A prisão de um homem suspeito de atacar com ácido quatro mulheres e um adolescente de 17 anos, que tiveram queimaduras em áreas como rosto e pescoço, revela mais um triste episódio de um machismo que insiste em perdurar numa sociedade onde historicamente mulheres são violentadas por companheiros e ex-companheiros insatisfeitos com o fim dos relacionamentos. No caso do ácido, o empresário — conforme investigação brilhante da Polícia Civil gaúcha — não se conformava com o fato de a ex-companheira possuir vontade divergente da dele. O homem queria que ela morasse com ele no Estado do Paraná. Ela queria permanecer no Rio Grande do Sul.
Num plano delirante que transparece um machismo perturbador, o suspeito então procurou promover ataques a homens e mulheres que nada tinham a ver com a relação conjugal apenas para aterrorizar a sua "real vítima". O objetivo: mostrar a ela que a região onde ela residia era extremamente perigosa e, por isso, deveria trocar de residência e unir-se a ele na nova cidade.
— A intenção dele, segundo ele verbalizou, seria demonstrar a ela que aqueles locais não eram seguros. Enquanto esses ataques iam acontecendo, ele mandava mensagens como: "Pô, tu vê como está difícil aí, vem morar aqui comigo". Acho que ele ficou numa situação desesperadora no sentido de que a relação ia terminar e então bolou esse plano — afirmou o delegado Luciano Coelho, responsável pela investigação, ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha.
É assustador que em 2019 um homem ainda não consiga lidar com o fato de que uma mulher não queira seguir as vontades dele. E mais ainda: que violente outras pessoas no sentido de dissuadi-la, já que não consegue lidar com o fim do relacionamento.
Ouça a íntegra da entrevista
Para a delegada Adriana Regina da Costa, diretora do Departamento de Polícia Metropolitana, é importante ressaltar nesse episódio a atenção prestada pelas autoridades à mulher que, inclusive, já havia prestado queixa e contava com medida protetiva contra o homem que protagonizou os ataques. Ela reforça a necessidade de que vítimas registrem os casos na Delegacia Especializada da Mulher.
— Nós sempre estivemos preocupados com a vítima. Ela já tinha ocorrência na Delegacia da Mulher e contava com uma medida protetiva. Por isso, reforçamos o conselho a mulheres que eventualmente sejam vítimas de violência para que procurem uma delegacia especializada, temos toda uma rede de apoio. A mulher deve registrar ocorrência policial a fim de que a polícia tome conhecimento dos fatos — observa.