Matéria publicada originalmente em 15 de abril de 2008 (jornal Zero Hora)
Edgar Morin partiu do tema 1968-2008: O Mundo que Eu Vi e Vivi para traçar um diagnóstico completo do mundo no século 20, em sua palestra ontem à noite, no Salão de Atos da UFRGS.
O filósofo francês fez a primeira conferência do ciclo de altos estudos Fronteiras do Pensamento Copesul Braskem. O seminário deve trazer à cidade, ao longo de 2008, nomes do pensamento no campo das artes e da linguagem, como o cineasta Wim Wenders, o músico David Byrne e o cenógrafo Bob Wilson. Ontem à noite, Morin não se limitou a analisar o século 20, mas demonstrou as conseqüências dos processos políticos e culturais que ocorreram a partir da década de 1960 para a atualidade.
O autor de O Método tratou de estabelecer novas datas para os livros de História. Para ele, o século 20 teria começado em 1914, com a eclosão da I Guerra Mundial, e terminado em 1990, logo após a queda do Murode Berlim. A grande virada para o século, diz Morin, se deu no ano de 1977, quando Mao Tse-tung, ditador da China, desabava. O país, que muitos jovens da revolução de 1968 significava libertação, se tornaria opressor.
Segundo o filósofo, o declínio do marxismo significou "o fim da esperança" para uns e o "fim do desespero" para outros - os que viviam nos países de ditadura socialista. - Descobrimos então que o mundo não tem esperança. E 1989 foi apenas uma confirmação disso - afirmou Morin.
Os novos tempos surgidos a partir de 1990, para o filósofo, são marcados por duas globalizações. Uma mais flagrante e óbvia, a da mundialização do mercado, com o capitalismo se desenvolvendo mesmo nos países comandados por partidos comunistas.
- Na China, não há greves nem movimentos sindicais. O capitalismo gosta da China por isso - ironizou. A segunda globalização seria mais discreta, é a dos direitos humanos. Morin creditou o fim das ditaduras na América Latina a este fenômeno.
Outra conseqüência seria o que Morin chama de "a perda do futuro": - A convicção de que o amanhã será melhor do que hoje, que sempre existiu, parece que desde os anos 1970 já não é mais tão certa. A atual "crise do progresso", segundo o filósofo, advém de diversos fracassos: a ciência que ajuda, mas também faz armas, a economia que traz desenvolvimento, mas também instabilidade, entre outros. A tradução disso seria um mundo onde as religiões prosperam.
- Então resta a esperança no céu. Nós tivemos como verificar o fracasso da Revolução Bolchevique, mas no céu não podemos comprovar nada - afirmou Morin.