Entenda a reportagem em cinco pontos
- Entre os dias 19 e 21 de junho deste ano, cinco pessoas foram vítimas de ataques com líquido ácido nas ruas Santa Flora, no bairro Nonoai, e Francisca Prezzi Bolognesi, no bairro Hípica, na zona sul de Porto Alegre.
- Durante a investigação, os policiais chegaram ao nome do empresário Wanderlei da Silva Camargo Júnior, 48 anos. Ele foi preso na sexta-feira (4), em Curitiba, no Paraná.
- Informalmente, Camargo Júnior disse aos policiais que pretendia mostrar a ex-companheira que os locais que ele frequenta não eram seguros — os ataques foram em trajetos que ela usava. Assim, queria convencê-la a morar com ele no Paraná.
- Segundo a polícia, as vítimas foram escolhidas aleatoriamente.
- O suspeito ainda teria arremessado uma carta com instruções para que novos ataques fossem realizados na Zona Sul.
Leia a reportagem completa
Por não aceitar o término de um relacionamento, um empresário teria atacado cinco vítimas com substância ácida na zona sul de Porto Alegre. A série de crimes, ocorrida em junho, teria sido uma forma de tentar assustar a ex-companheira, moradora da Capital, para que ela decidisse residir com ele no Paraná. Na sexta-feira (4), Wanderlei da Silva Camargo Júnior, 48 anos, proprietário de uma empresa de turismo, foi preso preventivamente em Curitiba. O resultado da investigação foi divulgado em coletiva de imprensa na manhã desta segunda-feira (7), no Palácio da Polícia.
Os locais escolhidos para os ataques, as ruas Santa Flora, no bairro Nonoai, e Francisca Prezzi Bolognesi, no Hípica, seriam áreas de circulação da ex-companheira do suspeito. Para a polícia, o homem ainda teria sido responsável por arremessar uma carta, enrolada em uma pedra, contra uma residência. No papel, havia instruções para que novos ataques fossem realizados em outras duas ruas da Zona Sul, onde a mulher residia e trabalhava.
Conforme o delegado Luciano Coelho, da 13ª Delegacia de Polícia, o empresário teria escolhido as vítimas de forma aleatória. Para realizar os ataques, teria usado três veículos alugados. Um deles, um HB20, teve as placas trocadas pelas de um Astra, de Sapucaia do Sul. Conforme o policial, o próprio empresário furtou as placas de outro carro e substituiu as originais do HB20. O empresário decidiu não prestar depoimento sobre o caso, mas, de acordo com o delegado, falou informalmente aos policiais sobre a motivação e a forma como teria agido.
— As vítimas não têm nenhuma relação com ele. Mas os locais dos ataques têm relação com a ex-companheira dele. Isso ele verbalizou. A gente vai procurar investigar melhor, claro. Como estava em fase de separação, queria demonstrar para a ex-companheira que os locais habituais (que ela frequentava) não eram seguros. Queria que ela fosse residir com ele no Estado do Paraná — explicou Coelho.
Conforme o delegado, o empresário gaúcho morava há 26 anos no Paraná, onde mantinha a sede de uma empresa de turismo. No entanto, abriu uma filial no Rio Grande do Sul e, enquanto manteve o relacionamento com a ex, costumava passar uma semana em Porto Alegre e outra em Curitiba. Com o rompimento da relação, teria regressado ao Paraná. O suspeito supostamente voltou ao Rio Grande do Sul com a intenção de cometer os ataques. Com ele, foram apreendidos dois tubos com uma substância que teria sido usada nos ataques, assim como uma chave de fenda e luvas.
— Ele premeditou tudo, desde o início. Foi tudo muito bem pensado, arquitetado. Queria demonstrar que aqueles locais não eram seguros. Que o local mais seguro para ela ficar seria no Paraná com ele. Quanto ao material apreendido, foi encontrada uma pochete e ali tem todos os elementos que usou para cometer o delito. Desde chave de fenda, arame para a troca da placa, ácido, luvas. Ele referiu para mim que dentro daqueles dois tubos existe a substância que ele utilizou. Tudo será periciado — afirmou o delegado.
Três das cinco vítimas dos ataques tiveram lesões corporais graves. Elas serão submetidas a novos exames daqui a seis meses para saber se continuarão com lesões, o que pode resultar em responsabilização por lesão corporal gravíssima. O empresário deve responder ainda pelo furto da placa e pela adulteração do veículo. Ele foi encaminhado ao Presídio Central. Novas perícias serão feitas em um notebook e nos recipientes apreendidos.
— As lesões foram em pessoas que ele sequer conhecia, embora elas residissem próximo de locais de trânsito da ex-companheira. Foi um caso grave. Nosso receio, era que ocorressem novos ataques. Isso mobilizou todos os serviços de inteligência da polícia. Foi um conjunto de forças e chegamos à elucidação desse caso — disse o delegado.
Medida protetiva
Conforme a delegada Adriana Regina da Costa, do Departamento de Polícia Metropolitana, a ex-companheira do suspeito possui medida protetiva contra ele e foi monitorada pelos policiais ao longo da investigação, para que não ficasse em risco.
— Estávamos preocupados também com ela, não só com as vítimas que já tinham sido atacadas. A mulher não tinha conhecimento desses ataques. Também não podíamos expor a ela a investigação. Mas estávamos preocupados em trazer segurança para ela, mesmo que não soubesse.
A mulher foi informada na sexta-feira (4) sobre a prisão do ex-companheiro. Segundo o delegado Coelho, demonstrou surpresa:
— Ela já tinha um registro contra ele, por perturbação da tranquilidade. Mas ficou muito surpresa porque não o descrevia como um homem violento — disse o delegado.