Hoje é um dia importante para nós, mulheres e homens.
Digo para ambos – mulheres e homens – porque a cada dia que passa me convenço de que a luta feminina por direitos e por igualdade exige união de forças, e não a separação.
Hoje é Dia Internacional da Mulher e é triste admitir: ainda falta muito.
Em primeiro lugar, querida leitora e querido leitor, obrigada por estarem conosco nesta data. É claro que nós temos motivos para celebrar. Vejam que em 2019, antes tarde do que mais tarde, o Rio Grande do Sul tem, pela primeira vez, uma mulher ocupando o posto mais alto da Polícia Civil . E sabem o que a delegada Nadine Anflor disse ao assumir? Que terá como um dos pilares de sua gestão o olhar especial à vítima que busca ajuda das autoridades. Muitas vezes, diz a delegada Nadine, a pessoa se torna vítima duas vezes: primeiro, da violência, e depois da falta de preparo do Estado para atendê-la.
Pois vejam só, ganha uma rosa aquele que adivinhar quem é uma das maiores vítimas dessa violência brutal que prolifera diariamente em nosso país. Sim, essa mesmo que a gente "festeja" hoje: A MULHER.
Por isso, caríssima leitora e caríssimo leitor, hoje é um dia extremamente relevante para que discutamos o respeito, a igualdade de gênero e o tanto de distância que ainda precisamos percorrer.
Nesta semana, a vendedora Jane Cherubin, de 36 anos, não teve forças para levantar da estrada que dá acesso ao Parque do Caparaó, no Espírito Santo. Ela apanhou tanto, mas tanto, mas tanto, que acabou desmaiando. E por ali ficou. No meio da estrada. Desacordada. Correndo risco de vida até o momento em que seus irmãos a encontraram. Jane estava com o rosto completamente desfigurado. A vendedora vai ficar pelo menos 15 dias internada. Hoje, sexta-feira, Dia da Mulher, Jane ainda não consegue abrir os olhos.
O principal suspeito, aliás, é o namorado.
Abrir os olhos não é sequer uma opção para a gaúcha Quelem de Medeiros da Rosa, de 30 anos. Ela foi morta a facadas na madrugada de segunda-feira, em Santa Maria. A delegada Elizabete Shimomura diz que o principal suspeito é, também, o companheiro da vítima. Que, registre-se, fugiu levando a filha de dois anos (mas ao menos uma notícia boa: ela já foi localizada pela polícia).
A Quelem já tinha feito registros de agressão contra o companheiro não uma, nem duas, mas três vezes. Uma em 2003 e outras duas no ano passado, quando foi agredida com golpes de pé de cabra. Ela teve forças para se mover em busca de justiça e chegou a conseguir uma medida protetiva, que expirou em agosto do ano passado. Mas não teve forças para se afastar dele. Os dois voltaram. Sabe Deus quantas ameaças não foram feitas para que ele a tivesse de volta.
São dois casos apenas. E desta semana, que é celebrada em diversos países do mundo como a Semana da Mulher. Mulheres violentadas pelo simples fato de não corresponderem aos desejos de homens a quem confiaram seus sentimentos de amor e de construção de uma vida juntos.
Voltemos ao dia de hoje. O tal Dia Internacional da Mulher.
Se queremos, de fato, celebrá-lo, é urgente que revisemos nossas regras de convivência. É imperativo que ensinemos, que reforcemos, que colemos cartazes pelas paredes, que insistamos com nossas meninas e nossos meninos que o respeito é muito importante e, ATENÇÃO, não tem gênero. Que mais importante do que roupa azul e roupa rosa são empatia e compaixão. Que mulheres não são menos do que homens. E que os direitos devem ser os mesmos, e os deveres, também. É preciso encorajar nossas meninas a seguirem os seus próprios caminhos, a trilharem os seus destinos. E explicar a elas e a eles que esses caminhos não devem prejudicar a jornada de outras pessoas. É preciso lembrar aos nossos meninos que tudo bem brincar de casinha e de panelinha. E que homem também chora. E que ele ou ela podem ser o que quiserem. Vestidos de azul ou de rosa.
Se passarmos os olhos por parte das notícias dos últimos dias, admito, está difícil ter esperança na humanidade. Mas é justamente essa humanidade que nos falta. É preciso parar, pensar e começar de novo.
E, ainda que tenham nos ensinado assim, acho difícil que a salvação chegue pelas mãos de um príncipe encantado num cavalo branco. Sapatinho de cristal, então, esquece. Com esse calor que anda fazendo em Porto Alegre, é capaz de o pé ficar suado, e aí já viu. É melhor colocar os pés no chão.
Na ausência de uma fada madrinha, que cada um faça a sua parte. Respeitar a luta das mulheres já é um começo. Sigamos.