Homicídios, ameaças, expulsão de moradores de suas próprias casas e tráfico de drogas, entre outros crimes, atormentam moradores do Conjunto Habitacional Porto Novo (conhecido como Nova Dique), no bairro Rubem Berta, na zona norte de Porto Alegre, desde 2009, quando as primeiras famílias começaram a se instalar no local, após serem removidas da Vila Dique, nas imediações do aeroporto Salgado Filho.
Para combater a quadrilha responsável por submeter a comunidade ao clima de opressão, a Polícia Civil — em ação conjunta do Departamentos de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) — deflagou, na manhã desta quinta-feira (11), a Operação Comando Central, para o cumprimento de 89 mandados judiciais, sendo 32 deles de prisão.
Às 10h, na sede do Denarc, a chefe de polícia, Nadine Anflor, diretores do Denarc e do DHPP e os dois delegados que comandaram a operação, Thiago Bennemann, da 1ª Delegacia de Investigações (1ª DIN) do Denarc, e Cassiano Cabral, da 3ª Delegacia de Homicídios (3ª DHPP), apresentaram os resultados: foram presas 20 pessoas e apreendidos, cinco quilos de maconha, 300 gramas de cocaína, duas pistolas e um revólver.
A quadrilha é parte de uma facção criminosa que nasceu no bairro Bom Jesus, na Zona Leste. O nome da operação foi baseado no funcionamento e na estrutura do grupo, que, de acordo com a polícia, segue ordens e orientações de seu líder, identificado como Alexandre Rodrigues, o Gordo Alex, 38 anos, que está detido no Presídio Central.
A violência empregada pelo grupo, na avaliação dos delegados Bennemann e Cabral, pode ser medida em uma escuta feito no telefone de Gordo Alex. Do interior do Presídio Central, ele fala a respeito de seu filho, cujo comportamento não estaria lhe agradando, com um homem que estava na Nova Dique:
— Pode mandar quebrar, pode mandar quebrar, que eu que estou mandando. Se não adiantar, nós vamos dar um tiro na cara dele. Se f... que é filho, não está respeitando tem que matar — disse o líder, em um dos muitos áudios captados.
Pode mandar quebrar, pode mandar quebrar, que eu que estou mandando. Se não adiantar, nós vamos dar um tiro na cara dele.
GORDO ALEX, APONTADO COMO LÍDER DO TRÁFICO
Na fala, captada em escuta telefônica, o criminoso se referia ao próprio filho
Em outra ligação, Gordo Alex combinou com um integrante da quadrilha a execução de um homem. Um vídeo encontrado em um dos telefones apreendidos mostram dois criminosos tomando uma casa, após os proprietários terem sido expulsos.
Entre os bens deixados na residência havia refrigerador, freezer e televisão e muitas roupas. Os homens conversam sobre o que fazer com os objetos:
— Sabe o que nós vamos fazer com isso aqui? Nós vamos pegar, vamos esvaziar a baia, pegar uma hora um caminhão, um bagulho e vender. Claro, botar uma mixaria no bolso.
Em relação aos imóveis tomados, de acordo com a polícia, eram revendidos com os chamados "contratos de gaveta" ou utilizados como depósitos de drogas e de armas. Pelo menos 11 sobrados estavam nessa situação.
Chamou a atenção dos policiais, também, a forma debochada como, em outra gravação, Gordo Alex se referiu ao Presídio Central e à sua condição de preso.
— Tô nem aí se tiver no grampo, já tô preso mesmo. Tô de férias, cadeia é férias pra mim, se eles (polícia) soubessem a guerra que tenho na rua, me deixavam lá pra morrer de uma vez — diz.
Origem foi triplo homicídio
A Operação Comando Central resulta de oito meses de investigações. De acordo com o delegado Cabral, a origem foi a apuração de um triplo homicídio ocorrido no ano passado, no bairro Rubem Berta.
— Começamos a investigar e percebemos que havia ligação com uma investigação do Denarc — afirma Cabral.
Com base em escutas, foram identificados como participantes do crime, integrantes da quadrilha da Nova Dique.
— Em fevereiro, houve a prisão de dois gerentes em uma linha de produção do tráfico e, a partir daí, se identificou a existência do grupo bastante organizado — explica Bennemann.