Na contramão dos casos de homicídios, que nos primeiros cem dias deste ano sofreram significativa queda (46%) na comparação com o mesmo período de 2017, as ocorrências de chacinas em Porto Alegre tiveram alta: de uma para cinco em 2018.
Desde 2011, quando a editoria de Segurança de GaúchaZH e Diário Gaúcho começou esse levantamento, não havia ocorrido mais do que um assassinato múltiplo (a partir de três vítimas). De um total de 142 mortos na Capital neste ano, 17 morreram em casos de chacinas. O percentual é de 12%. Em anos anteriores, nesta década, esse índice havia variado entre zero e 3,6%.
Para uma autoridade do Poder Judiciário que prefere não ser identificada, esse dado representa a mudança na forma de agir das facções criminosas. Sequências de homicídios, mortes por esquartejamentos ou decapitações, como forma de demonstração de poder e amedrontamento deram lugar às chacinas, nas quais é usado armamento mais pesado e que tem como objetivo banir ou aniquilar os rivais.
– Até pouco tempo, fuzis eram ostentados como símbolos de poderio. Hoje, são usados na guerra que visa a abrir caminho exterminando inimigos – analisa.
Segundo a mesma fonte, a exigência de armas automáticas, cujo custo, no contrabando, é alto, está provocando seleção natural entre as facções: as três mais organizadas e poderosas se firmaram dentro e fora das prisões, enquanto que as demais, para continuarem existindo, são obrigadas a buscarem alianças ou se deixarem ser absorvidas pelas maiores.
Um dessas armas automáticas foi utilizada na primeira chacina do ano na Capital. Era sábado, 13 de janeiro. Por volta de 6h30min, duas pessoas que estavam sentadas em um banco no canteiro central da Avenida Faria Lobato, bairro Sarandi, na Zona Norte, foram alvejadas pelos ocupantes de um carro que passou pelo local. Menos de um quilômetro à frente, na Avenida 21 de Abril, os mesmos atiradores feriram uma jovem de 23 anos e mataram dois homens.
– Parecia metralhadora. Um barulho muito intenso – descreveu uma moradora das proximidades.
Morreram Castor Ezequiel Pinto, 17 anos, Tadeu Borba Araújo Júnior, 33, Eric Anderson Oliveira, 19, e Mateus Alexandre do Eri, 19.
– É a lógica dos atentados. As facções diminuíram a frequência dos homicídios, mas aumentaram a intensidade. Tipo: vamos fazer uma ação mais forte para pegar mais gente – explica o diretor de investigações do Departamento de Homicídios, Gabriel Bicca.
O delegado lembra ainda que as disputas por territórios com pontos de tráfico continua sendo o pano de fundo das mortes, principalmente nos casos de chacinas. Como na ocorrida na Vila Maria da Conceição, no Partenon, em 30 de janeiro. Durante a madrugada, grupo de criminosos invadiu uma moradia, retirou três pessoas e as executou na rua. Segundo o que apurou a polícia, o alvo seria uma das vítimas, Marlon Adilson Martins, 20 anos. Ele teria “trocado de lado” ao passar a integrar o grupo que assumiu o controle do tráfico naquela vila em agosto de 2017:
– É o contexto de disputa entre facções rivais. Nesse caso não foi diferente. É a guerra do tráfico – diz o delegado Rodrigo Reis, titular da 1ª Delegacia de Homicídios da Capital, responsável pela investigação.