócio de uma agência de viagem em Curitiba, que também tem escritório na capital gaúcha. Após o fim do relacionamento, ele teria passado a perseguir e fazer ameaças. Isso teria ocorrido, inclusive, na semana dos ataques, quando a mulher estava com uma amiga.
— Depois, mandou mensagem dizendo que está sempre de olho em mim, que ia saber todos os meus passos, que era para ele saber se eu era merecedora do amor dele ou não, essas coisas. Eu falei: "Não quero teu amor. Esse amor que tu acha que tem eu não quero mais" — afirma. — Ele é uma pessoa explosiva. Tem componentes de raiva, e é uma pessoa extremamente ciumenta, possessiva, paranoica — acrescenta a mulher, que relata ter sofrido agressões dele por duas vezes.
A polícia descobriu a identidade do homem ao analisar as câmeras de monitoramento e que pelo menos três carros foram alugados para realizar os ataques — um deles teve as placas trocadas.
— Muito importante foi a prova técnica desse inquérito policial, onde temos a presença desse carro alugado em todos os pontos do ataque, com horário preciso do GPS, que aponta a presença do suspeito em todos esses locais — afirma a diretora do Departamento de Polícia Metropolitana, Adriana Regina da Costa.
A ex-companheira acredita que Wanderlei escolheu a região por saber que ela frequenta a Zona Sul:
— Uma rua é onde a minha irmã mora. Ele sabia da minha rotina.
Ela rejeita a versão apresentada por Wanderlei como motivo para os ataques.
— O objetivo dele não era eu ir morar em Curitiba. Eu acho que ele estava fazendo vítimas para o dia que resolvesse me queimar com ácido ou sumir com meu corpo ou alguma coisa assim relacionada a ácido, achassem que eu era só mais uma vítima do ácido — diz. — Eu acho que poderia ser uma próxima vítima.
Relembre os ataques
Os ataques aconteceram nos dias 19 e 21 de junho, nos bairros Nonoai e Aberta dos Morros. Quatro mulheres e um adolescente foram atingidos pelo líquido, que o IGP confirmou ser ácido.
Uma das vítimas é Bruna Machado, que voltava para casa depois de um dia inteiro de faxina. O agressor se aproximou de bicicleta, e jogou o líquido na direção dela.
— Eu achei que estava caindo, derretendo o meu rosto — conta.
Ela teve queimaduras profundas no rosto e no braço. Por pouco os olhos não foram atingidos.
As roupas atingidas pelo líquido foram periciadas pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP), que constatou se tratar de ácido sulfúrico.
— É um ácido extremamente forte, corrosivo, tem um poder de desidratação muito grande. A hora que tocar na pele vai desidratar, vai formar uma queimadura química, então o dano é bem agressivo na pele ou em outros materiais que sejam suscetíveis a esse ácido — explica o perito criminal Marcos José Souza Carpes.