Toda vez que os olhos bem marcados de minha amiga Andréia Sadi surgem na tela da GloboNews, duas coisas me vêm à cabeça. Primeiro: corre, que alguma coisa aconteceu. Segundo:
– É ela. A mulher mais linda do Brasil.
Já sei, irão discordar. Tu estás louca. A Débora Nascimento é um deslumbre. Erika Januza sorri com o olhar. E a Gisele Bündchen? Justo. Afinal, o regime democrático nos permite dispor de opiniões divergentes não somente sobre a execução da pena após condenação em segunda instância, mas também quanto à gravidade do caixa 2. Nos últimos dias, vejam só, o país se dividiu sobre uma questão elementar: áudio de WhatsApp deve ou não configurar uma conversa. Amizades foram desfeitas. Mas, calma, o leitor pode ficar tranquilo. Não falaremos disso por aqui.
Voltemos a Andréia Sadi. Em que pese sua beleza estonteante, reduzi-la a esse atributo seria preguiçoso e até mesmo injusto de minha parte. Ela é muito mais. É inteligente, perspicaz, uma das jornalistas mais bem informadas do país, tem um sentimento genuíno de proteção e amor aos seus amigos e, pasmem, consegue fazer dieta em meio àquele vuco-vuco do Congresso Nacional. Dia desses, nossa amiga igualmente talentosa Vera Magalhães me escreveu no meio da noite:
– Você não vai acreditar.
Eu me assustei e perguntei o que tinha acontecido. Vera estava em Brasília, onde na manhã seguinte seriam empossados os novos senadores e deputados federais. Seria um furo retumbante àquela altura do campeonato? Vera denunciou:
– Andréia está comendo ovo com canela.
Jesus! A justificativa, vejam, é que a canela reduz em nosso organismo a vontade de comer doce. Foi a nutricionista da Andréia que disse. Me uni a Vera. Ovo com canela não dá.
Ainda que consiga compreender o esforço pela redução do doce – e ok, admitamos, Bela Gil está certa, e todos nós deveríamos rever a quantidade de açúcar em nossas refeições –, confesso que é outro reducionismo que tem me tirado um ralo bom humor matinal que tento diariamente melhorar. Estamos com preguiça de pensar. E com uma vontade imensa de xingar. Ah, e não me venha pôr a culpa nas redes sociais. Muito antes de invadirmos o Instagram da Marina Ruy Barbosa com adjetivos nada republicanos sobre a destruição da família brasileira, Edgar Morin alertava sobre “a simplificação e a rigidificação éticas”, que, diz ele, “conduzem ao maniqueísmo” e ignoram “compreensão, magnanimidade e perdão”. Imagino que ele sequer soubesse que usaríamos nossos elegantes smartphones com 32 GB de memória para formar juízos sobre conflitos alheios ao desenvolver o conceito de moralina – que ele admite ter pegado do Nietzsche e, convenhamos, é bem menos grave do que pôr canela no ovo. Morin talvez antevisse que, para além do crossfit, da água com limão e da intolerância ao glúten, a sociedade hipermoderna se apegaria mesmo à tal “moralina da indignação”, que, segundo ele, é aquela que, “sem reflexão nem racionalidade, conduz à desqualificação do outro”.
Vejamos outro caso, para além da separação Loreto-Nascimento. A senadora tucana Mara Gabrilli, do PSDB, uma parlamentar com atuação destacada ainda enquanto deputada em uma série de temas, em especial na defesa dos direitos das pessoas com deficiência, foi achincalhada nas redes sociais ao posicionar-se em favor da criminalização da homofobia. “Já passou da hora”, escreveu em post publicado em seu perfil nas redes sociais a respeito do julgamento no Supremo Tribunal Federal. “Pensei que você tivesse sido eleita para ser honesta”, disparou um. “Sério mesmo que vão ficar com essa putaria?”, esbravejou outro. “Pensei que você fosse lutar pelos direitos dos deficientes e não ficar dando pitaco onde não deve”, reagiu um terceiro. Desonestidade? Hein? Um parlamentar não deve dar pitaco sobre um tema discutido pela Suprema Corte? Pois o Supremo foi acionado justamente por causa da omissão do Congresso a respeito do tema. É do ofício parlamentar posicionar-se sem que alguém questione sua honestidade por conta disso.
Poderíamos adicionar outros episódios recentes ao cardápio moralinês. Há poucos dias, a apresentadora Sabrina Sato foi destruída por seguidores por sambar na Sapucaí poucos meses depois de ter dado à luz. Sobraram xingamentos até para quem postou – com boa intenção, creio – a hashtag #ForçaFlamengo.
E também pra Letícia Spiller, que foi defender a Marina Ruy Barbosa. Calma, gente. Empatia não pode ser tão ruim assim. Aposto que o gosto é menos esquisito do que o do tal ovo com canela.
Com todo o respeito, claro.