As características do ataque que deixou três mortos na noite de segunda-feira (4), no bairro Rubem Berta, na Zona Norte, são indicativo para a polícia de que os motivos do crime são ligados à guerra do tráfico. Principalmente, o fato de ter sido uma chacina — a sétima do ano em Porto Alegre. Contudo, a delegada Luciana Smith, titular da 5ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, que comanda as investigações, mantém a cautela em relação a isso.
— Ainda não sabemos ao certo o motivo, embora possa parecer disputa de tráfico — disse.
As execuções ocorreram por volta de 20h30min de segunda-feira, na Avenida Adelino Ferrereira Jardim. Um grupo de encapuzados chegou ao local identificando-se, aos gritos, como se fosse da polícia e, sem esperar resposta, começou a atirar. Além dos três mortos – com idades presumidas entre 20 e 25 anos — outras duas pessoas foram baleadas. Levadas ao Hospital de Pronto Socorro, seguem internadas nesta terça-feira (5).
O avanço das apurações esbarra nas dificuldades de identificação da das vítimas. De acordo com o diretor de investigações do Departamento de Homicídios da Polícia Civil, delegado Gabriel Bicca, agentes que estiveram no local do crime o descreveram como área de moradias improvisadas.
— Pareceu um típico local de usuários de drogas, com pessoas perambulando. É possível que, por essas características, pode ter sido confundida com uma boca (de vendas de drogas) por um dos grupos ligados ao tráfico — disse Bicca.
De acordo com o delegado, outras dificuldades são a falta de testemunhas e a chamada "lei do silêncio".
— As poucas pessoas que aceitam falar pouco sabem a respeito. Inclusive, até agora (tarde de terça-feira) não apareceu ninguém que soubesse informar quem eram as vítimas.
Até mesmo os detalhes do crime eram desconhecidos por moradores da região. Quando a Brigada Militar foi acionada, na noite de segunda-feira, a comunicação era de que uma pessoa havia sido morta. Quando os policiais militares realizaram a varredura, descobriram outros dois corpos.
Chacinas
A principal característica do ataque e que aumentam as suspeitas de que o motivo esteja ligado ao tráfico de drogas é o fato de ter sido uma chacina, a sétima do ano em Porto Alegre, e a segunda no bairro Rubem Berta. No ano passado, até o dia 4 de junho, havia ocorrido uma única, com quatro mortes. Em 2016, ano recordista em número de homicídios nesta década, haviam sido três, com nove vítimas no total. Em 2018, 23 pessoas já perderam a vida em crimes em homicídios múltiplos na Capital.
Para uma autoridade do Poder Judiciário, esse dado representa a mudança na forma de agir das facções criminosas, que trocaram as sequências de homicídios, as mortes por esquartejamentos ou decapitações, como forma de demonstração de poder e amedrontamento, por chacinas, nas quais é usado armamento mais pesado e que têm como objetivo banir ou aniquilar os rivais.